domingo, 30 de março de 2014

Só tem uma explicação - Ubirajara Rocha


Quantas pessoas perderam a esperança,
esperando uma mudança, desse quadro social?
Quantas padecem de fome, nesse país tão desigual?
Entra e sai Presidente, mas nada é diferente nessa área social.
É professor mal remunerado, o trabalhador sendo explorado,
o pobre fica triste e o empresário desesperado.
O imposto tira o reajuste, que não passa de um embuste, 
somente para enganar.
Continua o sofrimento, só lhe sobra o lamento, de quem não sabe votar.
Povo escravizado, tanto imposto e desgosto, tá na hora de mudar!
Acabar com a escravidão, é saber usar a urna no dia da eleição.
O sofrimento desse povo, só tem uma explicação:
o espírito de desgraça chamado corrupção.

sábado, 29 de março de 2014

País que faz linchamento Mostra que é atrasado - Gilberto Cardoso dos Santos




A multidão assustada
Com a criminalidade
Combate a impunidade
Com raiva descontrolada
"Marginais" são agredidos
E crimes são cometidos
Por um povo revoltado
que age por sentimento
País que faz linchamento
Mostra que é atrasado

É preciso respeitar
As leis de nosso país
E se alguma não condiz
É necessário mudar
Mas tentar ser justiceiro
Agir feito cangaceiro
Nunca traz bom resultado
É um mau procedimento
País que faz linchamento
Mostra que é atrasado

O alvo são os juízes
E políticos que elegemos
Destes todos nós devemos
Buscar novas diretrizes
Devido à corrupção
Padece a educação
e o povo vive assustado
falta policiamento
País que faz linchamento
Mostra que é atrasado.

quinta-feira, 27 de março de 2014

PAI, AFASTA DE MIM ESSE CÁLICE

CáliceComposição: Chico Buarque

(refrão)
Pai, afasta de mim esse cálice
Pai, afasta de mim esse cálice
Pai, afasta de mim esse cálice
De vinho tinto de sangue

Como beber dessa bebida amarga
Tragar a dor, engolir a labuta
Mesmo calada a boca, resta o peito
Silêncio na cidade não se escuta
De que me vale ser filho da santa
Melhor seria ser filho da outra
Outra realidade menos morta
Tanta mentira, tanta força bruta

(refrão)

Como é difícil acordar calado
Se na calada da noite eu me dano
Quero lançar um grito desumano
Que é uma maneira de ser escutado
Esse silêncio todo me atordoa
Atordoado eu permaneço atento
Na arquibancada pra a qualquer momento
Ver emergir o monstro da lagoa

(refrão)

De muito gorda a porca já não anda
De muito usada a faca já não corta
Como é difícil, pai, abrir a porta
Essa palavra presa na garganta
Esse pileque homérico no mundo
De que adianta ter boa vontade
Mesmo calado o peito, resta a cuca
Dos bêbados do centro da cidade

(refrão)

Talvez o mundo não seja pequeno
Nem seja a vida um fato consumado
Quero inventar o meu próprio pecado
Quero morrer do meu próprio veneno
Quero perder de vez tua cabeça
Minha cabeça perder teu juízo
Quero cheirar fumaça de óleo diesel
Me embriagar até que alguem me esqueça

HISTÓRIAS QUE MERECEM SER RELEMBRADAS - Renan II de Pinheiro e Pereira


Histórias que merecem ser relembradas este mês.
- Comprovadas:
* Padre Antônio Henrique - barbaramente torturado, castrado e assassinado só porque trabalhava com Dom Helder.
* Zuzu Angel Jones - estilista, tinha um filho militante político e embora não concordasse com ele, sempre se preocupou com sua segurança, principalmente após seu desaparecimento. Ao descobrir que foi assassinado numa prisão, empenhou-se em encontrar seu corpo e fez discursos em filas de banco e aviões, além de entregar um dossiê sobre o caso a Henry Kissinger. Ao sair de uma festa, teve seu carro trancado até cair de um tunel, deixando duas filhas.
* Vladimir Herzog - jornalista e diretor da TV Cultura, frequentava o partido comunista porque achava que ele poderia acabar com a ditadura. Mesmo sendo funcionário de um ente público, foi convocado para depor no DOI-CODI, onde morreu em decorrência de torturas severas. Em seguida, tentou-se forjar que se enforcara, como se fosse possível alguém se enforcar de joelhos. Deixou viúva e dois filhos pequenos.

