sábado, 3 de agosto de 2013

As estatísticas e a nova realidade social do Brasil: Um breve olhar contextual - Roberto Flávio


É visível o quanto a ciência estatística tem se avolumado em importância. Não apenas às necessidades do Estado, como nos primórdios de sua aplicação, o universo dos negócios privados e inúmeras outras ciências cada vez mais se utilizam dela como fonte importante de subsídios. Impossível imaginar sobre o que afinal não se pesquisa hoje em dia, isto posto no sentido de se coletar, analisar e interpretar dados.  
No geral, espera-se que os resultados coletados juntos à população estatística demonstrem de forma mais fiel possível uma determinada situação física ou social. Entretanto, o uso que se faz desses números é que se torna o xis do problema ou da aceitação da situação estatisticamente apresentada. Ou seja, na maioria das vezes os números são usados pelos agentes políticos e pelos governos para justificar suas ações, manipular a opinião pública, para desencadear guerras e até para promover massacres genocidas. Nessas hipóteses reais, desmistifica-se a expressão de que “os números não mentem”.
Em nosso país, cabe ao IBGE, fundação pública federal, à “produção, análise, pesquisa e disseminação de informações de natureza estatística” (demográfica, sócio-econômica e geocientífica).  A SIS - Síntese de Indicadores Sociais (Uma análise das condições de vida da população brasileira) se traduz numa de Síntese de Indicadores Sociais Síntese de Indicadores Sociaissuas publicações mais importantes, sendo a última edição relativa ao ano de 2012.   
Desde 2011 nos tornamos a sexta maior economia do mundo, ficando atrás apenas dos Estados Unidos, China, Japão, Alemanha e Fraa. Por outro lado, a nossa sociedade continua convivendo com todas as desigualdades sociais possíveis (de renda, de oportunidades, de acesso aos serviços públicos de educação, saúde, segurança, habitação, saneamento, justiça, etc.,).
Segundo o IBGE, “houve crescimento econômico e redução das desigualdades, com políticas de transferência de renda e valorização real do salário mínimo”, e “os resultados para o Coeficiente de Gini¹ mostram diminuição consistente da desigualdade nos últimos anos, passando de 0,559, em 2004, para 0,508 em 2011”. No ano de 1990 este Coeficiente foi de 0,602.
Sabemos que todos esses resultados “qualitativos” serão amplamente comemorados e explorados eleitoralmente dentro em breve. O discurso do oba-oba vai imperar, interpretações tendenciosas dos números virão e parte considerável da imprensa se engajará nessa onda do “milagre social” brasileiro.
Não desejo apresentar uma visão negativista dessa nova realidade econômica e social, nem muito menos ignorar as evoluções positivas dos dados estatísticos. Todavia, percebamos o quão estupendo, excludente e profundo é o fosso social brasileiro ao nos compararmos com outros países. Vejamos o quanto na realidade precisamos de políticas públicas estruturantes no plano nacional e local. Ações de governos serão indispensáveis no sentido de se garantir o acesso à educação de qualidade a partir das crianças e visando que os mais necessitados não continuem “sobrevivendo” como dependentes de bolsas e demais programas sociais emergenciais. A guisa de exemplo, na tabela abaixo estão às cincos maiores economias mundiais, a Noruega como 1º lugar no IDH²/2011 e países da América do Sul em melhor classificação que o Brasil. A pura leitura dos dados nos leva a refletir preocupadamente sobre a nossa realidade social. Muitos são os componentes sociais analisados no IDH, mas deixo como destaques apenas saúde e educação por serem elementos basilares do desenvolvimento de qualquer nação.




Em, 3 de agosto de 2013.
Roberto Flávio.



Notas

¹ - O Coeficiente de Gini é uma medida de desigualdade desenvolvida pelo estatístico italiano Corrado Gini. Uma sociedade com total igualdade teria coeficiente de Gini igual a 0 (zero), enquanto o coeficiente igual a 1 (um) representaria a total desigualdade (quanto menor é o número, menos desigual é um país). Para ilustração, o Relatório de Desenvolvimento Humano 2011, divulgado pelo Programa de Desenvolvimento das Nações Unidas-PNUD (United Nations Development Programme -UNDP) traz, como últimos coeficientes disponíveis, 0,586 para Angola e 0,250 para a Suécia (HUMAN..., 2011). Fonte: SIS/IBGE/2011 (p. 162). Ou seja, o Brasil está mais para baixo do que para cima neste índice de desigualdade.

² - O IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) mede as realizações em três dimensões básicas do desenvolvimento humano: uma vida longa e saudável, o conhecimento e um padrão de vida digno.

³ - Esperança de vida à nascença: Número de anos que uma criança recém-nascida poderia esperar viver se os padrões prevalecentes das taxas de mortalidade por idades a data do nascimento permanecessem iguais ao longo da sua vida.

4 - Esperança de vida ajustada à saúde: Número médio de anos que uma pessoa pode esperar viver, gozando de “plena saúde”, tendo em consideração os anos vividos em estado de menos saúde devido a doenças e lesões.

5 - Anos de escolaridade esperados: Numero de anos de escolaridade que uma criança em idade de entrada na escola pode esperar receber, se os padrões prevalecentes das taxas de matricula por idades persistirem ao longo da sua vida.

6 – O Brasil, no Relatório de Desenvolvimento Humano, dentre todos os países pesquisados, encontra-se situado na faixa dos países com Desenvolvimento Humano Elevado (esta faixa apresenta o intervalo de classificações entre 48 e 94). A faixa dos países com Desenvolvimento Humano Muito Elevado termina na posição 47. A faixa dos países com Desenvolvimento Humano Médio começa na classificação 95 e termina na classificação 141. A faixa dos países com Desenvolvimento Humano Baixo se encerra com a classificação 187.

7 - A China, com o seu mega “império comunista-capitalista”, apesar de ser a quinta economia mundial, está abaixo do Brasil na classificação do IDH.

Para reflexão

            Na divulgação do IDHM/2010 dos municípios brasileiros, feita pelo PNUD no recente 29 de julho, o município de Santa Cruz (RN) tem o IDHM 0,635 e se encontra na classificação de número 3393 (num total de 5565 municípios). Os seus coeficientes foram: longevidade igual a 0,761 (Alto Desenvolvimento Humano), renda igual a 0,597 e educação igual a 0,564 (ambas na faixa de Baixo Desenvolvimento Humano). No geral, o município está classificado como Médio Desenvolvimento Humano e a renda per capita mensal divulgada foi a de R$ 327,61.


Um comentário:

  1. Para que um país melhore o seu IDH, é preciso fechar a torneira da corrupção. Não adianta aumento de recurso, sem costurar o fundo do saco. Saco furado, não enche, nem fica em pé.
    Politica pública existe, vamos praticar a democracia, na esperança que no milênio do descobrimento, chegaremos ao patamar da Noruega.

    Jadson Umbelino

    ResponderExcluir

Comentários com termos vulgares e palavrões, ofensas, serão excluídos. Não se preocupem com erros de português. Patativa do Assaré disse: "É melhor escrever errado a coisa certa, do que escrever certo a coisa errada”