segunda-feira, 22 de agosto de 2022

EXCESSO DE ASSUNTOS - Heraldo Lins









 EXCESSO DE ASSUNTOS


Tudo ou nada! Significa que consegui escrever duas palavras, e só. Não tenho condições, neste momento, de dizer algo aproveitável com elas duas. São palavras fortes dentro de um texto assim como vida ou morte. Há um leque de alternativas para usá-las, e, quando não se sabe onde chegar, apela-se para a metalinguagem. Usando palavras para falar delas próprias, não há o risco de se perder. A todo instante se navega perto do barco dos significados e esse conforto deixa o escritor bem tranquilo. 

Posso falar também do tempo, pelo menos lhe situo quanto ao claro e escuro. São três horas da madrugada. De posse dessa informação alguém pode dizer que não durmo direito, aí terei que justificar que dormi a tarde inteira e o restinho de sono acabou-se; ou então dizer que estou esperando uma notícia trágica ou, ainda, que estou indo para o aeroporto. 

São tantas as possibilidades, que o leitor desiste de acreditar no que está lendo. O leitor, igual ao escritor, quer transitar em uma estrada segura onde não tenha questionamentos nem pontos de vista que causem polêmicas, e, consequentemente, cansaço. 

Queremos o conforto nas ideias. Deus me livre de falar de Deus ou política, e mais agora que está perto das eleições. Mesmo que os dois temas andem de braços dados desde a pré-história, são temas delicados e que precisam de um embasamento teórico com domínio total da verdade e da mentira, respectivamente. 

É difícil para o artista usar a verdade em seu trabalho, já que a imaginação nem sempre vagueia por esse caminho. O caminho da verdade e da vida transporta o pensamento para o estágio da religião, e, para me aprofundar ainda mais nesse assunto, dei um pulinho no Google da esquina e tomei um copo de explicação. Ao voltar para meu palavreado natural, não deixei de votar a favor desse tira-dúvidas à disposição todo o tempo, o tempo inteiro. 

Antigamente havia prateleiras abarrotadas de livros requerendo tempo disponível para se conseguir o recheio de um texto. Agora, as coisas funcionam muito rápido, mas é preciso dançar na cerimônia dos sentimentos para dizer algo original. Se contar de forma rebuscada, os CDF dirão que se está plagiando Rui Barbosa. 

É uma tarefa difícil manter-se longe da acusação em ter o discurso elaborado por plágio ou inspiração, inclusive, escutar que apenas se usa, com maestria, o jogo de palavras.

Confesso que sou um grande plagiador da vida, mas não posso nem dizer que a "arte imita a vida" porque Aristóteles já disse primeiro, e muito menos dizer o contrário, pois Oscar Wilde, para mostrar ser o..., disse: "A vida imita a arte." Hoje em dia só nos resta falar do que não podemos falar porque tudo já foi dito. 

Deixemos Aristóteles e Oscar brigando lá por atrás do tempo, para vir à frente. Nesse front de batalha há um bocado de letras entulhadas prontas para serem arrumadas, e isso é o que conta. Sei que é bom ler e reler os clássicos, mas, sinceramente, acho um saco. Pronto, cometi o erro fatal de estar desestimulando a leitura dos clássicos. Ah! Como seria bom que isso acontecesse, era sinal de que influencio alguém em alguma coisa. 

Aqui em casa nem os pequenos me obedecem, então, seria ótimo contar com alguém que me obedecesse, afinal de contas, sou um ditador frustrado. Os únicos seres que me obedecem são as palavras, e essas, mesmo assim, às vezes, usam letras trocadas apenas para me “desmoraluzar”. Estão vendo!? Eu quis dizer DESMORALIZAR e a palavra fez questão de me “dIsmEralizar”. Outra vez não! Assim é demais… não é não, hein!?


Heraldo Lins Marinho Dantas

Natal/RN, 22.08.2022 — 06:17




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