- Controversas:
* Rubens Paiva - médico e político, desapareceu nas dependências do DOI-CODI, mas há indícios de que foi assassinado e esquartejado.
* Humberto Castello Branco - primeiro presidente militar, morreu num acidente aéreo pouco após entregar o cargo, em circunstâncias misteriosas.

Por que conto essas histórias? Porque embora não me identifique com comunistas nem radicais, pois não poucas vezes são pessoas intolerantes, me preocupa a quantidade cada vez maior de discursos apologistas à ditadura nas redes sociais. Aquela não foi uma "Era de Ouro", e sim um período onde a violência e a arbitrariedade reinaram praticamente sem medidas.
Para terminar, gostaria de colocar aqui duas canções sobre essa época "gloriosa". Uma delas foi composta poucos dias antes, mas se constituiu numa verdadeira profecia sobre todos os horrores vindouros (inclusive quando seu autor disse que não estaria lá para ver quando tudo voltasse ao normal), e a outra homenageia em Zuzu Angel as dores de todas as que sofreram como ela:



quarta-feira, 26 de março de 2014

MINHA PARTE EU TÔ FAZENDO - Vinícios Gregório


Já fiz promessa, rezei...
olho pro céu todo dia
como manda a profecia
uma garrafa enterrei
uns trinta santos roubei
mas nenhum quis me atender
São Pedro, eu vou te dizer
O senhor mesmo tá vendo
minha parte eu tô fazendo
Só falta agora,chover

segunda-feira, 24 de março de 2014

AOS VALENTÕES DA INTERNET - Gilberto Cardoso dos Santos


Na internet sou valente
Igual um siri na lata
Enfrento quem desacata
Não tenho medo de gente
A quem pensa diferente
Gosto de desafiar
Mando o cara se ferrar
E tomar naquele canto
Frente a frente eu sou um santo
Logo tento apaziguar.

Quanta gente que conheço
Que possui esse perfil
frente a frente é gentil
Mas distante é um tropeço
Xinga sem qualquer apreço
É arrogante e mesquinho
Enfrenta a todos sozinho
e se mete em confusão
na distância é um leão
mas de perto é um ratinho.

Deixe de ser um covarde
Fale com convicção
Mas use de educação
Pra não se dar mal mais tarde
Não fique fazendo alarde
Querendo impressionar
Discuta sem atacar
A honra do oponente
Ataque ideias somente
Argumente sem xingar.


Aproveitando a distância
Falo sem qualquer recato
Da corja do anonimato
Que causa repugnância
Gente cheia de arrogância
que ataca covardemente
mostre a cara, delinquente,
assine sua postagem
vamos com camaradagem

dialogar frente a frente.

domingo, 23 de março de 2014

Não existe aposentado Na profissão de valente - Hélio Crisanto


Certo dia numa feira
Presenciei uma briga
E sem gostar de intriga
Meti o pé na carreira
Temendo a faca peixeira
Dei um pulo no batente
Tropecei, derrubei gente
Cheguei em casa assombrado
Não existe aposentado
Na profissão de valente


quinta-feira, 20 de março de 2014

APROVEITE BEM A VIDA - Gilberto Cardoso dos Santos

Desenho feito por Wilard Monteiro


Em prosa, verso e imagem
Fernando foi relembrado
deixando um belo legado
em sua breve passagem
um exemplo de coragem
e de luta sem medida
triste foi a despedida
para quem o conhecia
e teve que ver o dia
de sua eterna partida.

Fica esta bela cena
de um beijo apaixonado
esse instante do passado
fez tudo valer  a pena
em sua vida terrena
não teve tudo que quis
no entanto foi feliz
em sua luta aguerrida
"Aproveite bem a vida"
é o que a imagem nos diz.


quarta-feira, 19 de março de 2014

FERNANDO, UMA HISTÓRIA DE LUTA. - Marcelo Pinheiro


Eu não sou um homem, sou um campo de batalha. (Friedrich Nietzsche)

Como Nietzsche, Fernando não foi apenas um homem, foi um campo de batalha. Lá, naquele coração que irresignadamente teimou em bater por 37 anos, muitas lutas foram travadas. Ele
enfrentou o preconceito, a dura condição social, a dor da perda do pai e da mãe e, principalmente, a terrível “doença de Crohn”. 

