terça-feira, 18 de março de 2025
POSSO FILMAR?
quinta-feira, 13 de março de 2025
RESENHA DE “OS MISERÁVEIS EM CORDEL" - Nailson Costa
RESENHANDO OS MISERÁVEIS EM CORDEL, de Gilberto Cardoso
Lavoisier, o filósofo, o químico - o não político partidário, governador, senador, conquistador, pegador, de nosso RN - dia desses disse, “nada se cria, tudo se transforma”. É bem por aí mesmo. Eu acabei de ler o livro do meu amigo, o santa-cruzense de Cuité-PB (ou seria do cuiteense de Santa Cruz-RN?), Os Miseráveis – em cordel -, e fiquei encantado com o talento, a categoria, a destreza desse maravilhoso poeta, membro da Academia Norte-rio-grandense de Literatura de Cordel! O cara vestiu o best seller, Os Miseráveis, romance social, escrito em 1862 pelo escritor francês Victor Hugo, com as roupas simples do gênero literário narrativo, poético nordestino, e tão nosso de cordel. Ao começar a leitura, pensei; “vou dar uma passadinha por uns 30 minutos, tendo em vista que eu já havia lido o original e visto o filme, e depois o retomo, quando tiver mais tempo”. Enganei-me! Cara, as rimas se encontram com tanta leveza, paixão e conexão, gerando um ritmo cadenciado, sonoridade digna de um coro, um uníssono oral, que mais se parece casais no mais sublime acasalamento de suas núpcias, assim, macias e bem redondilhas, tudo ajustado e encaixadinho em sua métrica irretocável! As suas 175 páginas foram devoradas em menos duas horas! É o que eu sempre digo, o artista é um químico que sabe como recriar, quer dizer, transformar, tudo aquilo que ele capta do interior de seu interior, e/ou do exterior de seu exterior, e o funde, numa fissão binária ou não, em seu laboratório químico de artes! E eis a arte fecundando a vida e a vida transformando a arte! Ah, e sobre a narrativa, a história em si, recomendo a leitura desse maravilhoso livro de Gilberto!
(Nailson Costa)
O CINEMA DO SERTÃO: DA ESCASSEZ À BONANÇA - Washington Ribeiro
O PORQUÊ DESTE CORDEL
A natureza, como um cinema da
vida real, me mostrou um filme que, de maneira profunda, ficou gravado em minha
mente: cada cena, cada detalhe, cenário, enredo, atuação, emoção... Sentimentos
diversos e intensos.
Retratava a saga do vaqueiro para
alimentar e proteger o rebanho durante uma seca impiedosa. Essa história se
passava no sertão nordestino, onde, em um cenário abrasador, sob uma
rotina diária ininterrupta, armado de foice, lança e outros atributos... tudo
forjado na garra, na fé e na esperança..., seguia firme o vaqueiro, vencendo,
dia após dia, verdadeiras batalhas até o ápice final, quando chega o tão
esperado inverno e sana todas as dores.
Como elementos principais
destacavam-se: o sertão, o vaqueiro, o rebanho, a seca, a chuva, a
natureza, a esperança, a fé... Essa mistura tem uma ligação muito forte, fonte
inesgotável de inspiração, material genuíno para o poeta. -
O CINEMA DO SERTÃO: DA ESCASSEZ À BONANÇA
Ao ver a seca assolando,
O vaqueiro fica alerta.
O laço da angústia aperta,
Com o pasto se acabando.
Reservatórios secando,
O prenúncio é de amargar...
Vendo a esperança acabar,
O tempo desce a ladeira;
A seca fecha a porteira
E não deixa o inverno entrar.
Vê-se o sol, escravizado,
Aguçar sua rotina.
A cor cinza predomina
Sobre o solo esturricado,
Num cenário desenhado
Pela seca impiedosa.
Mas, de forma majestosa,
Forjado em superação,
Segue firme na missão
O vaqueiro em "verso e prosa".
