segunda-feira, 24 de outubro de 2011

OS IDOSOS NÃO SE ABANDONAM JAMAIS - Nailson Costa

Acompanhando a procissão de Santa Rita, encostei-me na parede lateral da Quadra Municipal Antônio Ferreira de Souza, para um rápido descanso, e vibrações de múltiplos sentimentos inundaram-me por alguns segundos.
Já ouvi dizer que mato tem olhos e parede tem ouvidos. As paredes daquela quadra, acreditem, têm olhos, ouvidos, boca, sentimentos e história. Aquele pequeno, mas não menos nobre espaço esportivo é membro da família de todos os atletas e torcedores que viveram um caso de amor com o esporte de Santa Cruz nos anos de 1970 e primeira metade dos de 1990.
Em fração de segundos, três décadas de muitas emoções percorreram em procissão todas as minhas lembranças, como a dos grandes campeonatos organizados por Ribeiro na década de 1970; dos jogos estudantis; do Comercial de Cebolinha e de Beval; do Técnico de Colega, de Élcio, de Zia e de João de Pedro de Tico; do União de Noroelho, de Trigueiro, de Zé Alaíde, de Tino, de Deusdete, de Ebinho e de Leão; do Barcelona de Carlinho de Valdomiro, de Tomba, de Dofinho e de Marcílio Anísio; das noturnas procissões esportivas apreciadas da Eloi de Souza em direção a uma Quadra já lotadíssima; de papai a vibrar com a  s    boas lutas de Bernadão e Cirilo; do voleibol de Bulhões, de Marcão,  de Gatocheba,  de Ana Alice, de Marlene e de Noymane.
Na adoração a Santa Rita de Cássia as pessoas enchem as avenidas, se empurram, se cumprimentam, se abraçam, se beijam, passam, deixam as ruas vazias e escrevem a sua história.
 A Quadra também viveu intensamente, abraçou-se às mais variadas explosões de alegria, de raiva ou de decepções. Também amou, beijou e foi feliz. Fora ela como uma mãe, sempre presente e solidárias em todos os prazeres e dores de seus queridos filhos.
Agora idosa, vejo-a mal vestida, suja, fedida e abandonada. A Quadra Antônio Ferreira de Souza ajudou a construir a nossa formação, o nosso caráter, a nossa história.  Dar-lhe as costas hoje é, no mínimo, um ato de ingratidão.
Em minhas vibrações intercontatuais, ainda dela ouvi que se ventilou, em administrações próximas pretéritas, a possibilidade de troca de seu preciosíssimo nome e até de sua demolição para dar lugar a mais uma praça. As praças de hoje em dia não são como as praças esportivas de sempre. Não têm mais o romantismo de outrora. Em muitas, levantam-se muros das discórdias e das lamentações. Não propiciam o surgimento de atletas. Pelo contrário, podem ser ponto de encontro de imbecis paredões de som, de bebedeira, de tráfico e de prostituição.
Sei que, menos as palavras de Deus, tudo passa. E, como tudo passa, a procissão estava se indo. E minha mãe, idosa de 73 anos puxou-me pelo braço para continuar seguindo aquela nossa caminhada. E eu, do alto de minha mais sagrada obediência, atendi ao seu chamado, pois aos idosos devemos respeito, admiração e carinho, e, além do mais, os idosos não se abandonam jamais.

(Nailson Costa)


4 comentários:

  1. Esse sentimentalismo e resgaste histórico devia ser mais presente nos santacruzenses.

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  2. Concordo plenamente com vc,Maciel.
    Ótimo texto,ProfºNailson.

    João

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  3. Eu tive o prazer de presenciar esses tempos áureos
    do nosso cenário esportivo, e hoje temos um belo ginásio de esportes e não vemos brilho algum no nosso futebol de salão.

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  4. Eu tive o prazer de presenciar esses tempos áureos
    do nosso cenário esportivo, e hoje temos um belo ginásio de esportes e não vemos brilho algum no nosso futebol de salão.

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