quarta-feira, 30 de novembro de 2016

POLÊMICA ENVOLVE POEMA MATUTO NO FITIBÓ, DE ZÉ LAURENTINO

Sou um profundo admirador do falecido poeta Zé Laurentino. Deu provas suficientes de sua genialidade poética. Ele é autor de poemas que se tornaram clássicos da cultura popular. Todavia, um de seus poemas - matuto no fitibó - tem sido reivindicado por Francisco Solange Fonseca como de sua autoria.  Vejamos primeiramente o poema e em seguida a reivindicação em versos que nos remeteu:

Matuto no fitibó
Zé Laurentino
   

Hoje o pessoá do mato
Já está se acivilizano
Já tem rapaz istudano
Pras bandas da capitá
Já tem moça que namora
Com o imbigo de fora
Etc, coisa e tá

Mas essas coisa eu estranho
Me dano i num acumpanho
A tar civilização
Nem qui a morte me mate
Nunca fui numa boate
Nunca vi televisão

E esse tar de cinema
Eu num sei nem cuma é
Se é home ou se é muié
Se é da lua ou do sol
Um teatro eu nunca vi
E também nunca assisti
Um jogo de fitibó

É isso mermo patrão
Eu nasci pra sê matuto
Vivê cuma bicho bruto
Dando di cumê a gado
E eu só sei qui sô gente
Purquê um véio meu parente
Disse que eu sô batizado

Mas pru arte do pecado
Os fi de cumpade Xico
O fazendêro mai rico
Daquele meu arrebó
Cum priguiça de istudá
Inventô de inventá
Um jogo de fitibó

E no pátio da fazenda
Mandô butá duas barra
E eu fui assisti a farra
Dos lote de vagabundo
Qui quando eu vi afroxei
Acridite qui eu achei
A coisa mió do mundo

Eu cabôco lazarino
Cum dois metro de artura
Os braços dessa grossura
Medo pra mim é sulipa
Di jogá tive um parpite
E aceitei logo o convite
Pru modi pegá de quipa

Me dero um calção listrado
E um par de joelheira
Também um par de chuteira
E uma camisa de gola
Eu gritei: arra diabo
Que eu já peguei touro brabo
Sustentei pelo rabo
Pur quê num pego uma bola?

Sei qui o jogo cumeçô
O juiz bom e honesto
Que por sinal é Ernesto
O nome do apitador
Qui mitido a justicêro
Pru modi o jogo pará
Bastava a gente chutá
A cara do cumpanheiro

Bola vai, bola vem
Um tar de Zé Paraíba
Inventô de dá um driba
No fíi de Chica Brejeira
Esse lhe deu uma rasteira
Que o pobre do matuto
Passou foi cinco minuto
Rebolando na poeira

O juiz mandô chutá
Uma bola contra eu
Porque o Fubeque deu
Um chute no Honorato
Aí o juiz errô
O Fubeque que chutô
Ele que pagasse o pato

Mais afiná meu patrão
Num gosto de confusão
Mandei o cabra chutá
E fiquei isperano o choque
Finarmente a bola vinha
Vinha tão piquinininha
Que nem bala de badoque

Quando eu fui pegá a bola
Me atrapaiei meu patrão
Passô pur entre meus braço
Bateu numa região
Fou bateno e eu caino
Me espuliano no chão

O povo batero inriba
Me déro um chá de jalapa
Uns três copo de garapa
E um chá de quixabeira
Quando eu tive uma miora
Joguei a chuteira fora
Saí batendo a poeira

Daquele dia pra cá
Nem mode ganhá dinhêro
Num jogo mais de golêro
Nem cum chuva, nem cum só
Nem aqui, nem no diserto
Nunca mais passo nem perto
Dum campo de fitibó

Vejam a solicitação enviada por Francisco Solange:

A respeito desta solicitação, foram tecidos os seguintes comentários:


