uma interpretação histórica
O Brasil enquanto espaço
político e ideológico foi construído por discursos e narrativas de elites
políticas e/ou econômica. O Caipira, o nortista, o matuto O pantaneiro etc; são
produzidos por conveniência social.
O nordeste, por exemplo; como espaço ideológico
"nasce" nos finais dos ano 10 do século XX, para atender a uma
necessidade dos grandes latifundiários e coronéis que outrora tinham prestigio
e que se viam em vias de fato de perder o poder e q influência. Usando a pouca
força que dispunham abraçam o IFOCS (Instituto Federal de Obras Contra as Secas)
e suas obras superfaturadas para tomar de volta a direção, receber os
investimentos e condiciona-los ao seu interesse. Então, a partir desta
necessidade criam uma imagem forjada de um lugar terminantemente inóspito,
atrasado, morrendo aos poucos, atrasado, miserável para construir uma imagem de
necessidade e automaticamente a criação de uma indústria de recursos para a
seca! Foram ajudados pela mídia, e artistas como Luiz Gonzaga e intelectuais
como Gilberto Freyre. E assim, criaram a noção de Nordeste. Carente, arcaico,
rural, tudo feito a sua necessidade e não com o intuito de fazer bem ao povo. E
além disso obrigam ao nordeste e os nordestinos ficarem presos a sua realidade
miserável. Rural, arcaica, arrasada... E nunca tais discursos evidenciaram que
o dito Nordeste tem áreas de agrestes e litoral, ricos e prósperos; como também
centros urbanos que cresciam e que hoje significam 77% da população, que tem
menos de 1/4 vivendo em zona rural.
Enfim, a imagem de Nordeste não verdadeira rotula, adjetiva, cria estereótipos
e arquétipos.
Sendo assim, tendo noção de nordeste como uma invenção, os seus
legados materiais e suas narrativas de memória e história são expressões usadas
pela maioria dos discursos para causar compadecimento. Vejo, que nas últimas
semanas a campanha #EUAPOIOAVAQUEJADA ganhou muita força, muito pela modinha
de espalhar ideias nas redes sociais, e também por pessoa que não tem a menor
noção do que realmente é cultura, patrimônio e memória.
A prática da busca do boi no mato, a corrida de campo e no geral a vaquejada
feita na apartação do gado são fenômenos ligados a atividade pecuária feita em
larga escala no sertão brasileiro. Sua memória, conforme a historiografia
consistem, no conjunto de objetos e nas narrativas históricas e não em uma nova
perspectiva prática do tempo recente, adaptada e condicionada a capitalização
de recursos. Como também Cultura e patrimônio não sofre descaracterização
forçada para atender o entretenimento das associações de pseudo-vaqueiros e
suas fazendas que mais parecem estações rebuscadas de equitação. E vale
reiterar que tais Cool-Boys e seus representantes não remetem em nada a
situação do vaqueiro nordestino, mameluco, mestiço ou escravo que fazia de
couro de boi sua roupa porque o lucro da atividade não lhe dava a dignidade nem
de comprar uma indumentária. Eles exploram mão de obra, andam de SUV e vestem
roupas de grife.
Sabemos, segundo Le Goff; que memória é “o objeto ou a
lembrança" , ou seja, não é somente o conjunto daquilo que existiu no
passado, mas uma escolha efetuada quer pelas forças que operam no
desenvolvimento temporal do mundo e da humanidade, quer pelos que se dedicam à
ciência do passado e do tempo que passa, os historiadores. Estes materiais da
memória podem apresentar-se sob duas formas principais: os monumentos, herança
do passado, e os documentos, escolha do historiador” (Le Goff 2003 p.535)
Sendo assim, para ser Patrimônio; a Vaquejada não podia ter
sofrido esse processo de alteração conveniente (ACULTURAÇÃO). A prática
esportiva retirou a ligação do monumento (AÇÃO DE PROVOCAR a queda do Boi) do
documento ( memórias e a narrativa e os relatos das festas de apartação nos
interiores do que veio a ser chamado de nordeste).
Hoje temos uma empresa de grandes recursos, gerando emprego e
renda; seria inconseqüente dizer que isso é ruim, claro existem pessoas que
hoje dependem disso. Mas sou contrario ao fato de quererem justificar a
manutenção da pratica da forma que é querendo justificar que Vaquejada é
cultura, ou é patrimônio. ABSOLUTAMENTE não. Documento, História e monumentos
são estudados e não condicionados a necessidade de uma empresa capitalista.
E lembremos...
De acordo com a Constituição Federal de 1988, Artigo 216, constituem patrimônio
cultural brasileiro os bens de natureza material e imaterial, tomados
individualmente ou em conjunto, portadores de referência à identidade, à ação,
à memória dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira, nos quais
se incluem as formas de expressão; os modos de criar, fazer e viver; as
criações científicas(...)
Ou seja, o documento e o monumento que podem se referir a
pratica da vaquejada devem ser colocados na sua condição de memória, e não
servirem apenas para justificar uma pratica sem sentido, descaracterizada,
profundamente urbanizada e fora do real significado.
Cordiais agradecimentos pela leitura e reflexão,
André de Souza Soares, professor de História.
Sitio Canoas, Japi, Rio Grande do Norte 04 de Novembro de 2016.
Sitio Canoas, Japi, Rio Grande do Norte 04 de Novembro de 2016.
Referências:
LE GOFF, Jacques. História e
Memória. Campinas: Editora da Unicamp, 2003.
Autor: André de Souza Soares
Excelente contribuição, André!
ResponderExcluirExclarecedor mestre André.
ResponderExcluirObrigado Nobre amigo Gilberto Cardoso, obrigado pelo espaço, minhas palavras neste universo são pequenas, mas agradeço muito por me permitir dizê-las. Grande Peterson, obrigado pela leitura, que satisfação....
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