ELEIÇÃO É ASSIM MESMO
Fui contratado para fazer o papel de um tatu, e como os tatus são famosos por dormirem demais, estou ensaiando com afinco. O diretor do filme pediu que eu cavasse um buraco e fosse ensaiando lá dentro. Cavei dois. Um para mim e outro para o tatu que é meu professor. Até que estou gostando. O papel é fácil de interpretar. Apenas fechar os olhos e ficar dentro do buraco dormindo. Se o sono não chegar, é bom fingir, afinal o cachê é alto. Sei que a vizinhança vai dizer que estou no buraco, o que não deixa de ser verdade, mas não é bem assim. Apesar de o buraco não ser bem visto na nossa sociedade, é por ele existir que nós existimos. Depois que estou convivendo mais de perto com o buraco, foi que vi o seu verdadeiro valor. Fiquei até com sentimento de culpa por nunca ter lhe dado uma maior atenção. Para reparar essa ingratidão é que proponho criarmos o dia do buraco. Sugiro o mês de janeiro para comemorar. Alguém pode até perguntar: por que janeiro? Explico: levando-se em consideração que no mês de dezembro todo mundo gasta além do que ganha, e, por conseguinte, trinta dias depois o mundo todo está dentro do homenageado, restaria somente cantar os parabéns. Com esse argumento fica decidido, por mim e pelo tatu, que o buraco será comemorado no mês de janeiro. Só espero que o outubro rosa não fique com ciúmes e queira articular com o novembro azul para desmanchar essa comemoração tão importante. Esses dois coloridos só estão em evidência porque o buraco os tem ajudado bastante. Então não tem mais o que discutir. Vamos contar os votos. Tivemos a nosso favor o voto do tatu, novembro azul, dedo médio e do próprio buraco. A lei está aprovada e entra em vigor na data da sua publicação. VIVA o mês do buraco...! VIVA...! VIVA janeiro preto...! VIVA...!
Heraldo Lins Marinho Dantas (arte-educador)
Natal/RN, 10/12/2020
showdemamulengos@gmail.com
84-99973-4114
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Comentários com termos vulgares e palavrões, ofensas, serão excluídos. Não se preocupem com erros de português. Patativa do Assaré disse: "É melhor escrever errado a coisa certa, do que escrever certo a coisa errada”