Fernando venceu muitas batalhas, porém, mesmo lutando com forças impossíveis, perdeu a batalha final. Foi um duelo desumano e desproporcional – por isso ele perdeu -, pois não lutou “apenas” contra essa doença gigante, mas contra um sistema de saúde pública ineficiente e despreparado...

Descansa em paz, amigo, e perdoa esta natureza incompreensível que juntou um amontoado de débeis átomos para formar teu frágil corpo, dotando-o de um grande cérebro, capaz de provar o fútil sabor de uma breve vida.

HOMENAGEM AO FALECIDO FERNANDO (ROLA) - Hélio Crisanto

A morte, essa cega ingrata

É foice amolando o fio

Tristeza dos que ficaram

É sorte de quem partiu

É a dor dizendo em surto

Que a vida é um caminho curto


Pra quem um dia existiu




Siga em paz meu amigo Fernando: Com muito pesar

segunda-feira, 17 de março de 2014

CARDÁPIO DE JUMENTO - Hélio Crisanto


Já se encontra no mercado,
Nos bares de Apodi
Porção de burro grelhado
Jumento a catupiry
Tem lombo na frigideira
Jerico ao molho madeira
Ovo de burro na brasa
Bisteca de jegue preto
Tripa assada do espeto
Como franquia da casa

domingo, 16 de março de 2014

CARNE DE JUMENTO, NÃO! - Gilberto Cardoso dos Santos


"Promotor propõe carne de jumento na alimentação de presos do RN" - Jornal O Globo

O coitado do jumento
Depois de tanto sofrer
Apanhando pra valer
De homens sem sentimento
Agora vira alimento
De bandidos na prisão
É mais uma humilhação
Que lhe faz o ser humano
Tratando de modo insano
Os seres da criação.

Depois de tanto ajudar
ao ser humano imprestável
tornou-se um ser descartável
pelas pistas a vagar
e agora o querem matar
num requinte de maldade
comprovando a falsidade
do humano predador
que só sabe dar valor
ao que tem utilidade.

O pobre burro explorado
Açoitado e desvalido
Até para ser comido
Está sendo desprezado
Pode acabar feito o gado
Servindo de alimento
De comida pra detento
E até pra exportação
O jumento é nosso irmão
Não causem tal sofrimento

Se esta moda pegar
- eu espero que não pegue -
Iremos ter a Frijegue
Para os atormentar
Chega de tanto explorar
Este símbolo do sertão
Olhemos com compaixão
Para os pobres animais
Vamos comer vegetais
carne de jumento não.


Chegará o tempo em que o homem conhecerá o íntimo de um animal e nesse
dia todo crime contra um animal será um crime contra a humanidade.
Leonardo da Vinci

sábado, 15 de março de 2014

LINGUIÇA DE BURRO

Antes da semana santa
Me disseram num sussurro;
Tão querendo matar burro
Pra preso comer na janta.
Essa noticia me espanta
Esbravejou um detento:
Se botarem esse alimento
Prefiro comer carniça
Do que morder a linguiça
Do diabo desse jumento

(Helio Crisanto)


Hélio é um bom poeta
Do Ó disse e é verdade
rima com facilidade
no verso é grande atleta
sua métrica é correta
e cheia de sentimento
propagar é seu intento
a cultura sem segredo
é o poeta que tem medo
da linguiça de jumento.


(Gilberto Cardoso dos Santos)

sexta-feira, 14 de março de 2014

OS VALORES DA CULTURA POTIGUAR - Valdeilson Ribeiro

Poema feito por mim Valdeilson Ribeiro para uma aluna da Universidade Potiguar (UNP) e recitado na voz do meu grande amigo Anderson Lima.

