ENTREVISTA COM ANTONIETO PEREIRA, QUADRINISTA
Entrevistador: Gilberto Cardoso dos Santos
GCS.: Caro Antonieto, gostaria que começasse
essa entrevista falando-nos um pouco sobre suas origens familiares e
geográficas.
AP.: Bom, caro Gilberto, as origens da minha família é uma mistura de
espanhóis e portugueses. Os meus avós viviam na região da Paraíba, região aqui
próxima da nossa, aqui perto de Nova Floresta. Segundo as informações que minha
mãe me contava em vida o avó dela, meu bisavô, era um espanhol que estava
fugindo das precariedades na época em seu país, ao vir parar aqui em nosso país
se embrenhou nas matas e conseguira formar uma família com uma “Índia Cabocla”.
E as origens de meus avós paterno, o que sei é que eles eram descendentes de
Portugueses. A minha família é uma Junção de “Pereiras” por parte de meu pai e
“Ferreiras” por parte de minha mãe.
GCS.: Até que série estudou? Fez algum curso
de desenho ou aprendeu tudo por conta própria?
AP.: Consegui concluir os estudos agora há pouco tempo, em 2013. Não,
não fiz nenhum curso, aprendi na marra mesmo até porque na minha época não
tinha as facilidades que a garotada tem hoje, livros, vídeos na internet que
ensinam facilmente qualquer um aprender a desenhar. Naquela época não tinha
nada disso, como a nossa geração sabe. Era uma época em que a gente nem tinha Internet
e muito menos sabíamos que ela iria existir um dia. Foi copiando mesmo os
desenhos das minhas revistas em quadrinhos que eu colecionava. Elas eram as
minhas fontes, meus mestres do aprendizado.
GCS.: Quando começou seu envolvimento com as
histórias em quadrinhos?
AP.: Bem, tudo começou quando a minha irmã me presenteou com uma revista
em quadrinhos intitulada “O CASAMENTO DO TIO PATINHAS – PARTE 2”, eu tinha uns
9 para uns 10 anos na época, eu estava começando a gostar de ler, mas nunca
tinha lido quadrinhos antes. Depois comecei a conhecer um primo meu que
desenhava muito histórias em quadrinhos de faroeste para ele mesmo, Francisco
era o nome dele, mas era muito conhecido por “CHICO”, um baixinho que desenhava
muito e que morava no Paraíso. Bem,
depois que vi os desenhos dele eu comecei a descobrir essa vocação tentando
copiar os desenhos das minhas revistas, foi daí que o meu interesse por
Histórias em Quadrinhos cresceu ainda mais até me tornar o que sou hoje.
GCS.: Fale-nos sobre seus primeiros desenhos
e da primeira revista que fez.
AP.: Meus primeiros desenhos, ou meus primeiros rabiscos vamos assim
dizer, eu comecei no chão, pode parecer estranho, mas foi assim que comecei a ter
o prazer de sentir a sensação de rabiscar meus primeiro desenhos. Eu e um
colega meu carregava giz da escola e ia para a casa dele fazer desenhos no
chão, era um momento bom aquele. Como todos sabem, quando a gente vem tomando
gosto por uma coisa a gente não para mais, não é mesmo? Pois bem, aos poucos eu
comecei a me interessar pela linguagem das histórias em quadrinhos, foi onde
comecei a tentar criar as minhas primeiras histórias, inventar para ser mais
claro. Com os meus 16 anos eu e uns colegas resolvemos inventar a nossa
primeira revista em quadrinhos em nossa cidade, ela se chamava “A TURMA DO
JOCA”, era uma revista infantil onde a gente apresentava nossas primeiras
criações infantis que era Joca e sua turma e Cara de China, que foi uma criação
de Erinaldo Santos (Neném), um grande desenhista que na época morava aqui e eu
admiramos até hoje, apesar dele residir em Natal. O ano em que lançamos a nossa primeira revista foi em 1991, foi uma
produção feita em mimeógrafo eletrônico que era bastante caro na época, mas
graças ao apoio do Campus Santa Cruz (UFRN) a gente conseguiu realizar o nosso
sonho. Quero aproveitar aqui e agradecer o professor Marinho que na época era o
diretor do Campus de Santa Cruz. Ele foi um grande incentivador para a gente
nunca desistir de nossos sonhos.
GCS.: Que artistas dos quadrinhos lhe serviram e ainda servem de inspiração?
AP.: Cara, são tantos viu, mas vou dizer os principais que me influenciaram,
começando pelos estrangeiros: Frank Miller, John Byrne, Bilau. Agora os
brasileiros: Mozart Couto, Flávio Colin, Watson Portela. Esses são os
principais, existem mais, mas esses são os mais que me inspiraram.
GCS.: Você acha que as revistas em quadrinhos
poderiam contribuir com a educação do país? Fale-nos sobre isso.
