quarta-feira, 1 de outubro de 2014

CARONA DE CANDIDATO - Zé Laurentino


Meu compadre Severino
me apresentou certo dia,
com a maió alegria,
ao Dotô Zeferino,
e esse muito granfino
tratou-me dentro da norma;
apertou a minha mão
e disse: _Satisfação!
Eu disse: _Da mesma forma!

Depois me deu seu cartão,
o retrato, o endereço.
Eu disse: _ Assim não mereço.
Disse ele: _Faço questão!
Ainda me perguntou
onde era a minha casa
eu lhe respondi: _No sitio
muito prá lá da CEASA.
Ele acendeu um cigarro
Disse: _Entre no meu carro,
comigo ninguém se atrasa!

Quando ele disse aquilo
meu coração deu um salto!
Já vivo desconfiado
com essa onda de assalto!
Mas depois pensei comigo
que aquele cidadão
não podia ser um ladrão
afiná era um Dotô.
Quando vi o carro novo
e o toca fita tocando,
comigo fiquei pensando
isso é um conquistadô!

Pensei nas minha menina
pensei também na muié.
Mas depois pensei comigo
seja o que Deus quisé!
Entrei no carro do home
e o home empurrou o pé!
Ou carro novo danado!
Ou home conversadô!
Eu chega tava acanhado
pra conversar com o Dotô.

Foi me deixá lá em casa
subindo ladeira e grota.
Ao meu guri mais novo
ainda deu uma nota.
Cumprimentou com respeito
minhas fia e a muié
e aceitou com muito gosto
cuscuz de mi com café.

Depois que o home saiu
fiquei de braço encruzado
dizendo comigo mermo
ou cidadão iducado.
Daquele dia pra cá
onde o home me encontrava,
inda que fosse correndo,
quando me via parava,
abria a porta do carro,
mandava entrar eu entrava.

E se tivesse bebendo
com uma turma de amigo,
deixava os amigo lá
e vinha falá comigo.

Um dia eu cheguei num bar,
perto da banca de jogo,
e lá estava o Dotô
bebendo e “puxando fogo”.
Assim que ele me viu
veio logo pro meu lado
Dizendo: _Vamo bebê
comigo no reservado.
Aí eu pensei comigo,
já meio disconfiado,
ou esse Dotô é santo
ou pensa q’eu sou viado.

Então olhei o Dotô,
desde riba inté embaixo,
e vi que ele tinha jeito
de um cabra muito macho.
Eu também não levo jeito
prá certas coisas, patrão!
Afinalmente aceitei
entrá com o cidadão.

Ele sentou-se na mesa,
de seu lado me sentei.
Olhou bem na minha cara,
na sua cara eu olhei.
Ele olhou pro garçom
e depois falou assim:
_Garçom, traga, por favor,
uma dose dupla de gim!
Aí eu disse: _Seu moço,
traga uma cana pra mim.

Aí o garçom saiu,
esperto que só raposa,
e o home me olhou e disse:
_Vou lhe pedir uma coisa.
Eu disse: _Pode pedir,
não precisa se acanhá.
Não sendo o que eu tô pensando,
poderei até lhe dá.

Então, o home sorriu
e foi me dizendo: _Eu noto
você mêi disconfiado
se pra seu lado me boto
Eu só quero de você
e da famia é o voto.
É que sou candidato
quero ser vereador
pra ajudá a pobreza,
esse povo sofredô.

Foi quando eu disse: _Dotô,
eu voto em Massaranduba,
minha mãe em Cabrobó,
minha mué em Nabuta,
minhas fia em Cochichola,
papai em Pipirituba.
Então, por esse motivo,
não vou votá no senhô.
Aí olhei pro home,
tava mudando de cô.

Não disse uma nem duas.
Não falou e nem sorriu.
Olhou de longe o garçom,
chamou com um “psiu!”
Puxou do bolso a carteira,
pagou a conta e saiu.
Daquele dia pra cá,
confesso a você, meu povo,
nunca mais tive direito
de andar de carro de novo.



5 comentários:

  1. Gostaria que fosse feito uma correção e se possível este poema chegasse as mão do grande poeta ZÉ Laurentino
    Meu claro Zé Clementino,
    Sou poeta desde menino,
    Conhecedor de seu talento,
    Em rimas, prosas e poesias
    Talvez não seja de seu conhecimento
    Que lhe atribuíram um poema meu,
    Como sendo de vossa autoria,
    Sou da cidade de Itaporanga,
    Depois do vale de Piancó
    Meu poema se intitula:
    Matuto no futebó,
    Que retrata minha infância,
    Na fazenda (sítio) de meu pai,
    Por ser tão ruim jogador,
    Meu pai comprou uma bola,
    Para eu ter vaga garantida,
    Senão não tinha partida
    Já que a bola era minha
    E a fazenda do meu pai,
    Eu matuto beradeiro
    Jogava sempre de goleiro
    No pátio La da fazenda.
    Qual não foi minha surpresa,
    Ao ver Wilson Aragão
    Recitando como o Rolando Boldrin
    Dando como autor Zé Laurentino
    E não se referindo a mim.
    Peço por gentileza e bondade,
    Conhecendo sua honestidade,
    Que corrija este erro do autor da poesia
    Sinto como se me tivesse roubado,
    MINHA CRIA. Mudaram apenas para matuto no fitibó.
    João Pessoa-PB, 08/07/2015
    Francisco (CHICO) Solange Fonseca

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    1. Chico,
      Por quê você não entra logo na Justiça e prova sua autoria? Todo o mundo tem essa poesia como sendo do Zé e você se queixando sem mostrar provas.
      Você bem sabe que só passará a ter direito de acusar alguém de estar roubando sua propriedade intelectual quando estampar as provas. Faça isso, amigo.

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  2. Caro amigo, se justa, sua reivindicação deve ser feita. Procure entrar em contato com Zé Laurentino. Tenho a impressão que chegou a constar num livro dele essa poesia. Mas o li há muitos anos e posso estar enganado. A poesia é bela e se pertence a vc sinta-se de parabéns! Vou ver encontro alguém que tem esse livro e se conseguir lhe direi algo. Abraços.

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    1. Certo. É por aí. Não é só dizer. Tem que provar. Nada contra a capacidade do Dr Chico fazer o poema. O problema é que é 99,99℅atribuído ao Zé
      É agora?

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    2. Tenho recitado está poesia como sendo do Zé. Respeitarem a autoria a partir do momento que você provar, Dr Chico. Abraço.

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