Carlos Drummond de Andrade e Manuel Bandeira bancaram os livros de estreia, enquanto poetas contemporâneos apostam em pequenas tiragens
O poeta e editor Mário Alex Rosa diz que há preconceito em relação à poesia em algumas editoras |
Carlos Drummond de Andrade tinha 28 anos quando conseguiu publicar seu primeiro livro, Alguma poesia, em 1930. A edição modesta de 500 exemplares, paga pelo próprio autor, trazia os antológicos poemas “No meio do caminho” e “Quadrilha”. Com Manuel Bandeira não foi diferente. Em 1917, o pernambucano também pagou a edição de seu livro de estreia, A cinza das horas. Ferreira Gullar não teria estreado se não fosse a ajuda da mãe. O segundo livro ele pagou do próprio bolso. “Com poesia é assim mesmo”, declarou certa vez o autor do “Poema sujo”.
Bancar o próprio livro ainda é comum – até natural diante das dificuldades desse gênero literário para se tornar comercial. Poetas costumam produzir as chamadas edições marginais, com tiragem limitada de 50 ou 100 exemplares, para testar o mercado.
“A ideia de produzir um livro mais artesanal sempre existiu. Depois, se der certo, poetas procuram uma editora para lançar edição maior, com 500 ou 1 mil exemplares. Grandes autores brasileiros começaram na poesia, como o Mario e o Oswald de Andrade, o Drummond e o Bandeira. Esses últimos continuaram e se deram bem”, afirma o escritor Mário Alex Rosa, da Editora Scriptum, que tem apostado bastante em poesia.
Rosa acredita que há má vontade do mercado em relação ao gênero. A ideia de que poesia não vende e que as editoras não a publicam traz certo preconceito, acredita ele. “Parece que não temos grandes poetas ou tradição na área, mas isso não é verdade. Muitas vezes, a poesia é até mais forte que a prosa. Uma não é mais difícil ou melhor que a outra, mas a poesia pode parecer hermética e os leitores têm mais dificuldade em entender ou gostar”, pontua.
Preconceito A poetisa e artista plástica Michelle Campos acredita em preconceito com relação à poesia, principalmente por desconhecimento. “Convivo com o pessoal da cultura, e quase todo mundo se interessa pelo tema. Porém, entre os jovens não é algo tão habitual, porque não a conhecem. Mas há mercado, caso contrário não existiriam tantos poetas por aí”, declara.
Com vários livros publicados, Adriano Menezes diz que as editoras não se interessam por poetas, principalmente os inéditos – salvo honrosas exceções. Segundo ele, o grande público não faz fila para comprar poesia e o livro é basicamente vendido no lançamento. O principal problema, observa, é o dia seguinte. “O grande empecilho é a distribuição: ela é cara e há monopólio. Não adianta publicar como fetiche. Escrever e publicar têm razões muito diferentes. O que não pode é a poesia como coisa circular, ou seja, fechada em um infinito particular, o livro andar só pelas mãos de poetas. Ele tem de alcançar o público. No caso da poesia, ele é menor mesmo, mas está em algum lugar”, defende.
Dono da editora carioca 7 Letras, Jorge Viveiros, que começou a trabalhar com poesia em meados dos anos 1990, chama a atenção para a importância das pequenas tiragens. Naquela época, começavam a surgir máquinas de impressão eletrônica que funcionavam bem para o miolo dos livros. Porém, as capas ainda precisavam ser impressas no sistema tradicional. Hoje em dia, os equipamentos já dão conta de capas coloridas de ótima qualidade, observa.
“Do ponto de vista da arte literária e da criação de um catálogo de qualidade, vale muito a pena editar livros de poesia. Do ponto de vista comercial, é preciso ter em vista que esse gênero vende muito pouco. Portanto, requer abordagens editoriais criativas para equacionar custos. Quanto mais livrarias, bibliotecas e escolas surgirem, maior será o público leitor e, por conseguinte, o mercado. A poesia circula com facilidade por todos os tipos de público, basta ver os recitais promovidos pelos poetas”, diz Viveiros. A questão principal, pondera, é a da arte literária. “Sempre haverá algum mercado para ela”, conclui o dono da 7 Letras.
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