AP.: Sim, claro, e muito. Eu vejo que se as escolas vissem a importância
das revistas em quadrinhos na alfabetização das crianças, a gente teria
gerações de leitores e muitos formados em nosso país, mas como o preconceito
ainda é grande do estado em relação em aceitar esse método nas escolas que
estamos tendo uma dificuldade imensa em formar gerações de alfabetizados de
verdade. É só pegarem uma criança de agora que lê quadrinhos e uma que não lê
que veremos quem se sai melhor em nível de leitura. A gente sabe também que um
cidadão que lê e é instruído ele tem mais chances de se tornar uma pessoa mais
esclarecida sobre o que ocorre ao seu redor. Infelizmente, como todos nós
sabemos, isso não é prioridade do estado; sabem eles que quanto mais uma
população for analfabeta, melhor ainda para poderem controlar.
GCS.: Você tem feito importantes parcerias em
suas produções. Conte-nos um pouco sobre elas.
AP.: Bem, sobre algumas parcerias que fiz posso citar algumas como a que
Fiz com José Salles de São Paulo, na qual a gente produziu uma série em cinco
partes chamada de “TIRAS vs MONSTROS”, onde a gente apresentou as aventuras de
dois policiais que enfrentavam monstros. Outras mais foram com Alcivan
Gameleira de Pau dos Ferros, no qual eu ilustrei algumas histórias de seu
personagem o “CORCEL NEGRO” e o “PABLO RATO”. Outro que tive uma parceria foi o
também pau ferrense Francinildo Sena, em que ilustrei histórias do seu
personagem “CRÂNIO”, um alienígena que veio parar em nosso planeta Terra. Para
terminar, gostaria de mencionar as grandes parcerias que tive com Jalmir
Bezerra, apesar de ele ter procurado o ramo da publicidade em busca de sua
sobrevivência, Marcos Cavalcanti, onde ilustrei “TIRAS e CHARGES” para o
saudoso Jornal “MEMORIAL SANTACRUZENSE”, ao qual ele editava, e sem falar em
ilustrações e capas para livros tanto de sua autoria e coletâneas poéticas. E
por fim, Alessandro Nóbrega, de quem tive a honra de ilustrar seu primeiro
livro infantil “O BESOURO E A BORBOLETA”, que foi lançado em 2016. Ótimas
parcerias, e espero muito mais.
GCS.: Quantas revistas você já produziu?
Cite-as e nos diga quais delas acha mais interessantes.
AP.: Bem, contando com a primeira revistinha que lançamos em 1991 para
cá, foram exatas 6 produzidas. São elas: “A TURMA DO JOCA”, “IMPACTO QUADRINHOS”,
“TIRAS vs. MONSTROS”, “CRÂNIO”, “O VIGIA” e por última “SANTA RITA DE CÁSSIA EM
QUADRINHOS” que lancei em 2015. Eu gostei de todas; as que mais tive apego
foi a de “SANTA RITA”, por ser uma produção feita em cima de pesquisa e a outra
foi “TIRAS vs. MONSTROS”, por ser uma produção diferenciada dos padrões
super-heróis.
GCS.: Você também é ilustrador. Fale-nos da
experiência que teve com a produção do livro de Alessandro Nóbrega e de alguma
outra que fez, além dos quadrinhos. Lembro-me que você também ilustrou a capa
de alguns cordéis.
AP.: Bem, o livro infantil que ilustrei de Alessandro Nóbrega foi uma
honra enorme, pois se trata de um tema para crianças no qual fiz ilustrações
infantis. Foi o meu primeiro livro desse gênero que fiz. Confesso que foi uma
experiência ótima, espero que a gente possa produzir mais projetos em parcerias
no futuro. Em relação às outras produções que tive foi capas, ilustrações
internas para livros, tanto para coletâneas poéticas quanto para produções
particulares, inclusive quero ressaltar aqui que foi boa a parceria com todos.
Sim, sem falar em capas para alguns cordéis que fiz, principalmente para o
poeta Adriano.
GCS.: Além de sentir a satisfação de produzir
obras de qualidade, você tem sido recompensado financeiramente com seus
trabalhos?
AP.: Em partes sim e em partes não, como todos nós sabemos a produção
cultural em nosso país ainda não suporta condições para que os artistas possam
sobreviver diretamente de suas produções. Teve alguns trabalhos que fui
recompensado, outros foi como colaborador em parcerias com outros artistas sem
remuneração. Infelizmente a gente tem que sobreviver por fora para poder manter
nossas produções culturais em forma de voluntariado, como posso assim dizer.
GCS.: Cite um ou mais produtores de histórias
em quadrinho que deveriam servir de modelo para todos os que produzem quadrinhos
no Brasil. Que pensa sobre a indústria construída por Walt Disney?
AP.: Os artistas de histórias em quadrinhos
brasileiros temos vários, que hoje produzem quadrinhos tanto para os Estados
Unidos quanto para a Europa. O brasileiro mais influente, acredito que todos
nós sabemos quem é, o velho Maurício de Souza, que hoje tem uma indústria de quadrinhos
que consegue competir com a de Wat Disney. Segundo algumas matérias que li
sobre a indústria de Wat Disney é que, o crescimento se deu com o aumento do
mercado de entretenimento americano quando se expandiu por todo o mundo.