Fonte: http://apoesc.blogspot.com.br/2014/10/carona-de-candidato-ze-laurentino.html

segunda-feira, 28 de novembro de 2016

O NEGRO E A CANTORIA DE VIOLA NORDESTINA - André Soares

André Soares e Cícero Justino

O NEGRO E A CANTORIA DE VIOLA NORDESTINA

A origem da cantoria dos repentistas é objeto de muita discussão; mas de forma global é reconhecidamente positiva a ideia que o período de seu surgimento tenha sido a idade média. Outro ponto de concordância também é que ela teve suas raízes no território francês, mas sua forma popular tenha sido formatada na península ibérica. O folclorista e etnólogo potiguar Luís da Câmara Cascudo admite até que esta forma de desafio poético seja bem mais antiga, tendo raízes aprofundadas na Grécia do período clássico: Que é o cantador? É o descendente do Aedo da Grécia, do rapsodo ambulante dos Helenos, do Glee-man anglo-saxão, [...] das runoias da Finlândia, dos Bardos armoricanos, dos escaldos da Escandinávia, dos menestréis, trovadores, mestres- cantadores da Idade Média. Canta ele, como há séculos a história da região [...]. É a epea grega, o barditus germano, a gesta franca, a estória portuguesa (CASCUDO, 2005, p. 129).79
 Analisando o discurso de Cascudo a partir de um olhar critico latente entre os historiadores, e por termos conhecimento tanto da época a qual o autor escreveu quanto do universo literário e político que o mesmo estava inserido, podemos entender que há uma negação clara de um elemento construtivo crucial na formação do povo e da cultura nordestina: O negro africano. Cascudo remete um pensamento semelhante ao do sociólogo Gilberto Freyre que hoje é entendido claramente como outro personagem atuante (de certa forma) na tentativa de omitir a interferência Negra na cultura do Nordeste quando cria o mito da famigerada e falsa democracia racial da colônia que tenta transmitir a ideia da justificativa da escravidão, onde defende que o escravo vivia satisfeito e sua condição era justa por ser “raça inferior”. Esta compreensão ainda prega a harmonia das relações escravocratas que defende o consenso entre as raças, ou seja, o branco escravizava por ser raça dominante e o negro aceitava por ter nascido raça inferior -- e vale aqui salientar que raça já é um conceito desgastado, antropologicamente concebemos esse termo como etnia. Sendo assim o discurso de Cascudo é preconceituoso na origem, tentando admitir a não interferência dos africanos na construção da cultura dos cantadores de viola do Brasil, algo que hoje pode ser verificado como mais um de seus equívocos. Temos que admitir que o folclorista é reconhecido como o maior conhecedor das culturas populares do Brasil, pois atuou de forma intensa durante muitos anos tanto nas bibliotecas como nas investigações de campo, entretanto devemos separar o que é conhecimento erudito e discurso tendencioso. A tendência atua no estabelecimento de um tipo de “ponte ideológica” que conduz cantoria aos traços de uma origem unicamente europeia, através de um discurso que a forja a manifestação popular como sendo exclusivamente uma continuidade de tradições medievais, e se relaciona interdiscursivamente com as noções de raça que povoavam o imaginário dos intelectuais- cientistas brasileiros, entre os séculos XIX e XX, algo que é inadmissível na atualidade. Precisamos salientar que na década de 30, época em que o folclorista construiu a obra Vaqueiros e Cantadores, foi o período no qual a nova configuração política pós-revolução demandava um intenso debate em torno da história nacional, da situação de vida das zonas rurais e urbanas, dos lugares litorâneos, úmidos, secos, íngremes, florestais etc; a fim de estabelecer uma identidade para a nação que estava sendo (re)construída. Período em que o movimento modernista liderado por Mário de Andrade passava por uma transformação, na qual, questão estética perdera sentido e os discursos ideológicos predominaram nos centros intelectuais, pressionados ainda pela problemática política de uma ditadura civil. Nesses anos, alguns membros do próprio movimento haviam se alinhado ao programa nacionalista do governo de Getúlio Vargas, e chegaram a trabalhar para o Estado na comitiva que alimentava esta intenção. CASCUDO, Luis da Câmara. Vaqueiros e cantadores. São Paulo: Global, 2005.

