EXPLICAÇÕES INVISÍVEIS
Existe um castelo sendo
construído na cabeça de cada pessoa. É como uma torre que vai sendo erguida, e
quanto mais se procura aquilo que interessa, mais alta a torre vai ficando. O
contrário faz com que ela vá diminuindo, ficando apenas nas fundações, por isso
a busca incessante para manter o castelo em dia. Isso cansa, e a mente dele
cansou antes de oferecer argumentos para prosseguir falando do seu castelo.
Seu corpo permanecia embriagado
como se um copo de vinho tivesse sido ingerido, afinal de contas, sua
intolerância ao álcool está no tipo sanguíneo zero positivo. Não sabia o que
fazer e lembrou-se de que poderia se entreter trazendo suas lembranças para uma
nova roupagem, mas foi dormir sem concluir o que estava pensando.
No outro dia, muita chuva o fez
ficar na cama com a ideia de ser um miserável por precisar se alimentar,
dormir, comer e, para seu maior desconforto, trabalhar.
Olhou pela janela e percebeu que
o vento nada mais é do que uma corrida de fantasmas. Será que está ficando
louco!? Ah, deixa pra lá, pensou e continuou sem ter o que fazer, ou melhor,
tinha, só que não estava disposto.
Um prato de comida o esperava
esfriando em cima da mesa. Levantou-se conversando sozinho. Vamos lá, pobretão,
disse para si. O ser mais rico é um recém-nascido que precisa apenas de leite.
Os desejos não realizados são os que lhe fazem tomar consciência da sua
miserabilidade.
Juninho não vai gostar de mulher,
lembrou-se de que escutou uma mãe dizer à outra sobre seu filho adolescente.
São tantas histórias amealhadas a cada momento que lhe tiram o foco da própria.
É, porque sua história é repleta de “não dá certo”, até porque ele se enjoa
facilmente e muda a concentração para novos mundos que se apresentam. Parece
até que seu pensamento é como um andor carregado por almas arruaceiras que
fazem festa jogando ideias absurdas como: se não fosse a força da gravidade,
choveria para cima.
O clima o deixa insatisfeito por
não lhe obedecer. Alguém já disse que a vida é uma grande espera, e não adianta
apressá-la senão volta pior. Por que será que não consegue sustentar uma ideia
por mais de três orações? Um fantasma vem lhe dizer que sua mente é furada e
por isso fica sendo utilizada, constantemente, como corredor para passarem
quando estão apressados. A cada momento, uma avalanche deles trafega por ali
deixando escapar algumas sementes do pensamento da bilionésima dimensão, e ele
tem que administrar sem ter noção de onde essas ideias vêm.
Tem consciência de que é apenas
um objeto sendo jogado por bilhões de células que o impulsionam de acordo com
suas funções. Os espermatozoides, doidos para serem expulsos, o fazem adentrar
em sites pervertidos em um ciclo vicioso que lhe dá satisfação enganosa; as
sudoríparas gritam por exercícios físicos; as moradoras do intestino apertam o
botão da fome e lá vai ele atrás de comida.
Para, grita sufocado por tantas
exigências. São mais de sete bilhões de humanos na mesma situação, e isso o
deixa mais apavorado ao saber que segue essa cartilha padronizada para humanos.
As desavenças acontecem por essas
principais cobranças. Os inimigos são apenas projeções da própria
miserabilidade, e isso não tem fim. Rituais e mais rituais são acionados para
amenizar um sofrimento que tende a crescer com o passar do tempo. Bate o
desespero em conviver com pessoas com mais de meio século de existência e todos
com o mesmo discurso de que não têm onde chegar. Ainda bem que os jovens não
pensam assim, senão teríamos suicídios em massa no muro de lamentações.
O dia está propício para
pensamentos suicidas, gritam as almas do outro lado dizendo que morrer é bom.
Silêncio!, dessa vez é a consciência relatando que esse assunto tornou-se
proibido desde que o homem passou a ser dominado por outros que vivem num
aglomerado chamado Governo. Se alguém espalhar a febre da desistência de viver
cativo de impostos, quem irá financiar as luxuosas refeições? É, você é
subversivo que vive ruminando a ordem estabelecida querendo que essa subversão
venha lhe beneficiar, mas não se preocupe porque já basta a água em grande
volume para subverter a ordem dos orgulhosos; já bastam as erupções vulcânicas,
os tsunamis, as pestes e os próprios medos lapidando o castelo que cabe na
jaula da pequenez.
Heraldo Lins Marinho Dantas Natal/RN, 28.05.2024 - 15h47min.
O conto “EXPLICAÇÕES INVISÍVEIS” é uma reflexão pertinente sobre a condição humana, a busca incessante por significado e a luta constante contra as adversidades da vida.
ResponderExcluirA metáfora do castelo sendo construído na cabeça de cada pessoa sugere a ideia de que cada um de nós está constantemente construindo e reconstruindo nossa compreensão do mundo e de nós mesmos.
Parabéns!
- Gilberto Cardoso
Obrigado Gilberto, pelos comentários estimuladores e correções gramaticais.
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