O vigor e a inteligência
Vão andando lado a lado
Para alimentar o gado
Com bravura e competência.
Exercita a paciência
Numa rotina de horário;
Segue firme o itinerário,
Armado de foice e lança,
E, nas chamas da esperança,
Vai queimando o calendário.
No palco vai atuando:
Queima espinhos, corta palmas...
Sem ter plateia, sem palmas
E sem câmeras filmando...
Só a mente registrando
Cada cena dessa lida,
Dia a dia repetida.
E mesmo no anonimato,
Vai cumprindo ato a ato,
Vencendo as secas da vida.
E tem a pele queimada
Pelo sol e pelas chamas.
A seca escreve seus dramas,
Põe em cartaz na jornada.
Embora a mente cansada,
Traça planos pra missão...
Ser forte? A única opção.
De mão dada à experiência,
Abraça a resiliência
Com os braços da razão.
Cansa o corpo, cansa a mente!
Seca traz danos imensos,
Momentos tensos e intensos;
Da paz, sufoca a semente.
O vaqueiro segue em frente,
Sua fé em Deus não cansa.
Segue o ritmo, dança a dança...
Certo do fim desse entrave,
Pois o inverno traz a chave
Que abre as portas de bonança.
Vai tangendo o dia a dia,
Aboiando a persistência.
O vaqueiro é resistência;
Para o Poeta, Poesia.
E vislumbrando alegria,
Na mente vem trovoada,
Apascentando a jornada.
Nessa lembrança sonora,
Que traz um filme de outrora
Com emoções de invernada.
Bons tempos se aproximando:
Previsões são promissoras.
Fauna e flora, detectoras;
Natureza anunciando.
No mandacaru florando,
Na formiga que trabalha,
Cada fator é navalha
Golpeando essa enxaqueca,
Cortando os pulsos da seca,
Datando o fim da batalha.
O vaqueiro faz contagem,
Ansiosamente espera...
Um certo receio impera,
Mas entende ser bobagem,
Pois logo terá pastagem,
A paisagem restaurada.
Segue na mesma pisada,
Reta final "dá o gás"...
Planta a semente da paz,
Sonha em vê-la germinada.
Com emoção, faz pedido
A Deus Pai, o Criador.
Reza com todo fervor,
Vendo o torrão ressequido.
Feito filme repetido,
De carona com a hora,
Esperanças indo embora...
Mas, no horizonte, acenando,
Alegre nuvem, chorando,
Alegra o peito que chora.
E chega a chuva esperada!
Então, a saga se encerra...
Vê-se a paz vencendo a guerra,
Vê-se a seca derrotada!
Trovão fazendo zoada,
O relâmpago frequente;
Inverno chega imponente,
Abraçando a natureza...
Desce verso em correnteza
Pelo riacho da mente.
As nuvens no firmamento
Despejam bênçãos divinas.
Da seca, fecha as cortinas,
Decretando encerramento.
É fim do mau elemento,
Bonança entende o recado.
O Sertão é transformado,
Pois chuva derrama graças;
Da paz, retira as mordaças,
Nosso inverno é decretado.
Numa descarga medonha,
Relâmpago no horizonte
Risca o céu, clareia o monte —
Tudo que o vaqueiro sonha.
É como a dizer: disponha!
Por seu ato de bravura.
Refazendo-se a Natura,
O vaqueiro fica vendo
As mãos da chuva tecendo
Um tapete de fartura.
Com a chuva justiceira,
Canta em festa a passarada.
Seca bate em retirada,
Cabisbaixa, sai ligeira.
Vibra a natureza inteira,
O suplício terminou...
Pastagem se restaurou,
Reservatórios enchendo...
Inverno vem devolvendo
Tudo que a seca roubou.
Vem a chuva, vão-se as dores,
As mazelas da estiagem.
Pinta de verde a pastagem,
Pondo a paisagem em cores.
Natureza, rindo em flores,
Canta canção afinada,
Partitura desenhada
No tinido da biqueira,
No chorar da cachoeira,
No cantar da passarada.
