sábado, 11 de maio de 2024

LILITH, A MULHER SERPENTE - Cordel de Massilon Silva

 


LILITH A MULHER SERPENTE (Massilon Silva)

I

Peço licença aos leitores 

Para a história contar 

Da criação da mulher 

Direitinho sem errar 

Como ela surgiu na terra 

Aqui eu vou relatar. 

 

Diz o Velho Testamento 

Em Gênesis um vinte e sete

Que a mulher foi criada 

E a história não repete  

No mesmo dia que o homem 

Quem não concordar delete.

 

Pouco importa se depois 

Numa abordagem singela 

O mesmo livro sagrado 

Diz que foi de uma costela 

Esse novo nascimento 

Mudando a história dela.

 

Conta-se que o Criador 

Que de fraude não se acusa 

Criou Adão e Lilith 

O homem e sua musa 

É em Gênesis dois dezoito 

Que a coisa fica confusa.

 II

O texto logo depois 

Toma rumo diferente 

Introduz uma costela 

De maneira inteligente 

Mas essa parte da história 

Eu vou contar mais pra frente.

 

Dizem os livros antigos 

Que a mulher foi criada

Juntamente com o homem 

Da matéria empoeirada 

E assim Adão e Lilith 

Ambos nasceram do nada.

 

Adão e Lilith viviam 

No Éden sem mais ninguém 

Comiam frutos da terra 

E tudo que dela vem 

Domando animais selvagens 

Criando filhos também. 

 

Adão passava seus dias 

Pescando peixe graúdo 

De cação a surubim 

Pegava quase de tudo 

Arraia bagre badejo 

E também peixe miúdo.

III 

Pra variar o cardápio 

Andava pela floresta 

Caçando animais selvagens 

Coisa que ninguém contesta 

E quando chegava em casa 

Era sempre aquela festa.

 

Não existia o IBAMA 

Nem proteção de animais 

Pois no começo das eras 

Os bichos eram demais 

A caça era abundante 

Por aqueles matagais.

 

Só não caçava macacos 

Com eles tinha aliança 

Quando avistava um sagui 

Fazendo aquela festança 

Trazia o mico pra casa 

Pra divertir as crianças.

 

E havia outro porém 

Nessa atitude tão bela 

Que livrava a macacada 

De acabar na panela 

Era o medo que Adão tinha 

De uma tal febre amarela.

IV 

Também não matava onça 

Pois era bicho matreiro 

De jacaré tinha medo 

Por ser muito traiçoeiro 

Corria de dinossauro 

Quando avistava o primeiro.

 

Só o carneiro coitado 

Pra esse não tinha sopa 

Perseguia o animal 

Numa correria louca 

Pois da pele precisava 

Para fazer sua roupa.

 

Lilith a mulher amada 

Tinha os seus afazeres 

Nunca saía de casa

Cumprindo os santos deveres 

Varrer casa e lavar prato 

Eram estes seus prazeres.

 

Sair pra caçar veado

 Ou outro animal qualquer 

Ouvia logo a sentença 

Não é coisa de mulher 

Você não tem o direito 

De fazer o que quiser.

 V

Tomar banho só vestida 

Numa pele de cordeiro 

Assim mesmo bem composta 

Pra não mostrar o traseiro 

Topless e tanga fina 

Nem trancada no banheiro.

 

Vestir roupa provocante 

Pra ressaltar a beleza 

Ler escrever e contar 

Punia-se com firmeza 

Usar baton era crime 

Contra as leis da natureza.

 

Andar sozinha na selva 

Ou votar numa eleição 

Era atitude passível 

De severa punição 

A palavra liberdade 

Soava como agressão. 

 

Pensou um dia consigo 

Isto aqui não está certo 

Os direitos são iguais

 Assim está mais correto 

Qualquer hora largo tudo

E vou morar no deserto.

VI 

E muito determinada 

Assim pensou assim fez 

Chamou o varão de lado 

Falando com altivez 

Os direitos são iguais 

Hoje chegou minha vez.

 

Sua primeira atitude 

Num domingo de manhã 

Juntou cem lascas de lenha 

Aquela deusa pagã 

Fez uma grande fogueira 

E queimou seu sutiã. 

 

Empunhando um pergaminho 

Ali mesmo ela escreveu 

Fazendo mais que depressa 

Um cartaz onde se leu

Saiba que mexeu com uma 

Foi com todas que mexeu.

 

Com voz desembaraçada 

Disse na cara de Adão 

Não vou ficar mais por baixo 

Esta é minha decisão 

Na hora de fazer sexo 

Eu escolho a posição.

VI 

Que de agora em diante 

A força não sobrevenha 

Contra o que está decidido 

Retaliação não tenha 

Ou então será invocada 

A Lei Maria da Penha.

 

O grito de liberdade 

Que pareceu egoísta 

Ecoou por toda terra 

De forma tão realista 

Que fez de nossa Lilith 

A primeira feminista.

 

Daquele dia em diante 

Lilith saiu a vagar 

E Adão no paraíso 

Tomando conta do lar

Não sabia o que fazer 

Sem mulher pra lhe ajudar.

