sábado, 29 de janeiro de 2022

UMA DE MINHAS FRUSTRAÇÕES NO CAMPO DA LEITURA

 




Uma de Minhas Frustrações no Campo da Leitura (João Maria de Medeiros*)


Estive pensando muito hoje sobre as nossas fraquezas. E percebo que não são poucas, não é mesmo, caro leitor?

A gente , na verdade, procura ser melhor, chegar mais um pouco perto da perfeição.  Mas não é fácil; parece-me que algo nos tira do rumo certo, e nos faz retrocedermos.

Quero aqui confessar uma fraqueza, que já falei para  o amigo e colega, professor, poeta e grande escritor Gilberto Cardoso, nas nossas conversas sobre leituras e outras amenidades.

A fraqueza minha, de que tratei,  com Gilberto, repito, foi sobre a dificuldade de concluir a grande obra de Guimarães Rosa. Esta é uma grande fraqueza minha: não consegui ler totalmente o famoso livro de Riobaldo e Diadorim. 

No campo da leitura, enveredei cedo nas histórias em quadrinhos (Tex, Zagor, Histórias do Faroeste, etc), versos em cordéis etc.

Depois, já na graduação, lembro-me das obras machadianas, das poesias de Drummond, 

Manoel Bandeira, meu poeta preferido e outros mais, e nunca tive dificuldades.

Li obras fantásticas, como As veias Abertas da América Latina, de Eduardo Galeano, A História da Riqueza do Homem, de Leo Ruberman, que foi-me emprestado pelo hoje rei do mamulengo curraisnovense, Ronaldo Gomes. 

Obras inesquecíveis também foram as crônicas de Afonso Romano de Santana.

 Ainda há poucos dias, li e  reli para minha filha uma de suas mais importantes crônicas, Porta de Colégio. Lorrane gostou muito também, como alunos aos quais a indiquei.

Entretanto, já tentei , já retentei tantas vezes,  mas nunca consegui chegar perto de concluir Grande Sertão: Veredas.

Não sei se minha desistência à obra  se deve a uma linguagem difícil,  regionalista,  de um sertão diferente do meu.

Pra que se tenha uma ideia desta situação adversa , li o conto "A Terceira Margem do Rio", do  mesmo autor, que me foi indicado pelo mesmo colega e amigo, este com uma linguagem muito mais acessível e confesso que posso contá-lo oralmente a qualquer pessoa daqui a 100 anos. Adorei.

Já o grande clássico, não consegui lê-lo totalmente. Tem coisas que a gente não consegue explicar e  esta é umas das minhas fraquezas no campo da literatura que aqui  confesso.

Mas, como diz Geraldo Geraldo Vandré, "Quem sabe faz a hora/ não espera acontecer".

Quem sabe um dia...


*João Maria de Medeiros é educador , cordelista e cronista.






11 comentários:

  1. Dileto João Maria, muito provavelmente todos os leitores têm suas frustrações quanto a determinados autores ou obras. Conheço quem tenha lido e achado um saco O velho e o Mar, Moby Dick e alguns que tentam, mas não conseguem concluir, por exemplo, Crime e Castigo. Outro, porém, que não gosta de Cem Anos de Solidão, relerá a obra de Dostoiévsky com renovada satisfação. O interessante de sua experiência é que você ainda não se deu por derrotado. Perdeu batalhas contra si mesmo, mas não a guerra. Um dia, quem sabe, realizará o sonho de ler o que lhe parece um pesadelo. No fim, à semelhança do personagem alegórico citado por Isaías, você verá o fruto do penoso trabalho de sua alma, e ficará satisfeito. - Gilberto Cardoso dos Santos

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  2. Agradeço pelo incentivo!!l

    João Maria de Medeiros

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  3. Prezado João Maria. Eu também tive essa dificuldade, e só foi na terceira tentativa que concluí a obra. Quando menino eu escutava muito essa história que Guimarães Rosa conta no livro, de uma mulher que se passa por homem e no final é descoberto pelo amigo que se sente atraído por ele(a). O livro na verdade se resume às dúvidas que emergem da homossexualidade dentro do cangaço. No meu entendimento, em uma folha se consegue sintetizar a obra. O resto são artifícios criados pela genialidade de João Guimarães Rosa para entreter alguns leitores e deixar outros angustiados. Nisso ele é mestre. Boa leitura.

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    1. Obrigado, Heraldo. Oxalá que eu consiga. Duas coisas eu tenho: força de vontade e o livro na mão. Uma me falta: chegar à última página; à última linha. Hehehe

      Grande abraço.

