segunda-feira, 13 de junho de 2011

O DIA EM QUE O MACACO VIROU SÃO JOÃO - Marcos Cavalcanti

O DIA EM QUE MACACO VIROU SÃO JOÃO

As crianças são fontes de alegria em nossas vidas. Não raro vemos brotar de suas ações, o poético, o comovente, o delicado ou até mesmo o hilário. Quem tem criança em casa ou em sua convivência diária sabe muito bem do que estou falando. A narrativa que compartilho com todos vocês neste blog cultural é só mais um exemplo disso.

Eu assistia televisão em meu quarto, quando Marília, minha filha de 4 anos, entrou empurrando um carrinho de bebê de brinquedo. No carinho estava aquele que em sua cabecinha de criança ela chama de filhinho. Marílio é o nome que ela deu ao bonequinho barrigudo e de olhos azuis. Ao me ver deitado na cama, ela olhou para a televisão e disse:

_É a minha vez agora, o senhor já passou a tarde todinha assistindo.

Com tão forte argumento, eu já estava pronto para mudar da TV5Monde, para o seu canal preferido, o Discovery Kids, mas para a minha surpresa, ela emendou apontando para a TV:

_ É esse aí mesmo o meu canal.

_Então vamos aprender francês juntos. Disse-lhe aproveitando a deixa.

Ela, sorridente, pulou em cima da cama, toda feliz.

Repita comigo! Dimanche é domingo. Ela repetiu. Lundi é segunda... e assim fui dizendo até o sábado. Ela repetia tudo direitinho. Então peguei Marílio e fui apontando para as partes de sua cabeça. Primeiro para o nariz. Diga nez (pronuncia-se “nê”). Ela repetiu. Boca é bouche. Quando ia apontar para a orelha. Ela me interrompeu.

_Pera aí que eu vou correndo buscar o meu caderno.

Como ela tinha acabado de tomar banho, eu apelei:

_Não corra não, minha filha, que você vai ficar toda suadinha. No que ela me respondeu:

_Tem nada não painho. Eu sou o vento! E saiu em disparada. Mal dobrou a porta do quarto que dá acesso ao corredor, um forte estouro ecoou nas proximidades de nossa casa. Era um destes fogos de artifício do mês de São João. Ela voltou correndo e de olhos arregalados, disse:

_Painho, é o trovão e o vento tem medo de trovão.

Passados alguns segundos, e mais calma, ela voltou com o seu caderno. Retomei a lição e fui escrevendo cada uma das palavras dos dias da semana, até que ela se cansou da leitura na sexta-feira (vendredi). Então eu desisti e voltei novamente a olhar para a televisão. Foi quando ela pegou o lápis comum e escreveu no caderninho a palavra MACACO, mandando em seguida que eu lesse. Eu li e imediatamente me veio a correspondente em francês.

_Filhinha, macaco em francês é singe (pronuncia-se “sange”). Ela arregalou os olhos e na bucha exclamou:

_ É mesmo painho, é igual a Sãoooo Jooooãaao!!. Não me contive e caí na gargalhada e ela riu também sem entender direito o que estava acontecendo. Eis aí o dia em que o macaco, em francês, virou o santo evangelista.

4 comentários:

  1. rsrsrs Que narrativa!
    Crianças realmente produz risos,são engraçadas e semelhantes...Parabéns pela habilidade de narrar tão bem,afinal é Marcos Cavalcante.

    Lindonete Câmara

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  2. AH, Que narração engraçada !!!
    Meu pequeno coração ficou comovido e minha mente admirativa .
    Parabens Marquinho e parabens tambem para Marilia !!!Saudades !!!

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  3. O Mestre agora resolveu escrever mais em prosa! Isso é muito bom! Em breve teremos o primeiro romence publicado em Santa Cruz. E eu terei mais material para as minhas constantes pesquisas. Vamos trabalhar!

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  4. Que bacana!!!!!!!!!!

    Até me despertou a vontade de ser mãe...

    Linda Marília!!!!!

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