quarta-feira, 12 de junho de 2024

PERDEU, SAI!

 



Perdeu, sai!

 

Voltou cansado do jogo de tênis, prometendo a si mesmo nunca mais correr atrás de bola. Imaginou-se daqui a trinta anos, suando, caindo aos pedaços e gritando: out, set, play, tie-break… Será que vale a pena se sentir socializado a esse custo?

O preço por estar perto do circuito da beleza e roupas marcadas não está saindo barato. Cada bola rebatida abrange vários "ais" nos ombros, pernas, joelhos e, quando vêm acompanhados da derrota, insônia.

Onde é que preciso melhorar? Principalmente na percepção lógica de que é pura ilusão. "Deixe isso pra lá", ressoa na mente a cada balde de roupa colocado de molho para tirar o barro da quadra de saibro. E vou fazer o quê da vida se nem com isso consigo me sentir confortável?

A insatisfação gerada por dores e desperdício de dinheiro com mensalidades, materiais específicos e tempo dedicado para não fazer feio, geram um estresse pós-moderno. Nem sabe dizer se utilizou adequadamente o nome "pós-moderno", mas, desesperado como está, isso é o de menos.

A ansiedade em ficar olhando para o céu, com dúvidas se no horário marcado a quadra vai estar alagada, também gera incômodo, sem falar, e falando, da ocupação dela por outros bestas metidos a atletas.

O encordoamento da raquete custa a metade de um tanque de gasolina; as bolas, outro tanto. Os quinze quilômetros rodados até lá, mais despesas. Só um tolo permanece nesse moído, e ele sabe disso.

Quando a pessoa está inocente numa parada, tudo bem, mas permanecer sabendo, é burrice. Nem Freud explica essa sede de sempre estar fazendo alguma coisa, nem que seja enxugando gelo.

O gosto entra como argumento para tanta ação desnecessária. Mas será que só tem desvantagens? Ah, isso fica para outros profissionais enfatizar os benefícios com a saúde, mas o objetivo aqui é falar mal do tênis.

Quem quiser que diga que o ser humano precisa dessa socialização para se manter equilibrado; precisa se integrar para não dar fim à sua existência, mas isso com ele, ultimamente, não está colando.

Ele já defendeu a tese de que para se manter vivo e atuante precisava de uma lista de atividades, e quem não embarcasse nos trens da alegria existente na indústria do entretenimento disputaria o primeiro lugar com um verme ou um jumento, e isso ele não queria ser. Rato, também não, apesar de ter apenas trezentos cromossomos diferentes desse roedor, mesmo assim ele se acha superior.

Mas o rato, o verme e o jumento devem fazer congressos e mais congressos só para falar da estupidez do ser humano. Eles riram bastante quando souberam que há seres que passam horas açoitando uma bola pra lá e pra cá sem produzir alimentos. "Quanto desperdício!", dizem esses seres inteligentíssimos e chamados de burros, principalmente aquele que zurra.

A cegueira dele pelo jogo chegou a tal ponto que espalhou pelos sete cantos do mundo que estava começando a praticar tênis de quadra. Nem sabia ele que os cantos do mundo só são quatro, mas estava tão aterrorizado com o tie-break que tudo, na cabeça dele, ia a sete.

Neste momento de dúvida existencial, é suspeito para falar, mas já confessou que gostaria de voltar reencarnado num verme. É melhor num burro, não? Que nada, burro só trabalha. Sim, mas quando se quer falar da masculinidade de um homem, se diz que ele é um jumento. É melhor escolher ser jumento. Jumento joga tênis? Não, claro que não! Então verme é melhor porque eu sei que rato também não joga, mas sobre o verme eu tenho dúvidas, disse ele.

 

Heraldo Lins Marinho Dantas Natal/RN, 12.06.2024 - 10h02min.

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