segunda-feira, 29 de novembro de 2021

...GOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOL... - Heraldo Lins



...GOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOL...


O fanatismo é bem mais comum do que se imagina. Há vários tipos, o religioso é apenas um deles. Recentemente veio à tona o fanatismo esportivo. Duas equipes, ao se digladiarem, pararam o país. 

_Antes ou depois da partida? 

Perguntavam os fanáticos ao agendarem seus compromissos para o dia 27 de novembro de 2021. As duas equipes fizeram seu teatro em um estádio lotado, digo teatro porque é tudo combinado. Determinado ano um ganha, no outro, mais um, e isto é o que mantém o rebanho correndo. É um grandioso estratagema montado para vender ingressos e patrocínios.

Faz parte da estratégia pagar aos líderes de torcida para estimularem a rivalidade. Este trabalho é muito sutil, desde vendas de camisetas até contratação de comentaristas esportistas. “Vai que é tua Taffarel” ainda hoje é repetido por aí afora. Este é só um exemplo do quanto é forte a influência desses comentaristas televisivos. Há até livros contando a história do clube para, caso sejam derrotados, o passado de vitórias sirva de muleta para que a tristeza não termine em choro. 

Emocionar-se é bom e dá um sentido diferente no cotidiano, mas é bom também desconfiar se o objetivo final do estímulo é colocar uma venda para os problemas urgentíssimos. Lembrando que na hora de destinar verbas, os gritos nos estádios valem mais do que a dor dos cancerosos; promover campeonatos é “melhor” do que equipar escolas e professores.

 A pressão é grande para se tornar um fanático. Quem não se adapta a ser um igual no meio da multidão, passa a ser discriminado pelo grupo em que se está inserido: são churrascos cancelados; viagens desviadas; aniversários esquecidos. A pessoa tem que torcer, senão fica de fora. No local de trabalho, o placar é motivo para discussões acaloradas, e quem vai trabalhar, sem partilhar daquele besteirol comunitário, é olhado de forma atravessada.   

Conversando com um amigo, ele disse que tinha consciência do seu fanatismo esportivo, mesmo assim, aceitava em nome de ser mais feliz torcendo. Baixa o “cangote” para que a canga da falsa felicidade seja nele colocada, e não está nem um pouco preocupado com que os outros vão dizer, porque os outros somos minoria, e só. 

_ Se não houvesse um objeto para se alienar, teríamos que inventá-lo, disse-me, achando graça. 

Muitas vezes fiz uma programação sozinho por não ter time para financiar e nem dízimo para pagar. Diante da minha exclusão social, vou ter que me alienar, não aguento mais, e na próxima decisão da copa libertadores da América, torcerei por algum time, de preferência, o que ganhar. Serei mais um fanático consciente nesta PÁTRIA ALIENADA BRASIL! UHUUU!



Heraldo Lins Marinho Dantas

Natal/RN, 29.11.2021 – 06:40



4 comentários:

  1. Muito bom, Heraldo. Sábado, vendo a expectativa dos torcedores, tive pensamentos parecidos. "Dez!", como diria o torcedor Nailson. - Gilberto Cardoso.

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  2. Obrigado Gilberto...

    Nailson uma certa vez ficou danado porque eu fiz uma crônica parecida quando o Brasil foi campeão do mundo e foi publicada no jornal de Santa Cruz...kkkkkk...acho que ele irá ficar danado mais uma vez...vou mandar para ele...

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  3. Excelente, Hera! Vc sempre à frente de nossos estímulos, ansiedade e expectativas! Eu entendo que não se pode levar a vida muito a sério. A vida, além de uma grande sacanagem que fizeram com a gente, é um saco de ilusões. Às vezes a fazemos boa, às vezes nos perdemos no labirinto da razão. Pra que pra tudo buscar explicacão? Eu só não gosto de fumar uma maconha vencida! Aí é de lascar! Alienação é foda! Valeu, my old friend. HERA! Continue assim, à frente de seu de seu tempo!

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