BORDANDO PALAVRAS COM PIERRE E HÉLIO CRISANTO (Gilberto Cardoso dos Santos)
O que é poesia, professor? Poesia
é devaneio, meu amigo, como disse Bachelard. Poesia é fugir da linguagem comum,
atrapalhar a ordem natural do discurso, saltar pra fora da asa, como disse Manoel
de Barros.
Hélio Crisanto, poeta santa-cruzense,
de Campestre, disse-me que recebeu a incumbência de escrever um cordel sobre um
tal de Pierre Bordeau e, naturalmente, estranhou a pronúncia do sobrenome, que
em nossa língua soa como verbo “perfeitamente” conjugado, sem deixar margem
para dúvidas: - bordou ou não bordou? -
E ficamos a conversar a respeito da proposta. No meio de nossas divagações,
criei um mote (Pierre bordou a blusa que Cláudia Cunha comprou) E Hélio fez
outro (Pierre bordou a saia da mãe de Napoleão), e assim foram produzidas
algumas estrofes. Vejamos:
Gilberto Cardoso:
Pierre, quando menino,
adorava confusão
Bordava e pintava o sete
comia que só o cão
com gente da sua laia
Pierre bordou a saia
Da mãe de Napoleão.
Se ele bordou ou não
É melhor ficar calado
O eleitor de Bolsonaro
Vai ficar meio cismado
Com o que ele aprontava
Pois se Pierre bordava
Com certeza era prendado.
Pelo que observei
Pierre era educador
De formação esquerdista
Vermelha era sua cor
Educador destemido
Que ficou mais conhecido
Na função de bordador.
Na defesa dos aflitos
Pierre era muito afoito
Sua comida preferida
Era café com biscoito
Ele era um infitete
Depois que pintava o sete
Pierre bordava oito.
E Hélio continuou:
Napoleão Bonaparte
Quando era o rei da França
Fez uma grande festança
Juntando o povo da arte
Botou a mãe como parte
Dessa comemoração
E num ato de paixão
Levou a velha na praia
Pierre bordou a saia
Da mãe de Napoleão.
Pierre era meu colega
Nós caçava passarinho
Ele era bem baixinho
E ajudava uma cega.
Gostava de música brega
Roubava manga e mamão
Tornou-se um bom artesão
Seguidor de Malafaia
Pierre bordou a saia
Da mãe de Napoleão.
Prosseguiu Hélio:
Pierre quando menino
Tinha fama de teimoso
Por ser muito corajoso
O chamavam Virgulino
Torava corda de sino
Era ruim que só o cão
Entre tanta profissão
Já fez forro de “cangaia”
Pierre bordou a saia
Da mãe de Napoleão.
Gilberto Cardoso:
Pierre era professor
Por um décimo reprovava
E o povaréu reclamava
De seu imenso rigor
Então o governador
Tirou ele da função
E ele achou seu ganha-pão
Fazendo arte em cambraia
Pierre bordou a saia
Da mãe de Napoleão.
Poesia é isso, uma “útil
inutilidade” que resulta num sorriso, ainda que breve, ou faz cair uma lágrima
indevidamente represada. O cordel sobre Pierre (ainda) não saiu, mas bordamos essas
bobagens a respeito dele.
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