segunda-feira, 14 de dezembro de 2020

ELEIÇÃO É ASSIM MESMO - Heraldo Lins

 


ELEIÇÃO É ASSIM MESMO

Fui contratado para fazer o papel de um tatu, e como os tatus são famosos por dormirem demais, estou ensaiando com afinco. O diretor do filme pediu que eu cavasse um buraco e fosse ensaiando lá dentro. Cavei dois. Um para mim e outro para o tatu que é meu professor. Até que estou gostando. O papel é fácil de interpretar. Apenas fechar os olhos e ficar dentro do buraco dormindo. Se o sono não chegar, é bom fingir, afinal o cachê é alto. Sei que a vizinhança vai dizer que estou no buraco, o que não deixa de ser verdade, mas não é bem assim. Apesar de o buraco não ser bem visto na nossa sociedade, é por ele existir que nós existimos. Depois que estou convivendo mais de perto com o buraco, foi que vi o seu verdadeiro valor. Fiquei até com sentimento de culpa por nunca ter lhe dado uma maior atenção. Para reparar essa ingratidão é que proponho criarmos o dia do buraco. Sugiro o mês de janeiro para comemorar. Alguém pode até perguntar: por que janeiro? Explico: levando-se em consideração que no mês de dezembro todo mundo gasta além do que ganha, e, por conseguinte, trinta dias depois o mundo todo está dentro do homenageado, restaria somente cantar os parabéns. Com esse argumento fica decidido, por mim e pelo tatu, que o buraco será comemorado no mês de janeiro. Só espero que o outubro rosa não fique com ciúmes e queira articular com o novembro azul para desmanchar essa comemoração tão importante. Esses dois coloridos só estão em evidência porque o buraco os tem ajudado bastante. Então não tem mais o que discutir. Vamos contar os votos. Tivemos a nosso favor o voto do tatu, novembro azul, dedo médio e do próprio buraco. A lei está aprovada e entra em vigor na data da sua publicação. VIVA o mês do buraco...!   VIVA...!    VIVA janeiro preto...!   VIVA...!


Heraldo Lins Marinho Dantas (arte-educador)

Natal/RN, 10/12/2020

showdemamulengos@gmail.com

84-99973-4114

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