sexta-feira, 1 de janeiro de 2016

MEU PASSADO EM POESIA - Marcondes Tavares



Quando o biloto saía
Ninguém passava vexame
Um pedaço de arame
Com certeza resolvia
Mas quando o biloto caía
Valei-me nossa senhora
Caçava um prego na hora
Isso é verdade eu não nego
Que um prego tira do prego
Quando um chinelo se tora





Meu amor minha querida
Meu pedacinho de céu
Meu doce favo de mel
Razão porque vivo a vida
Minha bela adormecida
Êxtase onde eu entro e fico
Dá fragrância odor mais rico
Do jardim a flor mais Bela
Tudo isso eu disse a ela
Naquele banco de angico.





Cortar palma e bananeira
Que o gado tem apetite
Cuidar de "prã" e mamite 
Purgar e matar bicheira
Desleitar vaca leiteira
Criar bezerro enjeitado
Caminhar atrás de gado
Como quem faz uma escolta
Já que o passado não volta
Eu vou voltar pro passado.



Isso aqui ficou pra atrás
Hoje quando um filho sai
Bênção mãe e bênção pai
Ninguém não se ouve mais
Mas antigamente os pais
Se cansavam de ouvir
Ao chegar ou pra sair
E logo após acordar
Depois do almoço e jantar
E na hora de dormir.


Apanhei o quanto pude
Pra ter vergonha na cara
Com essa primeira vara
Da infância e juventude
Me trouxe muita virtude
Porque nas horas precisa
Minha mãe era a juíza
Punia deixando marca
A família era a comarca
E a sentença era uma pisa.


Onde nós morava tinha
Vara de pendurar fato
Caco de se lavar prato
Penico pote e quartinha
Caixão de guardar farinha
Cambito de botar sela
E de frente com a janela
Bem abaixo do frechal
Havia sempre um jirau
De mamãe botar panela.


Numa casa abandonada 
De noite se escuta a fala
De um fantasma na sala
Revendo sua morada
O vento de madrugada
Chega com toda cautela
Ao entrar pela janela
Passeia pelos escombros
Sem temer os"malassombros"
Dos que foram donos dela.


Sem ter pasto para o gado
Nem mais água no barreiro
O patrão diz ao vaqueiro
Procure um outro cercado
O vaqueiro angustiado
Segue naquele estradão
Dizendo em seu coração
Meu divino pai eterno
Mande um pedaço de inverno
Pra salvar nosso sertão.

Raposa é uma canseira
Ô bicho bom de galinha
Onde nós morava tinha
Muitas pela capoeira
Se não fosse a cartucheira
As arataca e quixós
E o cachorro feroz
Pra botar nela fervendo
Ela acabava comendo
Mais galinha do que nós.


COM A BOCA SUJA DE MANGA
BALADEIRA NO PESCOÇO
TOMAVA BANHO DE POÇO
ME DEITAVA NA FIANGA
ME ENROLAVA COM UMA TANGA
TODA CHEIA DE REMENDO
PARECE QUE EU TÔ VENDO
QUANDO CHEGAVA JANEIRO
NO CLARO DO CANDEEIRO
E A MURIÇOCA COMENDO.


Parabéns ao poeta Marcondes pelo bom humor e criatividade! Excelente resgate de nossas raízes culturais.

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