Extraído de:



sábado, 26 de novembro de 2016

Anseio - Sabrina Dorico


Anseio

E enquanto ele dorme
Entendo a doce calma
De tê-lo e acompanha-lo
Pelo amor Deus
Pensei por um minuto
Deixe-me apreciar tamanha inocência.
Rabisco algumas linhas
É... Preciso de tempo
Tudo bem, tudo bem.
Isso sempre me acontece
Para minha surpresa vem o verso
Bem que eu desconfiava
Que minha alma desejava
Lustrar papéis, rascunhos.
Ou laudas inteiras
Será que alguém vai lê-las?
Ah!  Deixa pra lá
Entusiasmei-me
Encantei-me e anotei.
A beleza do mundo é ser inteiro.
Sim. Sim... Eu sou feliz.

Sabrina Dorico

23/09/2016

sexta-feira, 25 de novembro de 2016

PARABÉNS A LEOPOLDINA - MG

PARABÉNS A LEOPOLDINA!

"Toda arte visa o bem"
Aristóteles escreveu
De fato, o que percebeu
Grande fundamento tem
Por isso, sempre convém
A estado e prefeitura
Fazer que a literatura
Cresça e cumpra sua sina
Parabéns, Leopoldina,
pelo incentivo à cultura!

Confesso que não sabia
Desta cidade mineira
Que exalta sobremaneira
Ao gênio da poesia
Nela hei de ir um dia
Em poética aventura
Gostei da arquitetura
Sua paisagem fascina
Parabéns, Leopoldina,
pelo incentivo à cultura!

- Gilberto Cardoso dos Santos


Fiquei sinceramente encantado com a importância que a gestão local e o departamento de cultura de Leolpoldina, MG, dão à literatura e à obra de Augusto dos Anjos. Lá eles têm um museu dedicado ao inigualável vate e pela vigésima quinta vez promovem o seu nome a nível nacional. Gostei do modo prestativo como conduziram este concurso, do trato que deram aos autores. Acabo de receber o meu certificado de participação e vitória. Sou cidadão potiguar, mas de origem paraibana, lugar onde nasceu o genial poeta e lamento por não ver em meu estado de origem semelhante preocupação. Concursos desta natureza, contemplando nomes representativos da boa literatura, deveriam ocorrer em todo o Brasil. Que estímulo maior se poderia dar a autores iniciantes?


Conheçam um pouco do Museu Espaço dos Anjos


quinta-feira, 24 de novembro de 2016

BATALHA DE RAP DO SÉCULO: DON ITANILDO X JOHN PIERRE

Don Itanildo é um rapper santacruzense em início de carreira, conhecido pelas performances geniais durante improvisações. Tem dois cds gravados. John Pierre, natalense, canta rap há 15 anos. Trata-se de um apologista cultural e rapper de destaque na capital potiguar. A disputa aconteceu na Casa de Cultura Palácio do Inharé, em Santa Cruz - RN

Caros Don Itanildo Silva e John Jonh Pierre, grandes apologistas culturais, pena que interesses mercenários e falta de incentivo estejam a impedir grandes momentos como estes, com o devido glamour que merecem.




Vejam a qualidade dos rap de Don Itanildo:










Minha poesia - N.M.

A poesia triunfa Nas linhas que escrevo Não é mero ABC Nem qualquer outra utopia Minha poesia se faz Dos teus traços banais De uma rotina que cega Minha poesia se faz Do sentimento unilateral O que é triste de ver Mas é canção que se deleita Minha poesia se faz Na curva do teu sorriso E nas horas banais Que te levam de volta Minha poesia se faz Dos meus devaneios sobre ti E acima de tudo Da saudade de um dia Chamar-te de saudade



Natália Menezes - aluna do IF


terça-feira, 22 de novembro de 2016

CONCURSO NACIONAL DE POESIAS AUGUSTO DOS ANJOS - POEMAS VENCEDORES


Graças à dica de uma amiga gaúcha, tomei conhecimento deste concurso de poesia promovido pela cidade onde Augusto dos Anjos passou seus últimos anos. Admirável é o trabalho feito pela gestão local para manter vivo o nome deste gênio poético. 
Nesta  vigésima quinta edição, inscreveram-se 615 poetas, de quase todos os estados do Brasil. No RN, dois outros poetas foram classificados entre os vinte finalistas. Senti-me radiante ao ser classificado entre os 20 finalistas e mais ainda quando, na última etapa, me foi concedido o terceiro lugar!