      João Maria de Medeiros Dantas

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  4. Estimado João Maria. Somos os bons teimosos em fortalecer nossas raízes. Ser aldeão é saber o que significa uma vereda no meio de uma caatinga espinhenta.
    Estimar o valor que tem abelha em produzir o mel, muitas vezes retirando a água do fundo de cacimbinha, onde nenhum outro animal consegue descer à fenda e alcançá-la. O mais difícil, encontrar o nectar na estação seca, quase inexistente.
    Bem, você conhece isso tudo e mais o que eu gostaria de ressaltar aqui. No entanto, nós conhecemos as agruras do homem que puxa "cobras pros seus pés", o que enfrenta o ermo dos carrascais vestido de gibão a procura do boi mandingueiro.
    Bem você não se frustração, você é um professor, que oficia na oferenda de semear as luzes do saber.

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    1. Caríssimo Dr. Jair Eloi de Souza, grande homem do direito.
      Suas palavras são como água que chega pra quem está na Caatinga, longe da aldeia e mata quem esta matando o aldeã. Uso aqui neste trecho um pouco do seu jeito
      de falar, de valorizar as coisas e causos do nosso Sertão.

      Grande abraço, mestre!!

      João Maria de Medeiros Dantas

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  5. Caro João Maria, as leituras que fazemos assim como as que não conseguimos concluir dizem muito de nós e dos momentos dedicados a essas leituras. Não consegui concluir a leitura de o processo de Franz Kafka.

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    1. Verdade, amiga e grande incenti adora.
      Grande abraço.

      João Maria de Medeiros

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  6. Caro João,
    ante seu ato de confissão, motivado você por uma saudável angústia, senti o desejo de oferecer-lhe, em pequena dose, um lenitivo provado por quem já padeceu dessa salutar aflição.
    Ler um grande clássico é como escalar montanhas. Exige tempo, vontade, esforço, empenho.
    Tudo isso você já tem.
    Muitas vezes, uma grande obra pode, a nosso ver, revelar-se como um abismo ou uma ponte à nossa frente.
    Quando o livro nos coloca diante do abismo, de ideias e conceitos e linguagem, pode motivar o nosso recuo por razões pragmáticas ou ideológicas diversas...
    Mas, quando o livro nos constrói uma alta ponte sobre o abismo, cabe-nos prosseguir na jornada, no rumo do destino almejado.
    Como você não temeu, não recuou, não desistiu do plano traçado, é preciso retomar o itinerário certo e seguro.
    Lembro aqui das lições do grande linguista Saussure: “O ponto de vista cria o objeto”. Você já dispõe de seu ponto de vista, objeto de sua empreitada interpretativa.
    A palavra tem dupla face: significante e significado. O significante, sonoro ou gráfico, faz vibrar nossa sensibilidade. Contudo, o significado requer recepção e tradução para se deixar decodificar nos seus múltiplos e variados matizes semânticos e discursivos.
    Então, diante do Grande Sertão, repleto de veredas, não hesite em abrir as porteiras...
    Para tanto, adquira um glossário que o ajude a decifrar os imaginários e extemporâneos sentidos dos muitos vocábulos que sustentam a beleza da narrativa épica do multifacetado mestre.
    Portanto, não adentre a obra monumental como quem faz uma breve visita. Hospede-se na obra. Conheça os personagens. Observe os cenários. Escute suas conversas. Desconfie. Indague. Reflita. A obra não se faz relevante somente pela temática, nem pela trama.
    A linguagem imagética dessa obra do tamanho do sertão é o que ela tem de mais bonito, arquitetônico, encantador. Não é apenas uma fachada brilhante para encobrir uma história comum. É arte, é estético, é uma gramática do belo.
    Ademais, para acabar de empacotar esse lenitivo, lembro-lhe que não termine a caminhada só para mostrar a si próprio que foi possível...
    Reserve um tempinho a cada dia. Escale alguns metros a cada dia. Aprecie cada episódio, cada paisagem. Absorva suavemente cada aroma das veredas.
    Depois de concluída essa viagem ao passado, você retornará para um futuro iminente, sentindo-se mais leve, mais livre, mais límpido.
    Abraço.

    Professor José Luz

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  7. Sem palavras para agradecer todo o incentivo tracejado pelo grande mestre, Doutor Zé da Luz.

    Tentarei, mais uma vez, seguindo os meios por o amigo apontados.

    Um grande abraço!

    João Maria de Medeiros


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