Exaltarei em poesia 
A minha terra adorada 
Meu pedaço de alegria 
Meu, berço, minha morada
Meu Rio Grande do Norte 
Sou um cidadão de sorte
Feliz, por te pertencer,
Terra de tantas riquezas 
Tão linda por natureza 
Tu és o meu bem querer

Tua história no passado
Cheia de bravos guerreiros 
Muito sangue derramado 
Tudo visando o dinheiro 
A invasão holandesa
Truculência sem nobreza
Feriu a nossa nação,
E os Mártires de Cunhaú 
Também de Uruaçu 
Sofreram com a invasão 

Os Mártires hoje lembrados 
Por todos com muita glória 
Serão sempre venerados
Parte da nossa história 
São Gonçalo do Amarante 
Uma cidade importante 
Na história potiguar, 
Hoje, alguns monumentos 
Retratam tempos sangrentos 
Que ninguém quer relembrar. 

Hoje o nosso estado
É pólo industrial 
É um dos mais visitado 
Em cadeia nacional 
O turismo é consequência 
Da beleza e competência 
De um povo acolhedor, 
Uns vivem de agricultura 
Mostrando sua bravura 
E encarando com amor

Terra de bons camponeses 
Que regem nosso estado 
Trabalham dias ou meses
Só no trabalho forçado 
Para abastecer as feiras 
No mercado, as prateleiras 
Com arroz, milho ou feijão, 
Com leite, farinha ou queijo 
E assim vive o sertanejo 
Abastecendo o sertão.

Uns vivem da pescaria
Outros vivem do roçado
Uns acordam todo dia
Para a lida com o gado 
Um povo de muita fé
Que às 5:00 estão de pé
Para ganhar seu dinheiro, 
O sertanejo vendendo 
Com garra fortalecendo 
O nordeste brasileiro.

O turismo na cidade
É algo de impressionar 
Gente de todas as idades
Chegam para contemplar 
Paraísos naturais 
Colinas, cartões postais
Enchem os olhos de prazer,
Quem passa em nosso estado 
Fica anestesiado 
Com tudo aquilo que ver.

Com piscinas cristalinas
Por todo o litoral
Esportes de adrenalina 
Pelas praias de Natal
Pratos de frutos do mar 
Passeio a luz do luar
Em plena via costeira, 
Pelas dunas da cidade
Você sente a liberdade
E a plenitude verdadeira.

Estátuas religiosas
Atrai muitos peregrinos
Imagens maravilhosas
Inúmeros são os destinos
Tem turismo em São Gonçalo
Também em Monte do Galo
Ruy Barbosa, tão bonita,
Em Sítio Novo um castelo 
É um dos pontos mais belos 
E a gigante Santa Rita.

Litoral Norte ou Sul 
Destinos interessantes
Dunas em Genipabu 
Com paisagens deslumbrantes 
O enorme cajueiro 
Vem gente do mundo inteiro 
Visitá-lo em Piranjí, 
Dezenas de balneários 
Tem A pedra do Rosário 
E o pico do Cabugí.

Terra de tantas farturas
Mercado de exportação
Trazendo mais estrutura
Pra toda a população
Rica em pinha e imbu 
Manga, melão e caju
E tem montanhas de sal,
95% por cento
Do sal do seu alimento
É extraído em Natal.

Um povo hospitaleiro
Que mantém as tradições
Preservando o bom vaqueiro
E as festas de apartações
O boi de Reis, a sanfona,
Tudo isso trás a tona 
Toda uma evolução,
Danças, crenças, maravilhas
E o brilho das quadrilhas
Em noite de São João.

A vida tão agitada
Pelas grandes capitais
Contrasta às madrugadas
Na Cidade dos Currais
Com o barulho do chocalho
Cheiro de queijo - de - coalho 
E o canto de um sabiá 
A vegetação rasteira
E o barulho das porteiras
Faz o sertão acordar.

E os colonizadores
Hoje vem nos visitar
Hoje, admiradores
Do que quiseram tomar
As festas de padroeiro
Vem gente do mundo inteiro
As ruas ficam tomadas
Orgulho do nosso estado
Também as pegas de gado
As famosas vaquejadas.

Eu amo a minha terra
Com todo o meu coração
Desde o pé daquela serra
As margens do ribeirão
Da colina à cidade
Da riqueza à humildade
A cultura nos uniu
Amarei-te até a morte
Sou Rio Grande do Norte
Sou Nordeste, sou Brasil.

