segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

SÓ SEI QUE NADA SEI! - Nailson Costa


Tudo no começo são flores, ou quase isso, quando fazemos o que gostamos. No início
de minha docência, lá pelos idos de 1982 a 1989, nutria uma forte repugnância pelo
capitalismo. Nesse período, vivia eu a devorar compêndios comunistas, anarquistas,
socialistas etc., etc., etc. e Engels, Trostsky, Marx, Frei Beto, Leonardo Boff,
Paulo Freire, Florestan, Chauí e outros eram meus amigos e teóricos do peito. E o
socialismo passou a ser a minha única praia, minha única, verdadeira e principal
verdade. Imaginem a minha prática em sala de aula nas disciplinas de Sociologia,
Língua Portuguesa, Literatura e Redação, bastante tendenciosa, não?!!! Eu tinha
certeza de que mudaria o mundo! Louvado seja a força da juventude! Rejeitava os
livros didáticos “democraticamente” indicados, escolhidos e nos enfiados goela
abaixo pelo governo. Trazia eu os textos que melhor se adequassem àquelas verdades
arrogantemente minhas. E essa alienação de esquerda passara a ser a minha resistência
aos discursos imperialistas, tão presentes na educação de meus tempos. Fui um
guerreiro fortemente armado com as armas teóricas de minhas assertivas. E o poema
a seguir O CALDEIRÃO DO DIABO, redondilhazinha maior, mal escrita em 1986,
ilustra, caricaturalmente, um pouco das trincheiras de minhas renhidas batalhas contra
aquele que eu julgara um poderoso inimigo, o capitalismo. Hoje não tenho mais a ilusão
de que o socialismo seja a solução da humanidade. Hoje, com toda certeza, o socialismo
não é mais a minha única praia, a minha única, verdadeira e principal verdade,
sobretudo quando vejo as bandeiras socialistas de Cuba, da Venezuela, da Coréia do
Norte e da China tingidas com as cores vermelhas do sangue, da pobreza, da corrupção
e da opressão de seu povo. Não foi desse socialismo que tanto falei em sala de aula. Não
foi esse socialismo que receitei aos meus pupilos. Hoje não luto por nada mais, e faço
minhas as belas palavras do meu grande amigo e craque da bola filosofal, Sócrates, que
sussurrara em meus ouvidos, bem baixinho, pra que ninguém mais ouvisse, “Só sei que
nada sei!”

O CALDEIRÃO DO DIABO

Veja meu caro estudante
Que tamanha obrigação:
Apagar o fogo ardente
Que esquenta o caldeirão
E ferve com tanto furor
Queimando o trabalhador
E o expulsando feito um vulcão.

Depois de bem queimadinho,
Despejado e humilhado,
O trabalhador sem forças,
Com fome, desempregado,
Por baixo vê o caldeirão
Que do burguês é a viração

E a exploração do desgraçado!
Ao estudante consciente
E com desejo de mudar,
Tire o caldeirão do fogo
Que o fogo se apagará!
Cuidado com a burguesia
Que não vê simpatia
O seu jogo se acabar!

O caldeirão ao qual me refiro
É a exploração suja e danada!
O fogo é o injusto sistema
Que de humano não tem mesmo nada!
Trapaceiro, corrupto, infiel,
Frutos do capitalismo cruel
Massacrando uma classe honrada!

A você vai o convite
Dum humilde professor,
Pra organizar nossa luta
Em prol do trabalhador!
E com muita decisão
Explodiremos o caldeirão
Que o diabo inventou!

3 comentários:

  1. Nailson,

    Também acreditei nessa bobagem de Socialismo (hoje dou muitas autorrisadas "mangando" de mim mesmo). Agora torço por um Capitalismo cada vez mais distributivo; afinal ele ainda é a melhor opção que encontramos!
    Parabéns pelo excelente texto!

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  2. A extrema esquerda e a extrema direita só nos trouxeram sofrimento, dor. Uma lição para que não caiamos novamente em tão desastrosa cilada.

    Acho uma tristeza você não lutar por mais nada,mas...direito seu.

    Aqui vai um bom texto para pensarmos essas questões:

    http://bulevoador.haaan.com/2011/01/19745/

    Abraços.

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  3. Grande Teixeirnha, o Grande! Muitíssimo obrigado pelo comentário. Ao ilustre Diogenes Fagner, também obrigado pelo comentário. Na verdade quando disse "...não luto por nada mais..." referimo-me à política. Deixo essa parte para você, que é jovem, e com ideias melhores que as minhas de outrora. Já apanhei muito por causa de política. Você não imagina o quanto perdi por optar pelas estradas da política! Caro amigo, sem querer ser egoista, hoje só quero sombra, mel e água fresca. Repito, sem egoismos, mas não tenho mais pique para as lutas. No meu entender, o maior lutador da nossa região foi Maurício Anísio. Ele hoje pensa exatamente como eu, veja sua entrevista aqui neste canal. Em todo caso, torço por você e vocês que ainda estão na luta, afinal, ainda precisamos avançar muito. Um abraço!

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