A chuva que lava o chão
Também lava a mente, a alma,
E, ao mesmo tempo que acalma,
Acelera o coração.
Na goteira da emoção,
O sertanejo faz prece,
Com devoção agradece
Pela graça recebida.
— Natureza abastecida
De tudo nos abastece.
Washington Ribeiro
Barcelona-RN
Nascido em 04 de março de 1976 na cidade de Barcelona, RN, José Washington Ribeiro da Silva é um apaixonado pela arte da palavra. Filho de José Francisco da Silva e Maria do Socorro Ribeiro da Silva, Washington reside em sua terra natal e dedica-se à educação do município.
Washington participa ativamente de eventos culturais como saraus e feiras literárias, tanto em escolas municipais quanto estaduais. Sua voz ecoa nos palcos, recitando poemas e incentivando a leitura.
A paixão pelas palavras o acompanha desde a infância, quando, como um ouvinte atento, absorvia a beleza da linguagem e, em momentos de inspiração, construía versos soltos. Foi em 2013 que Washington decidiu dar forma aos seus pensamentos, transformando suas ideias em poemas. Seus versos abordam temas como a enigmática natureza, a complexidade do ser humano, e a busca pela essência da beleza em sentimentos que brotam da mente e do coração.
Em 2019, Washington descobriu o mundo mágico da literatura de cordel, encantando-se com o desafio de construir poemas que obedecem à disciplina da rima, métrica e oração.
Para entrar em contato com Washington Ribeiro e conhecer mais sobre sua obra, você pode utilizar o
WhatsApp: (84) 9 8859 6282;
Facebook: Washington Ribeiro;
Instagram: washingtonribeiro_s;
Email: washingtonribeiro76@gmail.com
segunda-feira, 10 de março de 2025
ORDEM NA DESORDEM
ORDEM NA DESORDEM
Há dias em que me pego questionando a razão de viver. Para que nascemos? Essa é a pergunta sem resposta que acompanha a humanidade desde que o ser humano olhou para o próprio braço e se perguntou: o que tem aqui dentro? Não o rasgou para ver o que hoje chamamos de veias, ossos etc., devido à imposição da dor — essa sargento que dita as regras da autopreservação.
Acredito que, se houvesse um Ministério do Suicídio, onde as pessoas pudessem optar por deixar de viver, existiriam filas e mais filas de indivíduos querendo dar cabo da própria existência. Mas é proibido se matar ou estimular outros a fazê-lo.
Segundo a lei, é crime deixar a vida por vontade própria, mas não é crime sofrer as dores do câncer, suportar uma deficiência física com seu all-inclusive de discriminações e dificuldades, nem ficar sem ter o que comer. A lei é tão suicidante quanto o próprio ato de se matar.
Na Idade Média, se alguém não aceitasse trabalhar até a exaustão e optasse por finalizar o sofrimento por conta própria, sua família era torturada. A única forma para mantê-los sendo explorados era com essa ameaça.
Depois, percebeu-se a necessidade de um vigia para a própria vontade — e que fosse de baixo custo. Então criaram deuses para vigiarem a consciência dos desesperados, com o slogan de que a pior vida ainda é melhor do que morrer e ir para o inferno. Assim, tornou-se mais fácil formar um exército de esfomeados prontos para continuar trabalhando em nome da salvação da alma — outra invenção extraordinária. Criaram até um manual, com histórias ameaçadoras, para ser estudado nas sinagogas e, assim, inibir esses pensamentos desviantes.
Todos devemos pensar da mesma forma, ou seja, temer um ser que castiga aqueles que optam pelo livre-arbítrio. Seja artista, pedreiro... todos devemos ter a mesma consciência de que existe algo além do além, vigiando até nossos pensamentos. O único lugar onde há seres totalmente libertos dessa história da carochinha é em um berçário. Lá, já fomos livres para fazer o que bem entendêssemos, mas ainda não sabíamos qual decisão tomar.