Para maiores detalhes, clique em

https://pt.scribd.com/document/331854186/Resultado-do-XXV-Concurso-Nacional-de-Poesias-Augustos-dos-Anjos#fullscreen&from_embed

https://plus.google.com/+AllaLeopoldina

segunda-feira, 21 de novembro de 2016

O AMOR AO PRÓXIMO NO MUNDO VIRTUAL - Gilberto Cardoso dos Santos


O AMOR AO PRÓXIMO NO MUNDO VIRTUAL 

Gilberto Cardoso dos Santos

Quase todos os cristãos e simpatizantes do cristianismo acreditam que Jesus é o autor do famoso mandamento “Amarás o teu próximo como a ti mesmo”. Todavia, milhares de anos antes que Cristo nascesse, esse mandamento já fora mencionado em Levítico 19:18. Ali lemos:

“Não te vingarás nem guardarás ira contra os filhos do teu povo; mas amarás o teu próximo como a ti mesmo. Eu sou o Senhor.

Jesus Cristo, porém, não repetiu simplesmente o que alguém já se dissera, mas deu nova roupagem a este preceito e elevou-o à categoria de segundo maior mandamento. Diríamos, que no concerne às relações humanas, ele deveria constar como o primeiro. Esta súmula do decálogo é um resumo de mais da metade dos dez mandamentos.

Amar ao próximo como a si mesmo é um dos camelos referidos por Cristo (Mateus 23:24), engolido todos os dias enquanto estamos presos às redes sociais, coando mosquitos ou espalhando pernilongos infectados.  O ocidente cristianizado e altamente beneficiado pelos avanços tecnológicos, tem a bíblia ao alcance do dedo onde quer que esteja; pode ler, grifar, colorir e divulgar os ditos de Jesus. Pode, se quiser, escutá-lo na voz de Cid Moreira. No entanto, apesar das advertências do Mestre, tão acessíveis hoje, continua insensível à trave no próprio olho, preocupado com os argueiros alheios.  

As redes sociais ampliaram as possibilidades de transgressão ao magno preceito sem o qual o cristianismo vira uma piada. Quase ninguém para pra pensar nos males que poderá causar com os comentários e divulgações que faz.

O grande escritor Umberto Eco disse algo que, à primeira vista, choca quem o lê, principalmente àqueles que são vítimas do chamado analfabetismo funcional. Eis o que o autor de “O nome da Rosa”:
“As mídias sociais deram o direito à fala a legiões de imbecis que, anteriormente, falavam só no bar, depois de uma taça de vinho, sem causar dano à coletividade. [...] O drama da internet é que ela promoveu o idiota da aldeia a portador da verdade”.

Quando amenizamos o impacto negativo do termo “imbecis” e nos conscientizamos de que o escritor não está a nos fazer um ataque pessoal, mas a tratar duma realidade difícil de negar, somos capazes de entender melhor suas palavras e aplica-las adequadamente ao presente contexto.

O “causar dano à coletividade” ganhou, sem dúvidas, infinitas possibilidades com o advento das mídias sociais. As oficinas do diabo, ou mentes desocupadas, têm agora um amplo espaço para forjar o que não presta.

Outro termo usado por Umberto Eco que faz eco em nossa asnice emocional é o vocábulo “idiota”. Quando vamos ao dicionário e descobrimos que significa “carente de discernimento, falto de inteligência” trazemos suavidade à suposta ofensa. Ou seja, idiota da “aldeia” (antes local, hoje global) é aquele que não reflete bem antes de postar algo; às vezes, trata-se de um fiel membro de igreja que deveria consultar a Deus antes de enviar postagens suas ou alheias. Bastaria, por alguns segundos, perguntar-se: Se fosse comigo, com algum amigo ou familiar eu faria isto? Como procederia se este, a quem denigro, votasse no mesmo partido que eu, ou fosse de meu íntimo convívio? Como me sentiria se acaso eu fizesse alguma bobagem “dessas” e fizessem o mesmo com minha imagem ou palavras? Porventura não me sentiria eternamente grato para com aqueles que de mim tivessem misericórdia?

