Perdeu, sai!
Voltou cansado do
jogo de tênis, prometendo a si mesmo nunca mais correr atrás de bola.
Imaginou-se daqui a trinta anos, suando, caindo aos pedaços e gritando: out,
set, play, tie-break… Será que vale a pena se sentir socializado a esse custo?
O preço por estar
perto do circuito da beleza e roupas marcadas não está saindo barato. Cada bola
rebatida abrange vários "ais" nos ombros, pernas, joelhos e, quando vêm
acompanhados da derrota, insônia.
Onde é que preciso
melhorar? Principalmente na percepção lógica de que é pura ilusão. "Deixe isso
pra lá", ressoa na mente a cada balde de roupa colocado de molho para tirar o
barro da quadra de saibro. E vou fazer o quê da vida se nem com isso consigo me
sentir confortável?
A insatisfação
gerada por dores e desperdício de dinheiro com mensalidades, materiais
específicos e tempo dedicado para não fazer feio, geram um estresse
pós-moderno. Nem sabe dizer se utilizou adequadamente o nome "pós-moderno",
mas, desesperado como está, isso é o de menos.
A ansiedade em
ficar olhando para o céu, com dúvidas se no horário marcado a quadra vai estar
alagada, também gera incômodo, sem falar, e falando, da ocupação dela por
outros bestas metidos a atletas.
O encordoamento da
raquete custa a metade de um tanque de gasolina; as bolas, outro tanto. Os
quinze quilômetros rodados até lá, mais despesas. Só um tolo permanece nesse
moído, e ele sabe disso.
Quando a pessoa
está inocente numa parada, tudo bem, mas permanecer sabendo, é burrice. Nem
Freud explica essa sede de sempre estar fazendo alguma coisa, nem que seja
enxugando gelo.
O gosto entra como
argumento para tanta ação desnecessária. Mas será que só tem desvantagens? Ah,
isso fica para outros profissionais enfatizar os benefícios com a saúde, mas o
objetivo aqui é falar mal do tênis.
Quem quiser que
diga que o ser humano precisa dessa socialização para se manter equilibrado;
precisa se integrar para não dar fim à sua existência, mas isso com ele,
ultimamente, não está colando.
Ele já defendeu a
tese de que para se manter vivo e atuante precisava de uma lista de atividades,
e quem não embarcasse nos trens da alegria existente na indústria do entretenimento
disputaria o primeiro lugar com um verme ou um jumento, e isso ele não queria
ser. Rato, também não, apesar de ter apenas trezentos cromossomos diferentes
desse roedor, mesmo assim ele se acha superior.
Mas o rato, o
verme e o jumento devem fazer congressos e mais congressos só para falar da
estupidez do ser humano. Eles riram bastante quando souberam que há seres que
passam horas açoitando uma bola pra lá e pra cá sem produzir alimentos. "Quanto
desperdício!", dizem esses seres inteligentíssimos e chamados de burros,
principalmente aquele que zurra.
A cegueira dele
pelo jogo chegou a tal ponto que espalhou pelos sete cantos do mundo que estava
começando a praticar tênis de quadra. Nem sabia ele que os cantos do mundo só
são quatro, mas estava tão aterrorizado com o tie-break que tudo, na cabeça
dele, ia a sete.
Neste momento de
dúvida existencial, é suspeito para falar, mas já confessou que gostaria de
voltar reencarnado num verme. É melhor num burro, não? Que nada, burro só
trabalha. Sim, mas quando se quer falar da masculinidade de um homem, se diz
que ele é um jumento. É melhor escolher ser jumento. Jumento joga tênis? Não,
claro que não! Então verme é melhor porque eu sei que rato também não joga, mas
sobre o verme eu tenho dúvidas, disse ele.
Heraldo Lins
Marinho Dantas Natal/RN, 12.06.2024 - 10h02min.
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