Parece que essa indecisão ainda nos acompanha. Vivemos na esperança de que o amanhã seja melhor, mesmo com a ameaça da terceira guerra mundial, que nunca chega e nunca chegará, mas serve como uma forma de manter a humanidade entretida. Os Javés das presidências e tantos outros "Javezinhos" de cargos subalternos estão a serviço do capital econômico e religioso.
É preciso manter essas pessoas no poder para garantir que o medo permaneça por perto. Assim, todos do exército de reserva — que paga dízimo, imposto, pedágio, boleto etc. — continuam sem se rebelar. Essa é a estratégia para manter a ordem mundial nesse padrão que achamos normal. E, se não for assim, corre-se o risco de um Ministério do Suicídio passar a ser promessa de campanha, tornar-se realidade e, depois disso, o caos se instalar — pois a base da pirâmide social não mais aceitará sustentar o clero e a burguesia.
Heraldo Lins Marinho Dantas
Natal, 10 de março de 2025 – 08h42min
segunda-feira, 24 de fevereiro de 2025
POR UM FIO - Bertin Di Carmelita
POR UM FIO
A luta por uma democracia
Está presa por um fio:
Fio do tempo
Fio de um tecido
Que fio a fio
Se trama sua malha
Fio dos anos da cor de chumbo
E no fio da navalha.
Agricultores, pescadores, extrativistas
Religiosos, operários, estudantes, sindicalistas...
Não foram poucos os que sofreram
Torturas e prisões ilegais
Desapareceram...
Para nunca mais
Se meterem com a dita-dura
A democracia em sua forma
Real, leal, tão pura
Ainda hoje procura...
Por seus filhos
Seus homens e mulheres
Que sumiram no emaranhado dos fios
Do pau-de-arara
Da vala rasa
Do choque-elétrico
Dos telefones, sem fio...
Seguindo em desafio
Sob a sombra da história
Sigo tropeçando em fantasmas
Assombrando-me com o som
Dos sobrevoos...
Mesmo assim:
Voo e vou
Juntando os fios da meada
Ligando os fios da estrada
Iluminando as memórias vividas
E não contadas
De nossas vozes sofridas
Silenciadas...
A democracia ainda é frágil
E sei que a justiça
Quando não falha, é lenta
Mesmo assim eu confio...
A opressão ainda se apresenta
Anos e anos a fio!
A arte sobreviverá
A democracia também...
Mesmo estando por um fio!
Bertin Di Carmelita
Marabá-Pará, 20/02/25
domingo, 16 de fevereiro de 2025
PRESSA - Siomara Spineli
Pressa
A única pressa que quero é para encontrar a felicidade.
Ela tem pressa de ser vivida! Eu tenho pressa de encontrá-la, mas... quero vivê-la devagarinho, como quem come um prato saboroso, quero experimentá-la de mansinho como o sol que corta a noite colorindo o céu.
A felicidade é meu prato preferido, quando não a tenho, tenho pressa... tudo fica ligeiro, sério, triste, as lágrimas saem apressadas, ternas, quentes, a cidade corre ardente, barulhenta, inóspita. Nesse momento, curto a ausência da felicidade. Que mais se pode fazer do que se embriagar da tristeza quando ela chega? Aproveitá-la também é sabedoria, é viver.
Mas não dou moleza não, na minha pressa peregrina e crônica, pergunto logo a tristeza: por que veio? Com que finalidade está aqui? Que parte de mim não serve que você veio quebrar? Que parte veio reconstruir? Quer que eu reflita em quê?
Já sei perdoar!
E é com pressa mesmo que a expulso de mim, é com pressa mesmo que me acolho, me abraço e me amo. Ando tão com pressa que nem vejo o tempo passar, nem vejo os dias voarem, nem vejo quando a felicidade bate à porta, meu desejo mesmo é que ela entre sem pedir, a casa é toda dela. Aí...tudo relaxa novamente, pulsando, vertiginosamente na minha alma, a felicidade faz morada. Adorna meu ser, fico tão preenchida que não sei se rio, se choro, se danço, se canto, às vezes...tudo junto. É que a felicidade é minha alma gêmea, quando está aqui, somos transbordantemente cheias de Deus! O tempo se estica. Os dias e noites preguiçosos se arrastam lentamente, felizes.