 

Aquela união primeira 

O mais perfeito consórcio 

Feito pela mão divina 

E sem somaçâo de esforços 

Agora estava desfeito 

Era o primeiro divórcio.

VII 

Adão ficou desolado 

Foi queixar-se ao Criador 

A vida no Paraíso 

Tinha ficado um horror 

Jeová então lhe disse 

Vou atender seu clamor.

 

Esperou ele dormir 

Pouco antes da aquarela 

Com uma leve incisão 

Retirando-lhe a costela 

Ali instantaneamente 

Fez uma linda donzela. 

 

Adão saiu satisfeito 

Dizendo com esta eu posso 

É uma mulher perfeita 

Mui grande é o poder vosso 

Em tudo ela me pertence 

Pois é osso dos meus ossos.

 

O que ele não sabia 

Nem contava como certo 

É que existisse viv'alma 

Rondando ali no deserto 

E que a astuta Lilith 

Continuava por perto.

VIII 

Assim viveu muitos anos 

Com Eva sua mulher 

Até que num certo dia 

Por um motivo qualquer 

Ela se viu enredada 

Nas artes de Lucifer.

 

E de repente cismou 

Que estava desejando 

Provar de uma fruta nova 

Que no mato estava dando 

Era uma tal de maçã 

Que ficava lhe tentando.

 

Uma fruta muito doce

De uma cor diferente 

Que só em olhar pra ela

Já se sentia contente 

Trazida nas mãos em concha 

De delicada serpente.

 

Adão que tinha perdido 

A sua Lilith tão bela 

O sossego do passado 

E ainda uma costela 

Preferiu ficar calado

E não discutir com ela.

IX 

Pois na sequência dos fatos 

Veja só o que se deu 

Quase num piscar de olhos

 A desgraça aconteceu 

Eva provou da maçã 

E Adão também comeu.

 

Houve arrependimento 

De um e de outro lado 

Porém não tinha mais jeito 

Era o primeiro pecado 

Vida boa e Paraíso 

Estava tudo acabado.

 

Na pressa em satisfazer 

A sua mulher querida 

Adão havia esquecido 

Recomendação trazida 

Que não devia tocar 

Na bela Árvore da Vida.

 

Expulsos do Paraíso 

Pela mão da onipotência 

Lá foram Adão e Eva 

Mais a sua descendência 

Todo mundo condenado 

Pela desobediência. 

Veio também o trabalho

 Exercido com desgosto 

Pelo homem aqui na terra

 Nem que seja por preposto 

Pois tem que comer o pão 

Com o suor de seu rosto.

 

Enfim ficou comprovado 

Que a serpente do mal 

Apresentou-se pra Eva 

Como ser angelical 

Trazendo assim para o mundo 

O pecado original.

 

Dizem também que ela escolhe 

A ocasião perfeita 

Porém nada está provado 

Tudo depende da seita

Se apodera da mulher 

Que com homem não se deita.

 

Há ainda quem afirme 

Como verdade divina 

Que a presença na terra 

Desse ente que fascina 

Traduz-se em duas palavras

Liberação Feminina.

XI 

Fica a lição para o homem 

Não aprende quem não quer 

Que seja neste planeta 

Ou noutro mundo qualquer 

Nem que viva dez mil anos 

Vai dominar a mulher. 

 

Os relatos mais antigos 

Sobre esta rara figura 

Datam do século sétimo 

Registrados nas gravuras  

De amuletos Arslan Tash 

Relíquias das escrituras. 

 

E aqui nos referimos 

Às escrituras pagãs 

Como a Torá o Talmud 

E os amuletos de Arslan 

Escritas há muitos séculos 

Antes da era cristã.

 

O épico de Gilgamesh 

De origem sumeriana 

Em Dois Mil e Cem a.C.

Em língua mesopotâmica 

Nas suas tábuas registra 

Essa passagem adâmica.

XII 

O alfabeto Bem Sirá

Em  antiga tradução 

Integrante da Torá 

Do Talmud e do Corão

Registra terem existido 

Eva Lilith e Adão.

 

Isaías trinta e quatro 

Da Bíblia original 

Antes do século quarto 

E da Vulgata atual 

Fez menção a essa mulher

De maneira magistral.

 

Foi o Concílio de Trento 

Que fez modificação 

Quando adotou o latim 

Como oficial versão 

E então deletou Lilith 

Numa clara intervenção. 

 

A história de Lilith 

Da maneira que contei 

Está nos livros antigos 

Não fui eu que inventei 

É só você pesquisar 

Do jeito que pesquisei.

XIII 







2 comentários:

  1. Verdadeira obra prima 👏🏻👏🏻👏🏻👏🏻 - Luciana Bezerra

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  2. Muito bom o assunto. Porém a formalização histórica de Lilith, a mulher serpente, foi uma invenção dos Annunaki para confundir os humanos e tornar essa deusa algo abominável. Lith e Emanuel são seres extradimensionais, ou seja estão em outra dimensão mais sutil da Suprema Criação, que sempre vêem a Terra para nos orientar e nos livrar dessa escravização Annunaki. -Francisco Queiroz

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