GCS.: Com que empecilhos você se depara nesta
carreira? Julga-a espinhosa?
AP.: Um dos maiores empecilhos que encontro em produzir meus trabalhos é
a falta de apoio por parte de projetos culturais que praticamente não existem; a
falta de verbas para poder conseguir algumas impressões; tenho que conseguir
apoio de uns e outros empresários, que às vezes não veem com bons olhos as
histórias em quadrinho. E como é espinhosa viu, nem imagina como. Veja bem,
tenho três projetos prontos para ir para a gráfica, mas por falta de verbas
eles estão por enquanto engavetados.
GCS.: Fale-nos do trabalho que está a
produzir sobre Fabião das Queimadas.
AP.: Bem, sobre o projeto que estou trabalhando sobre Fabião das
Queimadas o que posso adiantar é, que estou romanceando a sua história sem
perder o foco principal de sua biografia. Pretendo lançar no próximo ano, se
Deus quiser. Não posso detalhar muito aqui o roteiro, o que posso adiantar é
que toda pesquisa fiz sobre uns escritos que Hugo Tavares fez sobre toda a vida
de Fabião. Estou gostando muito do projeto sobre a vida de Fabião das Queimadas
em Quadrinho que estou trabalhando; espero que todos gostem de ler a sua
história através da linguagem dos quadrinhos.
GCS.: Em que seus quadrinhos se diferenciam
dos demais produzidos no Brasil?
AP.: Antes de eu responder gostaria de lhe dizer que, todos nós quando
começamos a gostar de quadrinhos sempre temos aquelas grandes influências do
mercado norte-americano através do universo de super-heróis. No início, quando
comecei as influências eram os quadrinhos de super-heróis, depois aos poucos
fui descobrindo o meu universo de produzir meus quadrinhos. Hoje, os meus quadrinhos
são diferenciados dos demais devido ao tema regional que resolvi trabalhar,
empregando a linguagem dos quadrinhos como forma de facilitar a informação
dinâmica.
GCS.: Conhece outros desenhistas que, como
você, fazem um bom trabalho aqui no Nordeste, mas não recebem a devida atenção?
AP.: Sim, vários. Além, é claro, de alguns que conseguem sobreviver produzindo
para os Estados Unidos e a Europa. Os que produzem por conta própria como eu,
são: Francinildo Sena, Alcivan Gameleira, Rodrigo Fernandes, todos de Pau dos
Ferros. Emanoel Amaral, Gilvan Lira, Carlos Alberto, Marcos Guerra, Marcos
Garcia, todos de Natal, e outros mais que não posso descrever aqui, devido o
espaço de tempo. Mas há muitos no Nordeste que, como eu, com todas as
dificuldades, conseguem produzir e divulgar seus próprios quadrinhos.
GCS.: Alguns acham que os quadrinhos têm por
objetivo único divertir. Que outras funções poderiam ter tais produções?
AP.: Acredito que além da diversão que o universo dos quadrinhos
proporciona, através de sua linguagem, podemos passar mensagens de superação,
respeito, fé, dramatização, histórias e infinitos temas que podemos abordar
empregando a linguagem das histórias em quadrinhos. Sem falar no emprego da
alfabetização, incentivando os alunos do início do fundamental a gostarem mais
da leitura. Todos que sabem ler até hoje, não todos, mas a grande maioria,
aprendeu a gostar da leitura através da linguagem das histórias em quadrinhos.
GCS.: Diga-nos os meios de entrar em contato
com você para encomendar revistas ou algum trabalho de ilustração. (E-mail,
Facebook, Whatsap, Fone etc)
AP.: O meio mais fácil de conseguir encomendar algumas revistas minhas
que produzi é através do Facebook ou do meu Email: antonietopereira@hotmail.com.
GCS.: Dê alguns conselhos aos que pretendem
seguir esta carreira e deixe-nos suas palavras finais.
AP.: Para os que pretendem seguir essa espinhosa carreira dos quadrinhos,
eu gostaria de dizer o seguinte: Primeiro, tenham bastante paciência; segundo,
conhecimento de narrativa e algumas técnicas de desenhos básicos e terceiro,
leiam bastante, pois quem trabalha com quadrinhos tem que ler de tudo, de uma
bola de remédio a filosofia, pois tudo é informação para o cérebro. E através
de bastante informação conseguiremos imaginar muitos traços e histórias
contadas através das narrativas das histórias em quadrinho. Por fim, gostaria
aqui de agradecer ao Blog da “APOESC”, que vem realizando um excelente trabalho
em prol da cultura de nossa cidade e região através desse blog e do programa
“APOESC EM CANTO E VERSO” veiculado todos os sábados pela Rádio Comunitária
“SANTA RITA – FM”. A todos um grande abraço e um grande sucesso.
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