E eu...
sorrio!
Siomara Spineli
sábado, 15 de fevereiro de 2025
"EMÍLIA PÉREZ" está nua... (texto de Renan II)
"Emília Pérez" está nua
- ou o que a "queda" do favorito ao Oscar 2025 pode nos ensinar.
Exceto se você estiver numa bolha
muito distante de qualquer veículo de comunicação, é muito difícil não ter
conhecimento da ascensão e queda do filme francês "Emília Pérez",
musical de Jacques Audiard que narra como um perigoso traficante de drogas e
líder de cartel mexicano faz uma cirurgia de redesignação sexual e anos depois,
com o apoio da advogada que o assessorou no procedimento, volta para a família
sem se dar a reconhecer e inicia uma jornada de redenção ao criar uma ONG para
identificar casos de desaparecidos no país. Aclamado no Festival de Veneza,
vencedor de prêmios em inúmeros festivais e indicado a 13 categorias no Oscar,
a campanha do filme, que foi produzido pela poderosa NETFLIX, sofreu um duro
revés quando usuários das redes sociais descobriram postagens antigas de alto
teor preconceituoso e controverso da protagonista Karla Sofia Gascon, junto com
declarações depreciativas do diretor sobre a cultura mexicana, mas
principalmente quando cinéfilos e alguns críticos do tema, especialmente youtubers,
começaram a denunciar diversos problemas de roteiro, estrutura e mesmo nas
performances da obra, como uso indiscriminado de estereótipos na construção dos
personagens, falta de cuidado nas descrições do México ou dos procedimentos
médicos relacionados com a transexualidade e condução amadora dos números
musicais. Embora não seja impossível que no dia 02 de março ainda ganhe algum
dos prêmios a que está indicado, atualmente a maior parte das menções ao filme
têm sido negativas, até mesmo acusando-o de só ter feito sucesso nesses
festivais porque soube usar a agenda política LGBTQI+ a seu favor, bem como de
refletir a visão preconceituosa que norte-americanos e europeus possuem dos
mexicanos.
Provavelmente muitos, ao se
depararem com as resenhas mais incisivas sobre os problemas e os erros de
representação da obra, devem se perguntar como pessoas tão experientes como os
membros votantes desses festivais e outros críticos não se deram conta da
obviedade deles e o exaltaram, incorrendo num "lapso" de tamanhas
proporções. Mas a explicação é mais simples do que parece, tanto que ela pode
ser encontrada num famoso conto de fadas: "A roupa nova do rei",
publicado por Hans Christian Andersen em 1837.
Nessa história, dois malandros
chegam numa grande cidade com o objetivo de enriquecer, e ao descobrirem que o
rei do país era tão vaidoso que gastava todo seu dinheiro com roupas,
espalharam que eram renomados alfaiates e seriam capazes de tecer uma roupa que
só era vista por pessoas inteligentes. Como eles esperavam, isso chegou aos
ouvidos do rei, que os contratou por uma grande quantia, e ainda deu a eles
grandes quantidades de seda e ouro, essenciais para a confecção da roupa nova.
Eles "trabalharam" fingindo que teciam e costuravam a roupa durante
semanas, e embora o ateliê tenha sido visitado tanto pelo rei quanto por seu
primeiro ministro e alguns cortesãos, sem que nenhum tenha visto nada, ninguém
quis ser chamado de burro e todos disseram maravilhas das peças em andamento,
até o dia em que deram o trabalho por terminado e foram ao palácio ajudar o rei
a vesti-la. Quando "concluíram", disseram ao rei que ele estava
impecável, mesmo que este se visse nu no espelho, e depois ele seguiu num
cortejo solene pela cidade, acompanhado da corte. Com medo de serem chamados de
burros, o povo elogiava o rei, até um menino berrar "O rei está nu",
e só depois disso se viram livres para denunciar a situação e rirem do patético
espetáculo oferecido pelo tolo e vaidoso monarca.
