Há algumas controvérsias sobre a
lenda da Cruz do Inharé, o fato é que ela existiu e teria transformado a
povoação em próspera de água boa e riquezas. Havia duas devoções no ainda não
povoado: a inharé, que era considerada uma árvore milagrosa mas ao mesmo tempo
perigosa e a Santa Rita de Cássia, hoje ainda muito presente na população
católica.
Quanto a Inharé os habitantes,
como conta a lenda, tratavam-na com muito cuidado já que era sabido que a
quebra de um simples galho da planta faria com que dela jorrasse sangue e
maldições que afetaria diretamente a vida dos moradores como a falta de água,
pestes e não produção de alimentos.
Pelo que se pode depreender nos
poucos escritos existentes sobre aquele período - e estou me referindo ao século
XVII embasado no livro de Memória Histórica de Santa Cruz, escrito pelo
monsenhor Severino Bezerra -, a água não era boa o que inviabilizava a produção
agrícola e o consumo humano, embora fosse abundante e por isso mesmo os irmãos
João e Lourenço da Rocha Freire, donos das terras, preferiram se transferir do
lugar denominado Cachoeiro, próximo a atual Lajes Pintadas, para as ribanceiras
do Trairí.
Da lenda é possível dizer que,
aos poucos, foram chegando outras famílias mas, ainda assim, não havia tanto
progresso até que um dia, chega um frade Franciscano Capuchinho que resolve dar
uma nova conotação a inharé quebrando um galho e fazendo dele uma cruz chantada
em frente a capela onde foi cavado um buraco para enterrar as armas dos
habitantes e, com isso, o inharé não sangrou, fez jorrar água boa em fontes gerando
fartura e prosperidade.
Da história reproduzo
textualmente monsenhor Severino Bezerra.
“Desde os tempos de Santa Cruz,
povoado, foi feito um marco de fé e religiosidade do povo, a existência de um
grande Cruzeiro, em frente à Igreja Matriz. Era uma grande Cruz, apoiada num
pedestal bem alto, de alvenaria de forma oitavada. A cruz ostentava em relevo
os emblemas da paixão de Cristo: a corôa de espinhos, os cravos, a lança com a
esponja e outros. Não se tem como certo a data de sua colocação em frente a
Igreja, pela sua antiguidade. Com facilidade pode-se julgar que a origem do
Cruzeiro seja o tempo das missões dos antigos padres Franciscanos do século
passado: Frei Serafim, Frei Herculano e outros que deixaram vestígios de Santas
Missões e, como sinal evidente, os cruzeiros. No povoado de Santa Cruz, essa
cruz elevada firmou no coração dos habitantes do povoado, vila e cidade, uma
grande devoção à Cruz. E era chamada com este título “A Divina Santa Cruz”,
onde a piedade do povo fazia com que todas as noites, uma luz de candeeiro
permanecesse acêsa e aí as pessoas faziam orações. É opinião de alguns, que o
nome ‘Santa Cruz’, dado ao lugar, foi proveniente da existência desse cruzeiro.
Em 1919, o vigário de Santa Cruz, padre José Mendes, teve a idéia de
transportar a referida cruz, para um monte pouco elevado, bem a vista da
cidade, situado à margem direita do rio Trairí. No momento da retirada da cruz,
devido a sua antiguidade de quase um século ali posta, o pé da cruz estava
estragado pelo tempo e não resistiu à mudança, ficando em pedaços. Foi preciso,
então, outra cruz, que foi introduzida no alto do monte. Uma cruz mais simples,
mais leve foi colocada nele e benta a 28 de outubro do mesmo 1919, formando-se,
assim, um local de romaria constante. No alto do monte a cruz, devido o
pedestal ser pequeno, não resistiu por muitos anos. Porque açoitada por ventos
fortes, foi jogada ao chão. Com a queda da cruz, a mesma foi conduzida para a
Igreja Matriz e ali permaneceu por mais de um ano, no corredor da Igreja.
Outras tentativas foram feitas para a conservação da cruz, no alto do monte. A
3 de abril de 1953, em procissão presidida pelo vigário Mons. Emerson
Negreiros, a Cruz voltou ao monte e aí ela foi posta apoiada com arames presos
no chão para que podesse sustentar-se batida pelos ventos.
Na construção da nova Matriz de
Santa Cruz, em 1954, os alicerces chegaram onde esteve o antigo cruzeiro e nas
escavações foram encontradas armas antigas, facas, facões e outros
instrumentos, todos danificados pelo tempo e pela ferrugem. Igual quantidade de
armas antigas foram encontradas na Serra de São Bento, quando da demolição de
um velho cruzeiro situado em frente a capela. Com esse material encontrado vem
a prova bem notada de que o cruzeiro, que permaneceu por tantos anos em frente
a Matriz de Santa Cruz, foi obra dos missionários do século passado, os padres
Franciscanos Capuchinhos”.
Assisti as escavações e vi boa
parte destas armas que foram enterradas no Monte Carmelo ou Alto do Cruzeiro,
hoje o Santuário de Santa Rita de Cássia. Estas armas, mesmo enterradas lá e em
estado bem desgastado não foram encontradas durante as escavações para a
construção do Santuário. Um outro aspecto, que poucos lembram, era a imagem de
Nossa Senhora do Carmo, bela, bem esculpida em madeira e que foi trocada por
uma imagem desprovida de qualquer esmero artístico, assim como os ex-votos que
foram levados. Há quem diga, e eu não posso afirmar, que tudo foi levado por um
ex-dirigente do Instituto do Patrimônio Histórico Nacional no Rio Grande do
Norte. No entanto, a exemplo do roubo da Coroa de Santa Rita de Cássia, há
boatos que nunca foram comprovados.
O fato é que já não há mais
árvores do inharé conhecida na região. Temos tentado conseguir mudas na
Amazônia. Por outro lado, o Santuário de Santa Rita de Cássia recebeu há pouco
tempo a doação de uma muda da planta produzida pela santa-cruzense, Rezilda
Agripino, filha de Manoel Agripino que vem a ser irmão de José, ambos foram
moradores da rua Daniel. A casa de José Agripino ainda hoje existe na
denominada rua Augusto Severo que também chama-se Mossoró.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Comentários com termos vulgares e palavrões, ofensas, serão excluídos. Não se preocupem com erros de português. Patativa do Assaré disse: "É melhor escrever errado a coisa certa, do que escrever certo a coisa errada”