quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

Catolé do Rocha Tem o Menor Índice de Mortalidade Infantil da Paraíba

Foto: Epitácio Andrade (Placa de sinalização de acesso a Catolé do Rocha)
O município de Catolé do Rocha, que polariza uma das mais pobres regiões do sertão nordestino, apresentou o menor índice de mortalidade infantil da Paraíba. De agosto de 2009 a julho de 2010, 698 bebês com menos de um ano de idade morreram nos municípios paraibanos. O número representa 3,21% do total de 21.685 mortes registradas no mesmo período, referente a pessoas de todas as idades no Estado. O índice percentual paraibano é inferior ao nordestino (4,1%) e ao nacional (3,39%).

As informações foram reveladas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) como resultado do levantamento inédito do Censo 2010 em que a população deu informações sobre óbitos na família. Na Paraíba, o município paraibano que apresentou o maior índice de mortalidade de bebês, diante do total de óbitos, foi Joca Claudino, no Sertão do Estado, com 25%. Em seguida vem a cidade de Lucena com 18,37%; Riachão (17,65%); Carnaúbas (14,81%) e Curral Velho (14,29%), municípios localizados em microrregiões não-sertanejas.

                               Foto: Epitácio Andrade 
Antiga Maternidade Silva Mariz

Segundo o médico sanitarista Epitácio de Andrade Filho, que é natural de Catolé do Rocha, município que registrou o menor índice com 0,69% do total de óbitos representando bebês, seguido por Coremas (0,97%), Ingá (1,14%); Uiraúna (1,19%) e Pombal (1,21%), o DATASUS do Ministério da Saúde vem apontando uma tendência de declínio do coeficiente de mortalidade infantil para a microrregião do Catolé do rocha desde o ano 1998.

                               Foto: Lilian Holanda 
Pediatra Fabrício e Psiquiatra Epitácio em evento cultural

Para o médico pediatra Fabrício Formiga, vice-prefeito de Catolé do Rocha, participando do lançamento do livro “A Saga dos Limões – Negritude no Enfrentamento ao Cangaço de Jesuíno Brilhante”, do médico psiquiatra Epitácio Andrade, afirmava que o município vivenciava um bom momento de desenvolvimento social, com melhorias importantes na qualidade da assistência materno-infantil, que indubitavelmente, impactaria na conquista deste indicador de saúde.

                                         Foto: Epitácio Andrade 

Qualidade de vida em Catolé do Rocha

A afirmação do Vice-prefeito Fabrício Formiga é ratificada pela Secretária Municipal de Saúde Emanuelle Xavier que atribui a conquista do indicador à qualidade da atenção básica de saúde. Segundo revelam os dados do IBGE, em números absolutos, João Pessoa foi a cidade paraibana que registrou a maior quantidade de óbitos de bebês, com 89 casos, acompanhada por Campina Grande (60), Santa Rita (33), Guarabira (18) e Bayeux (16).

                               Foto: Aluísio Dutra 

Sindicalista Pola Pinto e Psiquiatra Epitácio Andrade

Genésio Pola Pinto, Representante da Federação dos Trabalhadores da Agricultura Familiar (FETRAF), com atuação na fronteira potiguar, ressaltou que o incremento de atividades produtivas no meio rural, na última década, colaborou, decisivamente, para a melhoria da qualidade de vida do povo sertanejo. Lucicláudio Bezerra, habitante da cidade de Santa Cruz/RN, em viagem turística pela microrregião do Catolé do Rocha, sentiu-se maravilhado com “a visão de um campo de feijão irrigado”.

                               Foto: Epitácio Andrade
Igrejinha e Serrote na saída para Patu/RN

Num passado não tão distante, os anos 90 do século XX, a chamada “década perdida”, quando a concepção místico-religiosa “explicava” os alarmantes índices de mortalidade infantil no nordeste brasileiro, era comum o soar rápido dos sinos das igrejas anunciarem com freqüência enterros de “anjinhos”, que eram conduzidos até em telhas para as sepulturas, lembra o sindicalista Pola Pinto.

                                        Foto: Epitácio Andrade 
Igreja N. S. Remédios – Catolé do Rocha/PB
Setores da própria igreja católica apontaram os caminhos para a superação da concepção místico-religiosa que “explicava” a mortalidade infantil como “natural”. O desenvolvimento das comunidades eclesiais de base (CEBs) e a criação das pastorais da criança e da saúde, tendo como personalidade emblemática a médica pediatra Zilda Arns, trouxeram elementos teóricos que explicaram, criticamente, o fenômeno da mortalidade dos bebês, e produziram intervenções práticas, como a educação das gestantes, o estímulo ao aleitamento materno, o uso do soro caseiro, dentre outras relacionadas a articulação interinstitucional com o campo educacional, que resultaram na melhoria da qualidade de vida das populações marginalizadas.