Qual a moral da história? É a de
que, quando há algum tipo de pressão social que pode interferir no julgamento
alheio ou no próprio sobre suas capacidades, muitas pessoas preferem fingir que
veem o que não veem, ou aceitam a opinião dos outros acriticamente por
considerarem que não são capazes de terem entendimentos mais aprofundados que
eles, como foi o caso do rei e da maior parte dos habitantes do reino, que
tiveram medo de serem considerados idiotas caso não enxergassem a propalada
roupa. E mais, fizeram isso sem nenhuma justificativa real para tanto, pois os
vigaristas não apresentaram nenhuma prova das suas capacidades, apenas fizeram
uma "propaganda" muito eficiente delas. Só quando alguém que não
estava inserido naquele "pacto" de medo e acobertamento mútuo, no
caso o menino, teve coragem de denunciar que não havia nenhuma roupa mágica,
foi que se sentiram livres para reconhecer isso, mas já era tarde: o rei estava
nu diante de todos, e os malandros haviam fugido com todo o dinheiro e riquezas
que tiraram dele (na verdade, do patrimônio público).
E é isso que explica a ascensão
de "Emília Pérez": sabendo da relevância dos temas dos direitos dos
transexuais e dos cartéis de drogas no México, o diretor soube realizar uma
obra fluente que aproveitava as duas temáticas, com uma edição arrojada, um bom
elenco (Karla Sofia Gascon, Zoe Saldaña, Edgar Ramírez), e que, como já foi
mencionado, encaixava-se na visão que
muitos habitantes do "primeiro mundo" tem do México e dos latinos em
geral, tudo isso embalado por uma propaganda eficiente. Foi assim que conseguiram
a Palma de Ouro em Cannes (e o elogio público da presidente do festival na
ocasião, a cineasta Greta Gerwig, "queridinha" do pessoal
"moderninho" e das "feministas" por causa de obras como
"Barbie"), e isso foi impulsionando as demais premiações, que foram
se alimentando mutuamente num fenômeno que hoje muitos chamam de "efeito
manada". Esse fenômeno é fundamentado, em grande parte, no receio de
sentir-se excluido em relação aos demais, e no presente caso pode ter sido
reforçado pelo receio de ser considerado reacionário caso criticasse a obra
(tanto que Gascon invocou esse argumento quando as primeiras críticas mais
sérias apareceram). E assim como no conto, foi preciso que alguém que estava à
margem desse processo (no caso, principalmente os cinéfilos e críticos
mexicanos e brasileiros, estes por causa da rivalidade com "Ainda estou
aqui", de Walter Salles Júnior, que concorre com ele em três categorias),
"desnudasse" as mazelas desse produto, desmascarando-o.
Se agiram a tempo de impedir mais
um resultado equivocado do Oscar, como hoje são consideradas as premiações de
"Shakespeare Apaixonado"? Não há como saber agora, mas desde já
podemos aprender algo com esse incidente. No caso, a não nos deixarmos conduzir
acriticamente pelas opiniões alheias, só pelo medo de ser rotulado como
ignorante ou equivocado, e buscarmos SEMPRE o entendimento mais fundamentado
sobre qualquer assunto.
*Renan II de Pinheiro e Pereira.
sexta-feira, 14 de fevereiro de 2025
sexta-feira, 7 de fevereiro de 2025
BORA, "LIGEIRO!": Uma Jornada Inspiradora de Superação e Dedicação
Bora, "Ligeiro!": Uma Jornada Inspiradora de Superação e Dedicação
"Bora, Ligeiro!", a autobiografia do Juiz Edailton Medeiros Silva, é uma leitura inspiradora que nos leva a uma jornada emocionante pela vida do autor, desde a infância humilde em Picuí até a conquista da magistratura.