Todavia, muitos se dispõem a divulgar coisas nocivas, como se com isso fizessem um bem à coletividade e estivessem a zelar pela moral pública. Muitas vezes, porém, dão um zoom em algo que de tão pequeno passaria despercebido – os mosquitos referidos por Cristo -, ou criam factoides destituídos de qualquer solidez.

Como fica a situação do suposto culpado cuja inocência vem a ser provada? Será que os mesmos que divulgaram seu crime terão a preocupação de desfazer o malfeito? Digamos que tentem retratar-se de alguma forma; será que buscando reparar o dano feito ao semelhante conseguiriam apagar a influência negativa que tiveram? Obviamente que não! Quem não quiser, pois, ser merecidamente adjetivado como imbecil ou idiota deve ponderar bem o que posta e o que diz.

Uma das coisas que tornam a Bíblia digna de ser lida é a doutrina da misericórdia. Jesus, segundo os evangelhos, era extremamente misericordioso. Sempre lançou um olhar bondoso e acolhedor às prostitutas e demais pecadores de seu tempo. Não conseguimos imaginá-lo compartilhando um vídeo da adúltera Maria Madalena no Facebook ou Instagram. Jamais escreveria nos comentários: “Que vergonha!”

Vivemos numa sociedade que foi condicionada a crer que haverá um severo dia de juízo. Os que levam tal crença a sério deveriam ponderar bem suas peripécias virtuais. Um escritor bíblico nos diz:
Porque o juízo será sem misericórdia para aquele que não usou de misericórdia; a misericórdia triunfa sobre o juízo. (Tiago: 2:13)

Exercer a misericórdia, em essência, significa amar o próximo a si mesmo. O “Não façais aos outros aquilo que não quereis que vos façam”, enfatizado por Jesus, é outra maneira de dizer “amarás o teu próximo como a ti mesmo”.

O modo certo de lidar com delitos pessoais de gente como a gente, sujeita às mesmas paixões que nós, não é divulgando “cenas do crime” nos espaços virtuais. Há trâmites legais a serem seguidos e gente que estudou e ganha para tratar destas questões. Deixemos o caso com as partes envolvidas. Não somos chamados a ser juízes, a emitir sentenças severas, mas a colocar-nos no lugar de quem errou e exercer misericórdia - a amar nosso próximo como a nós mesmos.

Uma maneira de nos imunizarmos contra o vírus da idiotice é dar ouvidos às palavras dos grandes mestres como Jesus, Buda e os bons filósofos. Confúcio, por exemplo, ensina que devemos ser exigentes conosco mesmos e benevolentes com os demais.

Já imaginaram que céu virtual nós teríamos caso seguíssemos estes conselhos? Com certeza a felicidade estampada na linha do tempo seria bem mais real. Jamais criaríamos infernos para os outros. As “redes”, em cujas malhas muitos hoje se acham presos e que servem de armadilhas para muitos, se transformariam em lugares de repouso, berços de poesia, embaladas ao som de vozes nascidas em consciências tranquilas.

Jamais esqueçamos quando estivermos a navegar que estamos todos no mesmo barco; que todos somos irmãos, queiramos ou não e que, mesmo quando profundamente indignos, ainda somos dignos de misericórdia.

Um abraço fraterno a todos os que me leem.


Santa Cruz, 21.11.2016



A ORIGEM DA ESCRAVIDÃO - André Soares


A escravidão não nasceu por causa da diferença física e/ou cor. Foi um processo social e econômico diversificado em suas ocorrências e variado em sua ocasião, principalmente por ter sido praticada em diferentes conjunturas históricas e por ter existido de distintos modos, sobretudo como sendo resultado da dominação de um grupo humano sobre outro.
É bem verdade, valendo a pena ressaltar; que quem é negro não é descendente de ESCRAVOS, e sim DESCENDENTE DE SERES HUMANOS que foram escravizados por outros seres humanos em determinada ocasião...
As Crianças precisam conhecer o fato que um dia alguns brancos também já foram escravos, que a África não é um país e sim um continente. Que o ser humano surgiu lá. Que o continente africano foi formado por centenas de Grupos humanos os quais produziram riquezas materiais e intelectuais as quais foram fundamentais para a construção do Brasil. A partir daí, o pretexto racista vai ser paulatinamente eliminado, quando cada um ver semelhança onde até então só percebiam diferenças, as quais existem; mas com conhecimento e inteligência aprendemos a conviver facilmente com cada uma delas.

