quarta-feira, 1 de março de 2017

CONSIDERAÇÕES SOBRE DOIS LIVROS - Gilvan Oliveira


No dia 11 de fevereiro de 2017, Santa Cruz Cruz viveu um momento ímpar com o duplo lançamento de dois importantes livros: A Antologia dos poetas e escritores de Santa Cruz (APOESC), organizada pelo poeta, prosador e cordelista Gilberto Cardoso dos Santos; e o livro “Nas Veredas de Mim Mesmo”, do poeta Hélio Crisanto.

Entre os que puderam se referir a esse momento e também aos livros cujo valor literário pode ser comprovado, antecedeu-me aqui o ilustre professor e poeta José da Luz, cujo nome confere valor à antologia e de quem me orgulho muito, pois como cidadão São-bentense faz questão de se declarar como filho telúrico do lugar em que me criei e do qual me orgulho muito. (Ver texto de Zé da Luz)

 Antecedeu-me também a ilustre professora Valdenides Cabral, titular da UFRN que com maestria e singularidade descreveu os aspectos de um poeta que nós, amantes da cultura popular, conhecemos muito bem. (Ver Texto de Valdenides) Hélio Crisanto, poeta que remonta ao homem do sertão e cujo aspecto rústico e resistente lembra profunda relação do sertanejo com o lugar onde vive e cujas veredas remonta ao título do livro de um conhecido autor de nossa literatura (literatura brasileira). As “veredas” de Crisanto lembram que, assim como no Grande Sertão de Guimarães Rosa, a poesia regional é o resultado das experiências e histórias que o poeta pretende traduzir.

Sobre esses aspectos não precisamos nos estender mais, pois já foram bem destacados pela professora Valdenides. Do mesmo modo, e de valor tão estimado quanto, a antologia da APOESC, organizada pelo professor, cronista, poeta e divulgador da cultura popular Gilberto Cardoso, merece uma atenção especial, principalmente no que se refere à democratização da literatura. Porque não existe outra palavra para definir essa antologia a não ser “democracia”.

A antologia é democrática, primeiramente, porque ao mesmo tempo em que reconhece o valor de poetas e prosadores já conhecidos no meio literário, abre oportunidades àqueles que estão iniciando a carreira, mas que despontam com forte valor literário.  Nesse aspecto, a Antologia lembra outro livro que no seu aspecto democrático teve contribuições de diversos autores, de diferentes épocas e de diferentes setores da sociedade, desde médicos e doutores da lei até simples pescadores e camponeses. Assim como a Bíblia, muitos puderam contribuir com essa maravilhosa antologia.

Esse trabalho também é democrático à medida que sua composição não se prende a um único gênero literário. A diversidade de gêneros é a marca dessa antologia, pois é possível se encantar com boas leituras tanto no gênero prosa como na poesia. Essa diversidade se acentua também em relação ao estilo, pois é possível ler poemas ligados à tradição poética como o soneto, assim como poemas com um viés mais modernista. Também é possível estabelecer diálogo entre uma escrita regionalista, ligada à tradição popular em contraponto com um segmento mais erudito.

Para finalizar, destaco que mesmo que a Antologia e o livro de Hélio Crisanto não atinjam o número esperado de vendas entre os jovens como os Best-sellers americanos,  cumprem um papel fundamental no que se refere à valorização da cultura potiguar, pois oportunizam que o leitor, acostumado a importar cultura, desperte para uma consciência cultural local, pouco valorizada entre nós. 



Gilvan Oliveira é professor da Rede Estadual em São Bento do Trairi e no Colégio IESC. É formado em Letras pela UFRN e mestrando do PROFLETRAS em Natal - RN


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