POESIA NO ESPELHO - Matéria da Tribuna do Norte com Eucanaã Ferraz.

"Sou um leitor de poesia. Leio profissionalmente e dou aulas na universidade sobre poesia, tenho a leitura como um trabalho”, diz o poeta e ensaísta carioca Eucanaã Ferraz, dando pistas de seu grau de envolvimento com os versos, sejam eles rimados ou não. Ferraz participa das celebrações alusivas ao Dia Nacional da Poesia, hoje, a partir das 9h, no Teatro de Cultura Popular. O dia começa com o tradicional café da manhã oferecido aos artistas. 
DivulgaçãoEucanaã Ferraz: Hoje não vejo muito sentido nesses movimentos poéticos, não vivemos mais no tempo onde um grupo ou uma ideia possa se definir como a saída para a literatura ou para a arte. O tempo é outro.Eucanaã Ferraz: Hoje não vejo muito sentido nesses movimentos poéticos, não vivemos mais no tempo onde um grupo ou uma ideia possa se definir como a saída para a literatura ou para a arte. O tempo é outro.

Logo após o desjejum, o público confere performance de Eucanaã, que em 2012 participou do Flipipa e ano passado dividiu mesa com Caetano Veloso durante o Festival Literário de Natal. O poeta carioca preparou a palestra-sarau “A poesia vista pelos olhos da poesia”, com uma seleção de poemas cujo tema é a própria poesia e o papel do poeta. “O que a poesia pensa sobre si mesma”, adiantou o autor do premiado “Sentimental”, livro escolhido como o melhor na categoria Poesia do prêmio Portugal Telecom 2013. Ferraz selecionou textos de Manoel Bandeira, Carlos Drumond de Andrade, Vinicius de Moraes, Cecília Meireles, João Cabral de Melo Neto, Armando Freitas Filho, Ferreira Gullar e Wally Salomão, para uma viagem do Modernismo nos anos 1920 até o desbunde da década de 1970.

A programação matutina na Funcarte ainda inclui homenagem ao poeta/processo Moacy Cirne, intervenções poéticas, debates e lançamento dos prêmios literários Câmara Cascudo (ensaios etnográficos), Othoniel Menezes (poesia) e o novo Moacyr Cirne (ensaios literários). E quando a noite cair, será a vez do pernambucano Silvério Pessoa fazer show no pátio da Capitania às 20h. 

Mas as opções não param por aí: está previsto movimento no Beco da Lama à tarde e durante todo o dia a Fundação José Augusto promove uma série de atividades na Pinacoteca do Estado, com debates, recital e shows – confira programação completa na página 4, além, claro, do suplemento de Poesia, organizado por Aluízio Mathias, que sai encartado nesta edição do VIVER. A TRIBUNA DO NORTE conversou por telefone com Eucanaã Ferraz.

A qual poeta/escrita você tem se dedicado como leitor?
Tento me manter o mais atualizado possível, não só por questões profissionais como por interesse pessoal. Recebo muito livros, e estou sempre comprando novos títulos de olho no que está saindo.  Acompanho com grande interesse. Também procuro me manter sempre informado pela poesia portuguesa. Sou um apreciador de longa data da poesia portuguesa, que sempre foi muito importante para minha formação como leitor, autor e mesmo como estudioso.

Você falou sobre se manter atualizado. E a internet, onde é que ela entra nessa história?

Tem muita coisa dispersa, as vezes eu vejo alguma coisa que as pessoas me mandam, um link, um blog, mas me cansa. Não tenho Facebook, então me mantenho razoavelmente desatualizado. Prezo por isso. Mas sei que tem coisa boa acontecendo.

