Auta de Souza – Luz e Poesia
Uma estrela cintilante
na Terra fez
estadia,
tinha a pele
cor da noite
e a aura da
cor do dia;
dela a
ternura brotava
e, a cada
sopro que dava,
respirava poesia.
O sofrimento e a agonia
marcaram seu peito a fundo;
sua esperança na vida
crescia a cada segundo,
mas seu destino cruel
marcou, com gotas de fel,
sua existência no mundo.
No peito, um
amor profundo
pela
clemência divina…
sempre
superava a dor,
sem lamentar
sua sina,
pelos
sofreres medonhos,
que
arrebataram seus sonhos,
desde o
tempo de menina.
A saga de sua sina
ficou
marcada na lousa,
dizendo que
sofreu muito
e amar é a melhor
cousa.
O seu
espírito divino,
é um cantar feito
um hino,
que lá no
olimpo repousa.
A estrela é Auta de Souza,
luz que no espaço permeia,
que nasceu em Macaíba,
em dezoito sete meia.
Sofreu penares e danos
e que, aos vinte quatro anos,
do corpo desencadeia.
Teve o encanto da sereia
no perfume do seu verso,
mas o destino, com ela,
foi doloroso e perverso;
desencarnou muito cedo,
para compor seu enredo
no parnaso do universo.
Num período controverso,
Auta de Souza nasceu;
de família aristocrata
misturada com plebeu,
viveu dois mundos seletos,
entre avós analfabetos
e um pai que muito aprendeu.
A contradição se deu
porque muito tempo atrás
o seu bisavô paterno,
um fazendeiro tenaz,
casou a filha adotiva,
Cosma, cabocla nativa,
com Felix, seu capataz.
Deste casamento audaz
nasce o pai da poetisa,
seu Eloy Castriciano,
o qual conquista divisa,
sendo eleito deputado,
único negro do estado,
que esse cargo preconiza.
Eloy novos trilhos pisa
quando se une em casamento
com uma moça do Recife,
onde fez o juramento.
Seu pai, homem de negócio,
que junto a Eloy era sócio
no mercado de fomento.
Deste fiel casamento
floresceram cinco filhos;
Eloy de Souza e Henrique
foram maiores nos brilhos:
Eloy Grande senador,
Henrique intenso escritor
que percorreu longos trilhos.
Auta sofreu empecilhos
ao longo de sua vida,
pois, com três anos de idade,
perdeu sua mãe querida;
mas o céu, querendo dois,
um ano meio depois,
seu pai também fez partida.
Foi plenamente acolhida
pela sua avó Silvina,
uma negra analfabeta
com sapiência divina
que, junto ao avô Francisco,
dissiparam qualquer risco
na atenção desta menina.
Conheceu nova rotina
na Veneza Brasileira,
porém, novamente a sorte
lhe foi muito traiçoeira,
pois o seu avô Francisco,
sem padecer qualquer risco,
morreu sem causa certeira.
E, assim, nossa pioneira,
tendo seis anos de idade,
chorou outra vez na vida
aquela nova orfandade.
Porém, sua avó Silvina
na vida não desatina,
demostrando majestade.
Com onze anos de idade,
outra tragédia se deu
na vida da poetisa,
que tanto penar sofreu;
uma chama desmedida,
findou por ceifar a vida
do seu irmão Irineu.
Nessa época num liceu,
Auta de Souza estudava
com todo apoio da avó,
que muito lhe incentivava;
então a nobre menina
na formação vicentina
de cultura se alumbrava.
A brisa do tempo estava
lhe sendo benevolente,
mas, já com quatorze anos,
lhe chega um mal de repente;
quando fez uma diagnose,
viu que de tuberculose,
já se encontrava doente.
Cai seu mundo novamente,
e o seu teto se derriba.
Deixa a vida no Recife,
e sem que a dor lhe proíba,
com a família penitente,
retrocedeu novamente
ao centro de Macaíba.
Já doente em Macaíba,
se integra com a mocidade;
sua família paterna
era ilustre na cidade
e Auta, num gesto afoito,
funda o Clube do Biscoito,
dando vida à sociedade.
Discutia a liberdade
e as coisas do dia a dia…
nos encontros joviais
se propagava a alegria,
mas via-se, nos eventos,
que o maior dos seus intentos
era difundir poesia.
Tendo a leitura por guia,
nossa estrela resplendeu,
e o mundo da poesia
ela adotou como seu;
mesmo sofrendo penares,
em busca de novos ares,
a poetisa floresceu.
Uma paixão floresceu
no seu peito jovial,
pelo promotor Loureiro,
da cidade de Natal,
porém, depois de dois anos,
viu abortarem seus planos
de um enlace nupcial.
Pois a família, afinal,
não concordando com isso,
forçou a nossa poeta
a romper seu compromisso.
Auta, sofrida, aceitou,
mas seu coração chorou
o fenecer desse viço.
Pouco tempo depois disso,
seu amado faleceu…
morreu de tuberculose,
teve um final feito o seu.
Padecendo esse langor,
no seu verso pôs a dor
deste amor que feneceu.
Muitos poemas teceu
nos lugares que passava.
Nas serras da Paraíba
todo ano se hospedava;
nas terras que percorria,
sempre um poema escrevia
e à cidade dedicava.
Na imprensa publicava
suas mais belas poesias;
com o apoio da família,
seu talento se expandia…
cantando o seu desencanto,
fez do desalento um canto,
num poema em nostalgia.
Um livro ela pretendia
feito “Dhálias”, divulgar,
porém, a sua editora
tratou de reformular
o seu projeto absorto
para, com o nome de “Horto”,
o seu livro publicar.
No seu poema ao luar,
ela expressa a nostalgia,
quando olhava a noite clara,
durante sua estadia
nas fazendas do sertão,
contemplando a solidão
que no espaço reluzia.
Terminou sua agonia
em mil novecentos e um,
a sete de fevereiro,
num ato nada comum,
e a cidade de Natal
parou para o funeral
desse ser tão incomum.
Por ter feito o bem comum,
seu nome se eternizou
com os espíritos de fé…
sua luz se propagou
por ser um fulgor do bem,
e no parnaso do além
seus poemas publicou.
De Natal se transladou
suas exéquias mortais,
as levando à Macaíba,
terra dos seus ancestrais.
E está escrito na lousa
finalmente: “… aqui repousa
quem sofreu... e amou demais…”.
≠
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