@andretrairi



domingo, 20 de novembro de 2016

Rede mijada - Gil Ribeiro


Quando me bate a saudade
Relembro algo sem fim:
O meu armador de rede
De tronco de angilim,
A minha rede mijada,
Rasgada e costurada
Que mãe interçou pra mim...

MESMO QUE PASSE DOS CEM... TERMINA SE ACABANDO - Aristóteles Pessoa

Foto: Poeta Aristóteles e  Abdã Pessoa (filho)

Quando eu era bem novinho,
Não pensava que morria,
Nem tão pouco envelhecia,
Nem terminava sozinho,
Hoje sei do meu caminho,
Já estou me encaminhando,
Dos cinquenta estou passando,
Eterno não tem ninguém,
Mesmo que passe dos cem.
Mas termina se acabando.






sexta-feira, 18 de novembro de 2016

MEU TÍTULO DE MESTRE - Gilberto Cardoso dos Santos

MEU TÍTULO DE MESTRE

“Que homem dentre vós, tendo cem ovelhas, e perdendo uma delas, não deixa no deserto as noventa e nove, e vai após a perdida até que venha a achá-la? E achando-a, a põe sobre os seus ombros, jubiloso; E, chegando a casa, convoca os amigos e vizinhos, dizendo-lhes: Alegrai-vos comigo, porque já achei a minha ovelha perdida.Lucas 15:4-6

Hoje recebi o titulo de mestre. Está sendo um dia memorável em minha vida simplória. Alguns amigos sugeriram que escrevesse algo a respeito. Mas o que dizer quando somos dominados por sentimentos que nos parecem indizíveis? Sentimos ânsia de verbaliza-los, dar-lhes corpo, mas nos sentimos inábeis.
Estou, naturalmente, muito feliz. Sinto-me como aquele personagem bíblico do livro de Isaías que viu o fruto do penoso trabalho de sua alma e ficou satisfeito (Isaías 53:10-11). Nadei, nadei, vi nadadeiras escuras ao longo do trajeto, mas atravessei mares dantes não navegados, resisti ao canto da sereia do comodismo e não morri na beira da praia, apesar das ondas contrárias.
Compareci ao momento de apresentação do TCC como ovelha levada ao matadouro. Todavia, para minha grata surpresa, o trabalho foi bem aceito, apesar das necessárias sugestões de acréscimos, correções e supressões. Alegrei-me, em especial, pelas congratulações que recebi dos mestrandos e de outros educadores presentes à sessão. Os membros da banca, com suas incisões pertinentes secundadas por bálsamos de elogios, muito contribuíram para a alegria do momento.
Concluir um mestrado é como chegar ao topo de uma elevada montanha após cansativa e perigosa escalada. Todavia, compensa chegar ali e respirar o ar próprio das altitudes, é impagável poder observar a paisagem ao redor a partir de um novo ângulo. Quando ali chegamos, temos noção do quanto nos elevamos, mas vislumbramos que há montanhas mais altas diante das quais temos a sensação de termos escalado um insignificante monte.
A alegria do momento é passageira, pois é necessário descer dali, voltar à vida comum da planície, encarar a íngreme escala descendente; ainda que, no calor do momento, nos sintamos como Zaratustra, julgando que voltaremos ao vilarejo, imbuídos duma missão especial. Mas demoremo-nos ainda um pouco no alto. Que o sol se detenha por um instante, como aconteceu sob as ordens de Josué.
As palavras que ora escrevo representam um convite à alegria, à minha alegria. À semelhança do homem da parábola posta na epígrafe, ganhei algo mui precioso e quero que comemorem comigo.
O personagem da estória bíblica encontrou uma ovelha preciosa e eu também achei a minha ovelha. Explico.
Alberto Caieiro, uma das vozes de Fernando Pessoa, diz:
“Sou um guardador de rebanhos, O rebanho é os meus pensamentos”.
Entregue aos devaneios poéticos, tinha, antes de dar início a este mestrado um rebanho solto, desordenado; pensamentos que, à semelhança do ocorre com todos, circulavam a esmo na memória, entrando e saindo dos prados do inconsciente. Para fazer este mestrado, tive que ordenar minhas ovelhas, fazê-las submissas, encurralá-las tosquiá-las, enfileira-las de modo a torna-las satisfatórias  às exigências acadêmicas; ovelhas novas precisaram ser geradas e outras necessitaram ser sacrificadas. Obtive, finalmente, a ovelha por excelência, a minha Dolly, e quero que todos os que por mim torceram; todos que de um modo ou de outro me auxiliaram nesta caminhada; todos aqueles que, desprovidos de sentimentos de inveja ou de censura conseguem felicitar-se com êxitos alheios; a estes altruístas, digo: rejubilem-se comigo, pois achei a minha ovelha por excelência, vivamos este momento marcante em minha breve passagem por este mundo.
Um pouco antes de seguir para a defesa do TCC, vi-me inspirado a escrever o seguinte poema:
“A ninguém chameis de mestre”
Disse o Sábio Pregador
Se até os que têm mestrado
Têm limitado valor
Imagine o advogado
Médico ou juiz exaltado
Que é chamado de doutor!

