terça-feira, 23 de agosto de 2022

VOCÊ É MESMO QUE SER MEU IRMÃO! - Heraldo Lins

 


VOCÊ É MESMO QUE SER MEU IRMÃO!


É muito bom sentir que algo é agradável e, mais ainda, conseguir manter essa sensação ininterruptamente.

A bondade anda de mãos dadas com o bem e, quando alguém os carrega, é logo detectado no meio da multidão, pois os produtos dessa parceria logo se irradiam. O que é favorável tem um gosto diferente, geralmente é doce, suave e educado. 

Uma laranja educada é uma laranja doce. Podemos perceber que o limão sempre foi arrogante, mal-educado, e, apesar de ser pequeno, não tem medo da laranja duas vezes maior do que ele. 

No mundo das frutas, notamos que a banana é metida a besta, independentemente de estar verde ou madura. A jaca dá a impressão que manda em todas elas. É como se andasse usando uma blusa folgada com o rosto cheio de acnes. As uvas são crianças...  basta! disse o editor. Você vinha bem até fazer uma salada. Ninguém gosta de um texto assim. Inicia de um jeito, depois vai para outro... Assim não dá! Tem que ter dramaticidade.

Um dos rapazes empunhava sua metralhadora no confronto das gangs. Já havia derrubado dois, porém, fora atingido no peito e vinha sendo trazido pelos colegas do bando para morrer no barraco dos pais. 

A irmã, que brincava por perto, viu chegar o irmão moribundo e foi logo enfiando a mão nos bolsos para ficar com o dinheiro. A mãe se prostituía no bordel da esquina enquanto o pai chegava com a carroça de burro cheia de material para reciclagem. A vizinha veio ajudá-los e recebeu um tiro de fuzil na barriga trespassando o feto de oito meses. É só um número nas estatísticas, disse o repórter. 

Assim também é demais! desabafou o leitor olhando para a filha que o acompanhava na leitura. Fale de coisas amenas, mais sublimes. 

Adão sonhava com Eva todos os dias. Sonhos proibidos rondavam aquela mente masculina. Via Eva nua, mas não sabia para que servia. Achava diferente tanto quanto encontrava diferenças entre uma onça e um jumento. Até que um dia a serpente procurou a maçã e falou que era melhor explicar para a banana que precisavam viver abraçadas. A maçã ruborizou-se deixando sua prima, maçã verde, verde de inveja. 

Esse texto jamais vingará, diz o editor interferindo novamente. O texto é meu e faço dele o que quiser, responde o autor querendo dizer com isso que no processo editorial cada um assume seu papel. Não queiramos fazer igual a Tolstói que não concordou com o final que o editor queria dar para o livro intitulado Anna Karenina. Será que vamos cometer o mesmo erro?! Tudo bem! faça do jeito que você achar melhor. Comece outro, disse o editor. 

Há uma mulher roncando ao meu lado. O ronco nada mais é do que uma forma de expressar a conversa que se está tendo com os personagens dos sonhos. Eu gostaria muito de fazer uma central de experiências reprimidas. Todas as pessoas teriam liberdade em contá-las, e esse material seria disponibilizado em um portal para quem quisesse acessar. O problema desse portal, interfere o cara mais uma vez, é que as pessoas irão inventar sonhos que deixarão de sê-lo para se tornarem especulações. Não entendi, replica o escritor. Deixemos essa discussão para outro dia porque você está bêbado! Bêbado o quê?! Oi? Hein?! Eu ainda posso fazer um quatro com as pernas, olha aqui! Oi?! Hein!? Preste atenção!...


Heraldo Lins Marinho Dantas 

Natal/RN, 23.08.2022 — 09:19



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