O livro é um verdadeiro retrato da força do sonho e da importância da persistência. O autor, conhecido na juventude como "Nego de Dona Benedita", relata as dificuldades que enfrentou na infância e juventude, e para realizar o sonho acalentado desde os 15 anos: tornar-se juiz. Benedita, uma mãe forte e inspiradora, é a figura central da narrativa. Seus incentivos e exemplo de superação foram cruciais para impulsioná-lo em sua trajetória. Ela "passarinhou" sobre as adversidades e se tornou um ícone em sua comunidade, onde, merecidamente, recebeu importante homenagem póstuma: uma rua com seu nome. Sua esposa e eterna namorada Varni também recebe destaque.
"Bora, Ligeiro!" é um livro que nos convida à reflexão sobre a importância de lutar por nossos ideais, pelas pessoas e coisas que amamos, mesmo diante das dificuldades. É uma leitura essencial para quem busca inspiração para estudar e superar obstáculos, que desejam melhorar de vida. A obra nos mostra que, com determinação e fé, é possível alcançar grandes objetivos. Assim como o autor, não devemos desanimar diante dos nãos que a vida e algumas pessoas nos dão.
O autor, com linguagem simples e envolvente, nos leva a conhecer sua trajetória profissional, as decisões delicadas que teve que tomar e os riscos que correu ao longo de sua carreira. Destaca momentos importantes protagonizados por ele nas comarcas de Sapé, Catolé do Rocha, Cuité e Areia, menciona os reconhecimentos que obteve. Ele não esconde o lado espinhoso da profissão em um país maculado por injustiças e corrupção, pelo crime organizado e por desajustes políticos profundamente enraizados. Ele destaca, também, seu amor pela arte, especialmente pela música, e como isso transformou e continua moldando sua vida.
Portador da síndrome de Peutz Jehegs, o autor hoje é aposentado, mas continua a nos dar exemplos de altruísmo, resiliência e superação diante das vicissitudes da vida.
"Bora, Ligeiro!" é um livro que nos comove, pois mostra a importância da amizade, da positividade, do amor e demais valores humanos. O sentimento de gratidão se faz presente em quase todas as páginas. É uma obra que nos convida a buscar o melhor em nós mesmos e a lutar por um mundo mais justo e próspero.
Um detalhe importante: a renda obtida com a venda do livro é destinada à Associaçãode Amigos dos Portadores de Câncer de Campina Grande (AAPC), tornando a leitura ainda mais significativa. Por R$ 60,00, você adquire um livro que pode fazer diferença em sua vida e contribui para uma causa nobre. A obra pode ser encomendada pelo WhatsApp (83) 99961-2216.
Frase digna de destaque no livro: "É melhor a aventura da coragem do que a vergonha da inércia".
Gilberto Cardoso dos Santos
gcarsantos (Facebook, Instagram e Gmail)
Fone 84 999017248
segunda-feira, 3 de fevereiro de 2025
LUCIDEZ - Siomara Spineli
Lucidez
De súbito me percebi quase sã!
Tomei um susto, voltei a mim, ufa!!!
Que alívio! Ainda estou meio louca!
Sim, meio louca consigo viver nesse mundo, respirar, amar, sorrir, ser eu mesma.
Se estivesse sã, meus sorrisos seriam sempre forçados, minhas palavras seriam
de meias verdades, meu agir seria infiel...que horror!
Ainda bem que a lucidez não me alcançou! Ainda bem, Jesus!
Deve ser triste demais ser sã nesse mundo! Não sei ser pela metade, seja lá o
que eu esteja sentindo só sei ser inteira, isso OFENDE muita gente...
Amo minha presença, amo meu coração, amo meu jeito, ser lúcida me roubaria
de mim.
Obrigada, Deus, pelo pingo de loucura que me faz ser livre!
Ufa, ainda bem que a lucidez, dessa vez, não me alcançou!
Siomara Spineli