Oxalá o vírus do orgulho, da tola exaltação não venham a estragar o bom funcionamento do Windows Xp de minha mente. Que eu jamais me esqueça da máxima de Emerson, o filósofo, que disse: “Cada pessoa que encontro é superior em algum aspecto sob o qual eu aprendo algo.”

Espero continuar a poder enxergar  os dons de cada um que, quando bem utilizados e exercitados, os transformam em mestres dignos de respeito e admiração; a ler nos traços em braile da mão de um agricultor os títulos que a vida lhe concedeu.


Obrigado a todos – amáveis colegas de mestrado, diletos amigos próximos e distantes, imprescindíveis familiares, idolatrados professores - que sempre torceram pelo meu sucesso!

Drª Valdenides, orientadora, Dr. Sebastião e Dr. Manoel Freire 

Na plateia, Luma: poetisa, atriz e mestra.






Hélio Crisanto, um dos objetos de estudo do meu TCC, declamando.





Assinatura do certificado de mestre.

Santa Cruz, 18.11.2016

RECADO AOS MESTRES E DOUTORES - Gilberto Cardoso dos Santos


quinta-feira, 17 de novembro de 2016

VERSOS ROMÂNTICOS DE ANDRADE LIMA E FRANCISCA ARAUJO


"Tem perfurado o meu peito
Alguns cacos de saudade!"
.
Inspirados no mote impecável e espetacular do poeta Silvano Lyra...Eis as estrofes glosadas pela dupla: Andrade Lima & Francisca Araújo
.
A.L
Sua lembrança é presença
Que não sai da minha cola.
No trabalho e na escola
Chega sem pedir licença.
Tentei dar sua dispensa,
Mas ela sempre me invade.
E pra falar a verdade
Nunca mais comi direito...
"Tem perfurado o meu peito
Alguns cacos da saudade!"
.
F.A
A noite procuro o sono
Na cabeceira da cama,
Mas é triste pra quem ama
Ficar só e no abandono.
Meu coração sem ter dono,
Padece essa enfermidade
E o pranto molha a metade
Do colchão quando me deito
"Tem perfurado o meu peito
Alguns cacos de saudade!"
.
A.L
O coração sem ter rumo
Caminha constantemente.
Tanto a alma como a mente
Se sentem fora do prumo.
De recordações perfumo
Minha vida e a metade
Do meu ser é sem beldade
E sem sono quando deito...
"Tem perfurado o meu peito
Alguns cacos de saudade!"


