quarta-feira, 18 de julho de 2012

A VIDA, O JOGO E A GUERRA - Antoniel Medeiros





O jogo imita a guerra e a guerra imita a vida, e vice versa. O xadrez é um dos jogos mais antigos da humanidade, porém é um interessante meio para representar a sociedade de hoje, de maneira que cada peça é suficiente para simbolizar um grupo de pessoas através de suas funções e ambições no jogo.

Os peões são homossexuais – não poderíamos começar com uma polêmica maior – soldados “machões”, têm o sonho nababesco de se transformarem na rainha do reinado. O único meio bastante para tanto é chegar ao outro lado do tabuleiro e, ao som de “I Will Survive”, se caracterizar em rainha. Este memorável acontecimento ocorre, geralmente, quando há pouquíssimos espectadores: a rainha titular e os bispos já têm morrido, não estando no local para testemunhar e reprovar a transformação. Além do mais, os próprios movimentos dos peões os denunciam: ora, são os únicos que comem os outros com um movimento diferente do seu habitual. Enfim, são cheios de “frescuras”. 


Por falar em movimento, o rei, esposo da rainha, também é homossexual. Seus movimentos também o denunciam. Isso de ficar de casa em casa dando saltos suaves enquanto é atacado também é bastante suspeito. Ora, por que acham que os peões querem se transformar em rainhas? O motivo não se limita às regalias do reinado não. Na verdade, os peões devem ter algum caso secreto com o rei.



Os bispos, sempre apegados aos dogmas religiosos, são sempre previsíveis. A piedade cristã e a falta de prática nas guerras (faz tempo que a Igreja não protagoniza uma guerrinha) faz do bispo o personagem mais ineficiente dentre os grandes, com exceção do rei, obviamente. Além do mais, a Igreja tem perdido poder a muito tempo, o que também contribuiu para a perda de poderes da autoridade eclesiástica.
Quanto aos cavalos, ao contrário das eminências, são bastante imprevisíveis. A força empreendida pelo animal faz com que este possibilite um leque imenso de possibilidades de ataque, muitas vezes desprezadas pelo exército adversário. O mais interessante é que todos eles, além de capacitados para a guerra, são cavalos treinados para o hipismo: pulam muito bem os obstáculos. Isso serve de lição: que o homem não subestime a capacidade dos animais!

As torres são frutos da imaginação do inventor do jogo. Vejo que quando o xadrez estava sendo criado, seu criador pensou: “e se as torres andassem?!”. Na realidade, o nome da peça deveria ser “meia rainha medrosa”. Meia rainha por que, com exceção da direção diagonal, faz todos os percursos feitos pela toda poderosa. Medrosa por que fica no canto, aguardando que mais da metade do exército se exploda, e que o inimigo se enfraqueça, para que possa atacar.

Por fim, a rainha demonstra a independência feminina. Embora tenha, às vezes, que dar a vida pelo rei, a dama é totalmente livre e desembaraçada de seu marido. É forte e soberana, e desta forma, tenta não se deixar abalar pelas traições do rei.

Termino esta análise sociológica sobre os personagens do jogo com o justo acontecimento que mais faz com que este se assemelhe à vida real. Trata-se do que dito em um provérbio italiano que preceitua o seguinte: “no fim do jogo, o rei e o peão voltam para a mesma caixa”.


2 comentários:

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