quarta-feira, 15 de maio de 2019

POR QUE EU DEFENDO TOQUINHO - Renan ll Pinheiro




Começo essa postagem dizendo que, ao contrário da minha mãe, nunca tive Toquinho como o melhor parceiro de Vinícius. Para mim, e creio que não estou sozinho nessa, este é sem dúvida Tom Jobim.
Contudo, só um insensível não reconheceria os méritos dele. Não só ele foi parceiro do poetinha em preciosidades como "A tonga da mironga do cabuletê", "Tarde em Itapoã", "Sei lá - A vida tem sempre razão", "O filho que eu quero ter (cuja letra foi criada para a melodia composta previamente pelo músico, depois de uma conversa onde lhe revelou que estava pensando em ter filhos), "Carta ao Tom 74", como ainda colocou música no soneto "São demais os perigos desta vida", que ele escreveu para a abertura da peça "Orfeu da conceição", feito que espantou o veterano porque considerava quase impossível musicá-lo. Sem mencionar sua contribuição para a música infantil brasileira, através de clássicos como "Arca de Noé", "Aquarela", "O caderno" e "Ao que vai chegar" - as duas últimas parcerias com Mutinho. Além de tudo, é um exímio violonista, chegando a ser considerado, tempos atrás, um dos melhores do Brasil.
Por que estou recordando isso? Porque, devido a uma opinião política que eu mesmo considero infeliz (e penso que Vinícius concordaria comigo), mas que ele tem o direito de expressar (estamos numa democracia, recordam?), vi insultos dirigidos a ele nas redes sociais apelidando-o de "tosquinho" e dizendo que ele só subiu na vida e na carreira porque "escorou-se" em compositores de talento. Alto lá! Ele pode ser melodista em vez de letrista, mas sem um melodista de talento a letra não fica impressa na alma de quem a escuta. Sugiro que quem disse coisas tão ridículas escute alguma das obras que elenquei, ou faça uma pequena busca na Internet.
Por mais que os ânimos estejam acirrados, não podemos abrir mão da civilidade, ela é que nos distingue da barbárie e da arbitrariedade. Critico a postura do cidadão, mas não retiro os méritos do artista, esses ele sempre terá. Ou estamos voltando aos exageros dos Anos de Chumbo, onde o Pasquim crucificou Simonal, Henfil "enterrou" Elis Regina e Marília Pera (aquela por ter interpretado a "vendida" Carmen Miranda num musical e a outra por ter participado das Olimpíadas do Exército, provavelmente pressionada), e a bela "Sabiá" foi vaiada na fase brasileira do "III Festival Internacional da Canção"?
Não contem comigo para irracionalidades de nenhuma espécie.

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