Esse assunto internet levanta outra questão: hoje há muitos textos circulando na rede erroneamente creditados a Clarice Lispector, Cecília Meirelles, Drummond...
Há um descuido geral que me desagrada profundamente. Vejo como cretinice alguém atribuir algo à Clarice quando ela sabe que não é da Clarice. Aí vem outra pessoa que não é uma cretina, mas um pouco ingênua, preguiçosa ou simplesmente tem boa com o mundo que acredita naquilo e compartilha, e no final ninguém sabe mais de nada. Como a origem disso tudo é a cretinice, isso só gera tolices e equívocos. Me desperta repúdio e desprezo. Já vi poemas meus publicados em blogs sem respeitar a quebra de versos, as estruturas das estrofes. Em um poema, cada vírgula, cada pausa, cada travessão... tudo tem significado. As pessoas têm que começar a pensar em poesia como se fosse um prédio, que se tirar um pilar ele vai desmoronar todo. Poesia não é uma obra do espírito e deve ser pensada como algo material. Vejo esses compartilhamentos serem feitos de forma irresponsável. Claro que isso não é geral, e que minha resposta pode soar antipática, mas não estou aqui querendo ser simpático. Então essa expansão da poesia na internet não é má: é boa, mas não excelente. Passa a sensação de terra de todos e de ninguém.

É possível saber quem é hoje o leitor de poesia?
Tenho a impressão que eles (os leitores) são o que sempre foram: poucos. Esse fenômeno da internet não é um termômetro para determinar aumento de leitores em número ou em qualidade. As pessoas postam sem ler, em vez de comentar o poema postado, mandam um poema próprio – estão mais preocupadas em ser lidas, não em ler. Os leitores de poesia, dignos desse título, são inexpressivos, nunca serão em número suficiente para mover vendas de editoras. Não entenda isso como desprestígio ou drama, é preciso olhar com realismo. Também não há aí nenhuma culpa da poesia e/ou dos poetas. 

Premiações literárias, como o Portugal Telecom que destacou seu livro “Sentimental” em 2013, funcionam como uma bússola para o leitor?
Sim, é uma referência para o leitor, uma referência geral para a instituição literatura que ao longo do tempo vai desenhando suas história: quais os autores foram ou são relevantes naquele determinado período. Os prêmios, claro, norteiam o leitor. Quando autores esperneiam contra esses prêmios, contra a literatura, eles estão entrando para a história como autores que espernearam. Se forem bons autores, vão ser lembrados também por essa característica; se não forem bons autores terão esperneado à toa. 

Os autores que você está trazendo para sua palestra aqui em Natal, Manuel Bandeira, Drummond, Vinícius de Moraes, João Cabral de Melo Neto, Ferreira Gullar e Wally Salomão, entraram para a história, são cânones indiscutíveis...
Pretendo fazer uma homenagem à poesia a partir de leitoras de poemas nos quais os poetas pensam nos seus poemas, pensam a escrita e a palavra. Eles já estão homenageando a poesia e, quando ler, estarei homenageando a homenagem. Como um jogo de espelho: no Dia da Poesia vou ler a poesia de autores falando de poesia. Acredito que escolhi grandes autores, que representam muito bem o espectro da poesia. São autores essenciais.

Natal e Rio de Janeiro estiveram conectados no final dos anos 1960 com o movimento do Poema/Processo, inclusive Moacy Cirne será um dos homenageados no evento deste ano. Qual a importância desse e de outros movimentos que subvertem a poesia?

Tanto o Poema/Processo, como a concreta, práxis, marginal foram detentoras da ideia do conceito de vanguarda. Quando não tinham um manifesto defendendo pontos de vista, tinham poemas que funcionaram como tal. Junto com a vontade de subversão, de renovação, há uma certa intolerância, uma certa arrogância. Um espírito mais ou menos belicoso que dá esses movimentos uma das características mais interessantes que é a violência. Hoje não vejo muito sentido nesses movimentos, não vivemos mais no tempo onde um grupo ou uma ideia possa se definir como a saída para a literatura ou para a arte. O tempo é outro.

Hoje vale tudo ou sempre valeu?
Não diria “valer tudo”, fica um pouco a impressão de que não há critérios. Há sempre critérios! Sempre o julgamento está sendo feito mesmo que esperneiem contra isso. Não sou a fazer da suspensão de todo e qualquer critério ou de juízo de valor. Vejo uma maior convivência, de formas, soluções, saídas. Tivemos uma tradição poética da qual os poetas contemporâneos fazem parte, que traz a responsabilidade aos autores de renovar, de atualizar. É isso que fortalece a instituição literatura. Temos uma poesia forte no Brasil, com uma história longa, e é importante que os autores sejam constantemente lembrados, atualizados, repensados.