                                          Foto: Epitácio Andrade 

Pedagoga Maria Celi Barreto
O papel da educação do povo catoleense, na conquista do menor índice de mortalidade infantil da Paraíba, pode ser entendido a partir do exemplo de dedicação à causa pedagógica da professora Maria Celi Barreto, filha do escritor Alicio Barreto, autodidata autor de “Solos de Avena”, o mais raro livro sobre o cangaço na região do Catolé do Rocha e fronteira potiguar.

                               Foto: Epitácio Andrade 
Colégio Francisca Mendes – Catolé do Rocha/PB
Nos anos 50 do século passado, a professora Maria Celi Barreto lecionava no Colégio Francisca Mendes, uma das mais tradicionais instituições de ensino do sertão paraibano, e no ano de 1981 foi uma das concluintes da primeira turma do curso de pedagogia do campus universitário de Patu, no vizinho estado do Rio Grande do Norte, para onde se deslocava, diariamente, percorrendo uma distância de mais de 30 km.

                                         Foto captada de “Folha Patuense” 
Aluísio Dutra e Edvaldo Caetano
Uma década após a conclusão da primeira turma de formandos do campus universitário de Patu/RN, foi a vez do atual Prefeito de Catolé do Rocha Edvaldo Caetano enfrentar o sacrifício para galgar o grau superior de estudo, cursando ciências contábeis, na mesma universidade, percorrendo diariamente a mesma distância, como lembra o professor universitário Aluísio Dutra de Oliveira.

                              Foto: Epitácio Andrade
Palmeiras “Pati” em Catolé do Rocha/PB
Um trecho de “A Saga dos Limões”, do catoleense Epitácio Andrade, sela a relação semiótica Patu-Catolé... “No Santuário Ecológico do Lima se encontra uma das últimas reservas da palmeira do coco - catolé, que segundo o pesquisador indigenista Aucides Sales, a árvore se chama “pati”, de onde vem o nome Patu. No Lima se evidencia o recurso semiótico que une os dois principais cenários do cangaço dos Brilhantes com os Limões: a palmeira que deu origem ao nome Patu e seu fruto, o coco Catolé”.

Os cenários a que se refere o escritor do cangaço constituem os municípios de Patu, no Rio Grande do Norte, e Catolé do Rocha, na Paraíba, principais epicentros do fenômeno geohistórico ocorrido na segunda metade do século XIX, no oeste potiguar e fronteira paraibana, que deu conformação ao maior conflito cangaceiro registrado nos estados da Paraíba e do Rio Grande do Norte, envolvendo os bandos dos “Brilhantes” contra os “Limões”.

                               Foto: Epitácio Andrade 

Fachada Frontal do Colégio Francisca Mendes
Mais de um século após o conflito cangaceiro, os dois municípios voltam a se relacionar intimamente, desta vez para integrar seus sistemas educacionais. Segundo o professor universitário Aluísio Dutra, que já foi secretário de educação de Patu, “o número de estudantes universitários de Catolé do Rocha no campus universitário de Patu já foi mais significativo. Hoje não chega a 10%”.

Por outro lado, “o número de estudantes de Patu que se desloca diariamente a Catolé do Rocha, em busca do ensino fundamental, médio e profissionalizante, tem aumentado, consideravelmente, nos últimos anos”, afirmou o ex-secretário municipal de educação Aluísio Dutra de Oliveira.

                                Foto: Mário de Andrade 

Essa busca incessante por educação não poderia deixar de contribuir com a conquista do indicador de saúde que marca o menor índice de mortalidade infantil da Paraíba. “O povo catoleense tem determinantes históricos para sua elevada consciência crítica: no ano de 1929, recebeu a visita do escritor modernista Mário de Andrade na sua viagem etnográfica pelo nordeste”, informa o pesquisador social Epitácio de Andrade Filho.

                              Foto: Robson Paulista 
Secretário da cultura Chico Cesar recebendo pesquisador Epitácio Andrade
A pujança cultural de Catolé do Rocha também pode ser sintetizada na história da personalidade de um de seus nativos: o cantor, compositor e jornalista Francisco Cesar Gonçalves, “Chico Cesar”, que atualmente ocupa o cargo de secretário de estado da cultura da Paraíba.

De Chico Cesar veio a iniciativa pessoal de organizar a sua “Casa de Beradero”, uma organização não-governamental que oferece a oportunidade de formação cultural, dando perspectivas de vida a um grande número de crianças e jovens catoleenses.

“Desenvolvimento sustentável, saúde, educação e cultura representam a base da conquista do menor índice de mortalidade infantil da Paraíba”, opina o médico sanitarista Epitácio de Andrade Filho.

Parabéns, “Praça de Guerra”! Parabéns, Catolé do Rocha! Criança que conquistou o direito de envelhecer em paz.



Um comentário:

  1. Num sei se hoje ainda é assim, mas nas décadas de 70 e de 80 do século passado, Catolé ficou famosa pela valentia de seus cabras. Um cabra num podia olhar atravessado não que ia pra faca. Olha a faca!!!

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