
Há mulheres que sentem a necessidade, até maternal, de comandar, de administrar a vida doutrem, esposo ou filhos, dedicando-se, exclusivamente a eles e se esquecendo, inclusive, de viver a sua própria vida.
CARTA A MEU JUIZ, romance psicopassional, mais psicológico do que passional, de Georges Simenon, escritor belga do século passado, é ambientado na França do século XVIII e se propõe a essa viagem no labirinto psicológico de seus personagens.
Romance escrito em primeira pessoa pelo protagonista Charles Alavoine, seu enredo não adentra os meandros de seu crime, com investigações policiais, mistérios, suspeitas em potencial, testemunhas, debates intensos e acalorados entre as partes envolvidas etc, e não se caracteriza como sendo romance policial.

Charles conhece Martine, jovem de vida desregrada e de amores muitos, por quem nutre uma paixão arrasadora e doentia, separando-se de Armande, para viver, agora sim, depois de mais da metade de sua vida, viver com todas as forças de sua paixão, uma vida verdadeira, roubada por duas mulheres, sua mãe e Armande.
Martine, essa terceira mulher, não é dominadora, não dá as determinações domésticas, econômicas, sociais e pessoais na vida de Charles, pelo contrário, se mostra submissa e em tudo é o oposto das mulheres anteriores dominadoras de Charles... Martine não era dominante... não era? Charles nascera para viver sem vontades suas e ser presa fácil dos fantasmas femininos?
Com 207 páginas e de leitura agradabilíssima, CARTA A MEU JUIZ é uma verdadeira obra-prima da literatura universal, não pelo seu desfecho, de certo modo previsível, mas pelo ritmo intenso dado às ações passionais na narrativa e, sobretudo, pela brilhante análise psicológica (falta de determinações, seus arrependimentos, sua mente doentia etc) de seu personagem central.
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