domingo, 13 de maio de 2012

NA SOMBRA DO TAMARINDEIRO - Cleudia Bezerra Pacheco


 
Foi inaugurado em Patu, no dia 6 de maio próximo passado, o Museu Dona Francisca, no Sítio Escondido. Um evento de muitas emoções e recordações. Os oradores não conseguiam segurar as lágrimas e, às vezes, as palavras não saiam. Eram recordações de um passado, onde várias famílias, ali representadas, lembraram-se da época em que lá moravam. O Museu está instalado numa bonita casa de pedra construída em 1850 quando ainda havia escravidão. A casa resistiu ao tempo e por meio da memória social é possível reconstruir experiências vividas por pessoas cujas memórias ficavam à margem da história.
A casa foi edificada sobre um lajedo, relevo comum na região, para que as formigas não entrassem. São paredes largas com alguns buracos os quais, pela história oral, sabe-se que eram para colocar armas para se defender dos índios e cangaceiros. Mas será que também não era para ventilar aquele ambiente escuro da casa “que de pedras fez o seu ninho” (poema de Gilberto Cardoso)?
As emoções foram dominando logo ao amanhecer o dia quando os pássaros cantavam uma “sinfonia” para eu acordar. Que saudades da fazenda Boa Hora onde vivi minha infância! Depois, já na solenidade da inauguração do Museu, não consegui segurar as lágrimas quando a Banda de Música tocou um dobrado que tanto ouvi nas festas da Padroeira de Santa Cruz, Santa Rita de Cássia, ocasião em que mamãe organizava a noite do agricultor e, às 5 horas, a Banda de Música fazia sua retreta acordando toda a cidade e eu corria para a calçada ou ficava olhando pelas brechas das janelas vendo a “Banda Passar”.
Foram vários os oradores que falaram da importância do Museu para a história e para preservar a memória da comunidade do Sítio Escondido e das famílias Leão, Ferreira, Belarmino e outras. De parabéns está o Dr. José Aderson Leão que, ao organizar o Museu da Casa de Pedra, demonstrou a sua sensibilidade em não deixando que a história fosse esquecida. É uma pessoa amante da cultura que sabe o valor de preservar a história para que as novas gerações compreendam que o povo sem memória é um povo sem passado, presente e futuro e não vai ter história para contar. O Museu veio para acessar no presente a memória do passado
Em Patu, com certeza, a memória está sendo preservada porque lá encontrei a Estação Ferroviária recuperada, uma linda Banda de Música constituída por jovens, ruas limpas e organizadas naquela paisagem formada por um conjunto de inselbergs que molduram a cidade. Que lindo... É uma maravilha da natureza.
É necessário registrar que, naquela ocasião, recebi de presente peças para compor o acervo do Museu Auta Pinheiro Bezerra da Fazenda Boa Hora em Santa Cruz, dos senhores José Pinheiro Bezerra, de Apodi; de José Ernesto Ferreira conhecido por Zé Doido, de Patu; e de Francisco Jorge, de Santa Cruz.
Há também que se destacar os lindos poemas recitados pelos meus amigos poetas Gilberto Cardoso dos Santos e Hélio Crisanto, durante a inauguração
              Emocionante e surpreendente foi a atitude de Dona Eurides, 82 anos, mãe do Dr. Aderson, ao sair do seu lugar e vir me abraçar no final das minhas curtas palavras. Aquela senhora, de uma lucidez invejável, entendeu a mensagem que passei e as mesmas emoções que ela estava sentindo eu também senti quando inaugurei o Museu da Família Bezerra em Santa Cruz. Também me comoveu a atitude de uma adolescente ao querer tirar uma foto comigo para recordar no futuro daquele momento histórico e inesquecível.
O Museu será uma instituição cultural de muito destaque não só para Patu como para a Região e para o Estado do Rio Grande do Norte.
Com as transformações sociais, o desafio do Museu Dona Francisca é refletir sobre o seu papel que é de conector, ponte entre a lembrança e o esquecimento; o individual e o coletivo; o que se é, se foi e se pretende ser.
É importante evidenciar que toda a solenidade de inauguração do Museu da Casa de Pedra aconteceu na SOMBRA DO TAMARINDEIRO... Local de novas inspirações e perspectivas para o futuro da comunidade.

Natal (RN), 08 de maio de 2012.

2 comentários:

  1. Imagino Dona Cleudia, a emoção sentida naquele momento. Só em lê a sua descrição fiquei emocionado. Parabéns pelo brilhante texto.

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