Eu não tenho como expressar em palavras a imensidão de sentimentos que a República Rebelada de Palmares me causou durante a leitura." Teixeirinha Alves
Por obra e graça do amigo poeta
Gilberto Cardoso, chegou-me às mãos o extraordinário livro “O Romance da Besta
Fubana”, do pernambucano Luiz Berto. Obra fantástica (com todas as acepções
dessa palavra!), que revela alegórica e realisticamente nossas mais profundas
raízes nordestinas, nosso jeito religioso e profano de ser e existir no mundo.
Encantaram-me os principais
personagens, todos no mesmo nível (ou em patamar superior) dos criados por
gênios como Ariano Suassuna, Guimarães Rosa, Machado de Assis,... Ei-los:
Zé
da Ferida: Esmoler de profissão; seguidor ferrenho dos
ensinamentos do Cristo e de seus santos; pregador contumaz, visando mais à
salvação das almas de seus ouvintes nas feiras do que as esmolas que sustentam
Maria Banga (sua esposa louca, vidente e santa-viva) e sua penca de filhos.
Chico
Folote: Cego afamado; harmoniosamente místico e profano;
líder de bordel e consumidor voraz das mais antigas profissionais do mundo.
Homem que virou santo,... e virou rei.
Telles
Júnior: Estereótipo do intelectual do interior; mistura
perfeita de premonição divino-astrológica e empirismo científico; solitário e
meditador, sabendo que é, sem precisar de autopromoção, o mais iluminado no
meio da plebe rude e dos intelectuais medíocres do lugar.
Natanael:
Viajante vivido e sagaz; sabedor de tudo; polivalente e namorador; líder
natural (“comandante” dos comandantes); negociante sabido e embromador.
Joaquim
Sapateiro: Militante marxista; vocacionado para a Revolução e
a Ditadura do Proletariado; sofrido das mãos dos reacionários e da polícia
política; idealizando transformar o município de Palmares-PE, palco dessa
história, numa Moscou brasileira e comunista.
Amara
Brotinho: Dama no bordel e nos altos escalões do poder;
“fera” na cama e na liderança de seu povo; um coração valente e amoroso ligado
a um sexo sempre aceso.
Toda essa trupe (e muitos outros)
voltada e preparada para o Reino da Besta Fubana, que está por vir. Em
peripécias que fazem o leitor “bolar” de rir, vai desenhando a bela geografia
humana do Nordeste, no ano de 1953, tendo como epicentro a Zona da Mata
Pernambucana.
Revolta das quengas, insurreição dos
pequenos comerciantes, guerra à Madre Igreja; tudo isso expressando a força, a
fé, a hilaridade e o jeito peculiar de o nordestino enfrentar a vida e o mundo,
revelando um novo povo, uma nova sociedade.
Obra profunda e culta, que trata das
necessidades do corpo e das indagações da alma. Para se ler devagarinho,
saboreando cada passagem, cada linha,...
Chegará o dia em que esse livro será
convertido em produção cinematográfica e/ou seriado televisivo, para deleite de
todos e felicidade geral da Nação e da Arte. Viva a Besta Fubana! Viva a
genialidade de Luiz Berto!
TEIXEIRINHA ALVES
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