domingo, 23 de dezembro de 2012
O NATAL DO SERTÃO - Hegos
I
Minha gente nordestina
Com licença pra eu falar
Dessa festa natalina
Inventada pra lembrar
Do Senhor Jesus menino
Que nasceu pra nos salvar
II
O festejo é cristão
De origem estrangeira
E conserva a tradição
Que não é bem brasileira
Pois no conto de natal
Tem trenó, rena e geleira
III
Pois conforme a tradição
Nessa noite de Natal
Aparece um véi barbudo
Do espaço sideral
De cabelo mei comprido
Bem branquin da cor de cal
IV
Traz um saco sobre os ombros
De bascui bem carregado
Com uma touca na cabeça
E vestido de encarnado
Com um sino balançando
Só tu vendo o arrumado
V
Também fala a tradição
Que esse véi dá de presente
Brinquedos pra molecada
Para rico e pra carente
E que vem realizar
Os sonhos de muita gente
VI
Chama-se Papai Noé
O barbudo de encarnado
Que é um velhinho muito bom
Um mito que foi inventado
Pra cultura do consumo
E dar lucro ao mercado
VII
Mas o povo do Sertão
Do Nordeste brasileiro
Não tem tempo pra sonhar
Pois só quer comer primeiro
Que a chuva caia sempre
Pra molhar o seu terreiro
VIII
Que as crianças do Sertão
Sejam todas assistidas
De que valem esses presentes
Se elas vivem desnutridas?
É o mesmo que ter pratos
Mas vazios, sem comidas
IX
Que esse tal Papai Noé
Disso fique consciente
Se ele quer presentear
Esse povo que é carente
Atenda as necessidades
Do Sertão urgentemente
X
Que não deixe de trazer
A justiça social
Pra o Sertão ser mais humano
Onde o bem supere o mal
Pois o pobre é também gente
Que merece trato igual
XI
Pra o matuto do Sertão
Digo pra o Papai Noé
Dê-lhe a chuva de presente
Já que o peste bota fé
Noutro cabra lá de riba
Que é santo São José
XII
Pras mulheres sertanejas
Bote nelas mais juízo
Evitando ter mais bucho
Mais menino e prejuízo
Pro Sertão que tem miséria
Onde o povo vive liso
XIII
Tire a terra da ganância
Das mãos dos assassinos
Que expulsam agricultores
As mulheres e meninos
Pois enquanto há latifúndio
Ficam os pobres sem destinos
XIX
Dê aos homens do governo
Mais vergonha e vontade
Política pra resolver
Sem favor nem falsidade
Os problemas do Sertão
Pela santa caridade
XX
Que o Senhor, Papai Noé
Venha logo preparado
Pra agüentar insolação
Secura pra todo lado
E beber água barrenta
De um pote todo enlodado
XXI
Não se espante com a comida
Pois farinha é um bom sustento
Misturada com feijão
Só tem isso de alimento
Vez por outra uma batata
Pra peidar bem fedorento
XXII
Se o Senhor for ruim do bucho
Não se esqueça do doutor
Pois Sertão tem rezadeira
E um chazin pra toda dor
Se o problema é caganeira
Lá no mato é o cagador
XXIII
É o retrato do Sertão
Que o Senhor deve saber
Mas por certo não se importa
Nem procura se meter
Com a miséria desse povo
Que não tem o que comer
XIV
Mas gostar de gente pobre
Né vergonha não senhor
Pois Jesus nunca foi nobre
E tornou-se o Salvador
Hoje é Rei da humanidade
Seu presente foi amor
XV
E assim pra terminar
Pense nisso com razão
Que natal pra nordestino
Tem respeito à tradição
Mas também quer ver o povo
Ser feliz lá no Sertão
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Parabéns, Hélio!
ResponderExcluirMuito bacana.