MEU TÍTULO DE MESTRE
“Que homem dentre vós, tendo cem ovelhas, e perdendo uma
delas, não deixa no deserto as noventa e nove, e vai após a perdida até que
venha a achá-la? E
achando-a, a põe sobre os seus ombros, jubiloso; E, chegando a casa, convoca os amigos e vizinhos,
dizendo-lhes: Alegrai-vos comigo, porque já achei a minha ovelha perdida.”
Lucas 15:4-6
Hoje
recebi o titulo de mestre. Está sendo um dia memorável em minha vida simplória.
Alguns amigos sugeriram que escrevesse algo a respeito. Mas o que dizer quando
somos dominados por sentimentos que nos parecem indizíveis? Sentimos ânsia de verbaliza-los,
dar-lhes corpo, mas nos sentimos inábeis.
Estou,
naturalmente, muito feliz. Sinto-me como aquele personagem bíblico do livro de
Isaías que viu o fruto do penoso trabalho de sua alma e ficou satisfeito (Isaías 53:10- 11).
Nadei, nadei, vi nadadeiras escuras ao longo do trajeto, mas atravessei mares
dantes não navegados, resisti ao canto da sereia do comodismo e não morri na
beira da praia, apesar das ondas contrárias.
Compareci ao momento de apresentação do TCC como ovelha
levada ao matadouro. Todavia, para minha grata surpresa, o trabalho foi bem
aceito, apesar das necessárias sugestões de acréscimos, correções e supressões.
Alegrei-me, em especial, pelas congratulações que recebi dos mestrandos e de
outros educadores presentes à sessão. Os membros da banca, com suas incisões
pertinentes secundadas por bálsamos de elogios, muito contribuíram para a
alegria do momento.
Concluir um mestrado é como chegar ao topo de uma elevada montanha
após cansativa e perigosa escalada. Todavia, compensa chegar ali e respirar o
ar próprio das altitudes, é impagável poder observar a paisagem ao redor a
partir de um novo ângulo. Quando ali chegamos, temos noção do quanto nos
elevamos, mas vislumbramos que há montanhas mais altas diante das quais temos a
sensação de termos escalado um insignificante monte.
A
alegria do momento é passageira, pois é necessário descer dali, voltar à vida
comum da planície, encarar a íngreme escala descendente; ainda que, no calor do
momento, nos sintamos como Zaratustra, julgando que voltaremos ao vilarejo,
imbuídos duma missão especial. Mas demoremo-nos ainda um pouco no alto. Que o sol se detenha por um instante, como aconteceu sob as ordens de Josué.
As
palavras que ora escrevo representam um convite à alegria, à minha alegria. À
semelhança do homem da parábola posta na epígrafe, ganhei algo mui precioso e
quero que comemorem comigo.
O
personagem da estória bíblica encontrou uma ovelha preciosa e eu também achei a
minha ovelha. Explico.
Alberto
Caieiro, uma das vozes de Fernando Pessoa, diz:
“Sou um guardador de rebanhos,
O rebanho é os meus pensamentos”.
Entregue aos devaneios poéticos, tinha, antes de dar início
a este mestrado um rebanho solto, desordenado; pensamentos que, à semelhança do
ocorre com todos, circulavam a esmo na memória, entrando e saindo dos prados do
inconsciente. Para fazer este mestrado, tive que ordenar minhas ovelhas,
fazê-las submissas, encurralá-las tosquiá-las, enfileira-las de modo a torna-las
satisfatórias às exigências acadêmicas;
ovelhas novas precisaram ser geradas e outras necessitaram ser sacrificadas.
Obtive, finalmente, a ovelha por excelência, a minha Dolly, e quero que todos
os que por mim torceram; todos que de um modo ou de outro me auxiliaram nesta
caminhada; todos aqueles que, desprovidos de sentimentos de inveja ou de censura
conseguem felicitar-se com êxitos alheios; a estes altruístas, digo: rejubilem-se
comigo, pois achei a minha ovelha por excelência, vivamos este momento marcante
em minha breve passagem por este mundo.
Um
pouco antes de seguir para a defesa do TCC, vi-me inspirado a escrever o
seguinte poema:
“A ninguém chameis de mestre”
Disse o Sábio Pregador
Se até os que têm mestrado
Têm limitado valor
Imagine o advogado
Médico ou juiz exaltado
Que é chamado de doutor!
Oxalá
o vírus do orgulho, da tola exaltação não venham a estragar o bom funcionamento
do Windows Xp de minha mente. Que eu jamais me esqueça da máxima de Emerson, o filósofo, que
disse: “Cada pessoa que encontro é superior em algum aspecto sob o qual eu
aprendo algo.”
Espero
continuar a poder enxergar os dons de
cada um que, quando bem utilizados e exercitados, os transformam em mestres
dignos de respeito e admiração; a ler nos traços em braile da mão de um agricultor os títulos que a vida lhe concedeu.
Obrigado
a todos – amáveis colegas de mestrado, diletos amigos próximos e distantes, imprescindíveis
familiares, idolatrados professores - que sempre torceram pelo meu sucesso!
Drª Valdenides, orientadora, Dr. Sebastião e Dr.
Manoel Freire
Na plateia, Luma: poetisa, atriz e mestra.
Hélio Crisanto, um dos objetos de estudo do meu TCC, declamando.
Assinatura do certificado de mestre.
Santa Cruz, 18.11.2016
Querido Gilberto! Com suas palavras me encanto e muito feliz fico pelo seu sucesso no mestrado.
ResponderExcluirParabéns!
Cleide, vc foi uma excelente colega neste mestrado e espero que amiga pra sempre. Agradeço demais suas palavras de incentivo!
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