“A vida é um eco. Se você não gosta do que está recebendo, preste
atenção no que está emitindo para o mundo”. Terminou de ler aquela frase e
colocou o livro de volta sobre o criado mudo, na cabeceira da cama. Desde que
perdera o emprego, há pouco mais de um mês, Matheus adotara o hábito de ler um
provérbio antes de se levantar da cama. Até ali, o novo costume não se mostrara
muito eficiente em combater o tédio que lentamente dominava sua vida. O mundo
se tornava cada vez mais cinzento e as poucas cores que ainda conseguia
perceber, rápido perdiam o brilho. Naquele dia, porém, a frase lida não se
deixava intimidar e mesmo depois de o jovem regar o pequeno jardim e tomar
café, como de costume, ela continuava lá, gritando, impávida, sobre o silêncio
emudecido em sua cabeça. Depois de um dia inteiro de tortura, no intuito de
aplacar a fúria da voz que sobre sua mente ecoava, Matheus pegou uma trilha
estreita, atrás de sua casa, que seguia para o oeste, e foi assistir ao pôr do
sol. No alto da colina, sentou-se sobre um tufo de grama seca e passou a
contemplar o espetáculo de luzes e sombras que bailavam no horizonte. - Não! –
gritou em repreensão à voz que pela milésima vez se repetia em sua mente. -
Não, não, não, não... – repetiu o eco no fundo vale. Ele franziu a testa e em
quatro segundos bradou: - Sim! - Sim, sim, sim, sim... – voltou o eco a
repetir. Por muitos minutos Matheus brincou com palavras e frases. Quanto mais
gritava, mais entendia verdadeiro sentido do provérbio lido na alvorada.
Percebeu que seria uma tolice esperar do mundo algo diferente daquilo que ele
mesmo transmitia. Assim, despediu-se do sol que se ia e desceu da colina
disposto a ser, ele próprio, a força criadora de sua vida.
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