MEUS
“LERES”
Sim,
ousei substantivar o verbo LER. Verbo fundamental na minha vida tão
simples. Uma boa parte desse verbo esteve sempre comigo. Desde cedo
me apaixonei pela língua portuguesa. Comecei a me importar com as
palavras e suas frases, seus sentidos, suas verdades, suas mentiras e
suas curiosidades.
Segundo
minha mãe, aos dois anos e meio de idade eu tinha o péssimo hábito
de “corrigir” a fala alheia. Isso lhe causava constrangimentos
disfarçados em risos quando acontecia – “não é bassoura, é
vassoura”, “não é ponhar, é colocar”, dizia a criancinha
insolente que eu era. “ Mas, mãe, eu não falava errado com essa
idade? Aquelas dificuldades comuns na aquisição da linguagem? ”
“Não, minha filha, tu não... teus irmãos sim, mas tu já
aprendeste a falar certinho desde sempre. ” Então tá... foi minha
mãe que falou!
Aos
quatro anos aprendi a ler, sozinha, causando espanto em todos que me
cercavam. Talvez o espanto viesse do fato de que eu era a terceira de
quatro irmãos e isso não aconteceu com nenhum dos outros três.
Naturalmente, eu não tenho lembranças desses tempos tão
longínquos. Lembro-me apenas que eu gostava de andar de ônibus e
ler os letreiros na frente das lojas por onde íamos passando...
Muito
bem, se não me lembro da época de minha alfabetização, lembro-me
um pouco mais de quando comecei a ler. Na minha casa sempre tinha
gibis, livrinhos de bolso, que meu pai lia sempre e palavras
cruzadas. Na biblioteca da escola peguei a Coleção Vagalume e
outros, que não lembro agora. Muitas vezes eu preferia ficar em casa
lendo ou caçando palavras do que brincando com as outras crianças.
Li muito em “horário do recreio” na escola, em ônibus de viagem
ou urbanos, sala de espera, restaurantes.
E
isso me faz lembrar de muitas pessoas que hoje em dia dizem que só
vale a pena ler se forem livros eruditos... Não posso concordar com
isso. O fato de eu ter começado a ler escritas simples, criaram em
mim o hábito de ler. Ainda adolescente li o
Pequeno Príncipe,
um clássico da literatura universal. Não gostei da leitura, na
primeira vez que o li. Hoje, depois de várias leituras, é um dos
meus livros preferidos.
Acho
a literatura brasileira um luxo, e tenho pena de quem opta por não a
ler. E não falo apenas dos mais canônicos, mas de vários autores,
como Clarisse, Machado, Rosa, Érico Veríssimo, Amado, Quintana,
Hilda Hilst, Cecília Meireles e tantos outros. E também temos na
literatura contemporânea autores dignos e competentes em suas
escritas.
Dentro
da literatura universal, com certeza amo os clássicos como
Cervantes, Virgílio, Homero, Dante e tantos outros. Tenho uma paixão
especial pelos escritores franceses como Vitor Hugo, Camus,
Baudelaire, Montesquieu e principalmente por George Sand e Gustave
Flaubert, cuja amizade e obra são objetos de meus estudos
atualmente.
Meus
leres são muitos! Variados! E meio fanáticos.... Já recusei
convites para festas, churrascos, barzinhos e até viagens para ficar
em casa traduzindo. Adoro esmiuçar a obra de um autor, digerir,
escrever a respeito e depois passar para outro autor. Claro que isso
nem sempre é possível, mas quando consigo, a felicidade é grande!
Recentemente fiz isso com a escritora iraniana contemporânea
Chahdortt Djavann, cuja literatura me impressionou muito e
positivamente, e atualmente o faço com Sand e Flaubert.
Atualmente
meu prazer com a leitura se expandiu, e executo o ofício e a paixão
de traduzir obras literárias do francês para o português. Ao todo
são oito obras traduzidas e duas publicadas.
Liliane
Mendonça – outubro/2019
Bacharela
em Letras pela Universidade Federal do Paraná
Traduções
publicadas: “François, o menino abandonado”, de George Sand e
“Stephan Wassiliew”, de Jules Laforgue. (Romances)
Inspirador exemplo! Tive a oportunidade de ler François, o menino abandonado. De fato, uma ótima leitura.
ResponderExcluira literatura é uma arma poderosa, culturalmente falando.. e George Sand foi uma escritora fantástica!
ResponderExcluirCarrego a honra da amizade e influência na minha formação.
ResponderExcluiré muito bom saber que há pessoas assim como você!Continue firme na sua jornada, pois os resultados já se refletem nos livros maravilhosos que você traduziu! Grandes inspirações e muitas novas leituras e traduções para você.
ResponderExcluirExcelente escrita de Liliane Mendonça sobre "seusleres", Adorei,voltei a minha infância, e fiquei aqui refazendo minhas memórias de leituras!
ResponderExcluirBelíssima reflexão. Ler é vida!
ResponderExcluirUau, adorei. Seu trabalho como tradutora é ótimo. Sz
ResponderExcluirExcelente texto da Liliane, assim como as traduções primorosas dos dois livros, o François e o Stephan, que eu já li, sendo que pelo François eu me apaixonei logo no primeiro diálogo, desejando eu mesma estar ali para acalantar aquela criança, mesmo sendo fictício. Parabéns Liliane! Continue nos trazendo belíssimas traduções como estas. Nós, os leitores inveterados, merecemos. Obrigada.
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