. F.A
Restaram somente escombros
Do castelo da ilusão.
E a dor da separação
Pesa como cruz nos ombros!
Por vezes, sinto os assombros
Tangerem minha vontade
Pra longe, só por maldade
Causando esse triste efeito
"Tem perfurado o meu peito
Alguns cacos de saudade!"


A.L
Saudade é doença séria
E dela vivo doente.
Aparece de repente
E fragiliza a matéria.
Pra deter a bactéria
Que causou a enfermidade,
Vou buscar noutra cidade
Quem amo pra dar um jeito...
"Tem perfurado o meu peito
Alguns cacos de saudade!"


. F.A
Do semblante muda o traço,
Desbota a cor do sorriso,
Saudade tira o juízo,
Transforma a marca do passo...
Fere feito um estilhaço
Sem medir profundidade
E essa tal fatalidade
Pode matar um sujeito.
"Tem perfurado o meu peito
Alguns cacos de saudade".
.
S.J.Do Egito PE / Iguaracy PE, 15/11/2016.

segunda-feira, 14 de novembro de 2016

BOM DIA, BOA TARDE E BOA NOITE SERTÃO.


 Objetos, temas e problemas da generalização dos aspectos próprios da identidade Nordestina.


A cultura brasileira é tão diversificada que há um erro muito comum em muitos organizadores de pautas musicais: o sertanejo do sudeste e o sertanejo do nordeste.

Já muito me assusto com a falta de discernimento e também pelos erros honestos cometidos por muitos radialistas e produtores de entretenimento que usam o fenótipo sertão, e acabam por torná-lo contraditório em seus aspectos, situando-o fora do contexto ou sequestrando seu significado.

Erro que é também repetido na noção de Violeiro e cantador de viola... completamente distintos.

O rádio é o principal palco desta grave incoerência cultural. Os ouvidos do sertanejo do nordeste são torpedeados diariamente por uma moda de temas, palavras, canções e expressões que não são próprias de sua identidade.

Ele liga o rádio de manhã e ouve "Menino da porteira", "Fio de Cabelo", "Galopeira", "Caipira"... Enfim, tudo que se refere ao contexto cultural do Brasil do Centro sul; paulista, mineiro e pantaneiro... E os moduladores de tão cegos, fazem essa divulgação munidos por uma ignorância musical, antropológica, sociológica e simbólica que muito se repete em outras dimensões do segmento cultural.

Um dos maiores equívocos de alguém no tocante a cultura popular  é falar e promover uma suposta cultura nordestina fazendo as pessoas ouvirem as músicas SERTANEJAS do sul: como por exemplo Chitãozinho e Xororó;  Galopeiraaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa🎵? (sic), Almir Sater (Tocando em frente), Paula Fernandes, Sergio Reis e tantos outros... Não são símbolos de ordem identitárias do Sertão semi árido que compõem a cultura Nordestina.

Os que tocam isso, e ligam a nordeste comentem uma  homogeneização empírica. Mas é aceitável, afinal o discernimento cultural não é espontâneo....

Porém é preciso entender que a cultura nordestina é um objeto próprio e não pode ser generalizada pois isso conduz à estereótipos e todo tipo de preconceito, não pela ocorrência mas pela falta de entendimento e valorização da mesma.

Há uma série de músicas e artistas importantes e de grande obra que fizeram de fato a construção de uma cultura nordestina e não se pode desprezar. Só para registrar vale lembrar que no cenário geral temos  Marinês, Luiz Gonzaga e outros, no RN temos Elino Julião e mais recente Dorgival Dantas, o próprio Amazan e diversos outros que preencheriam com qualidade qualquer pauta musical...

Neste mesmo raciocínio, quem assistiu Velho Chico, e ao mesmo tempo conhecia esta perspectiva percebeu uma forçosa tortura antropológica, na busca de criar um planeta nordestino. Mas já é de praxe da rede globo fazer sua caricatura grotesca da humanidade que habitou neste espaço que não é apenas físico .... São reflexos da dimensão desta incompreensão....

Enfim, que seja entendido que o Sertanejo é uma cultura simbólica que tem diversas  composições no Brasil e não pode ser generalizada de tão diversa e tão cheia de significados. Então, use sua sensibilidade e discernimento e não cometa também essa generalização.


@andretrairi