quinta-feira, 27 de janeiro de 2022

A LEALDADE DE UM CÃO, EM CORDEL NO MEU SERTÃO - Jair Eloi de Souza

 



A LEALDADE DE UM CÃO, EM CORDEL NO MEU SERTÃO.

Tempos idos. De quem o oitão da memória, permanece como uma sombra fragmentada e de idéias vagas, porém, ainda ilustrativas das coisas de um Sertão mítico. Dei de cara com um cordel, que noticiava a perversidade de Pedro Siqueira, assassinando o seu vizinho, João Caetano, tido como um homem de virtudes.
Esse fato, notório na literatura cordelista, não em si, pela crueldade do assassino, mas, pela lealdade de um pequeno cão, pertencente a João Caetano, que teve um papel preponderante no desvendar dessa história.

Pedro Siqueira atrai seu vizinho João Caetano para lugar ermo, e o atinge com um disparo de antiga Lazarina*. Arrasta-o para cova que escavara e o enterra.

Nas cercanias deixa vestígios de sangue, que se decompõe, e atrai bando de urubus. Aves carnívoras e famintas, começam a escavar o corpo do sepultado. Logo, pelo tino do seu faro, o cachorro (vira-lata) pertencente ao inditoso João Caetano, acorre até o local da chacina, que dista da casa deste, 1,5 km., e assume a defesa do corpo do seu dono, que já começa ser atingido nos pés pelas aves.

Durante dois dias, defendeu a cidadela da honradez por quem nutria afeto. Os sitiantes, parentes, atraídos pelos rasantes das citadas aves, chegam ao local do sinistro, e lá estava o pequeno cão exaurido, de língua de fora, prestando a mais fiel e instintiva lealdade ao seu amo.




*Lazarina. Espingarda de soca, de coronha esguia, fabricada pelo armeiro de nome Lázaro, nas terras d`além mar.
* Eu tinha apenas cinco anos de idade, quando um velho matuto contador de histórias, me ofertava essas pérolas, da saga nordestina.
J.E. S.

Jair Eloi de Souza (Advogado, educador, poeta e prosador)

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