Eu
não a conheci e meu objetivo aqui não é o de apresentar os fatos a seu respeito
como num boletim de ocorrências.
Sei
que se chamava Josefa, que cresceu carinhosamente sendo chamada de Zefinha, que
depois passou a ser chamada respeitosamente de Dona Josefa e que frequentava atualmente
a Igreja Mundial do Poder de Deus.
Na
semana passada, enquanto voltava da igreja com uma menina de mais ou menos 11
anos, foi abordada por um jovem alto e mascarado, perto de um lugar comumente chamado
Os Coqueiros, no Bairro do Paraíso.
Este
saiu do matagal, encostou a arma na barriga da menina enquanto pedia seu
celular e depois exigiu da mulher a entrega da bolsa.
A
reação física imediata da senhora, foi a de desmaiar, cair
para trás. Aparentemente, bateu com a cabeça na parte dura
do asfalto. Encontraram seu corpo em estado de convulsão, urinado.
O
marginal sumiu na escuridão levando sua bolsa com a Bíblia dentro.
Naquela
noite, um pai desesperado juntamente com a polícia local
arriscou sua vida até altas horas tentando localizar o assaltante. Depois
retornou para casa, desolado, amargurado pela infrutífera busca, indignado pelo
drama vivido por sua filha e por aquela senhora que lhe servira de companhia.
De
lá para cá, dona Josefa não foi mais a mesma.
Hoje,
muito triste e surpreendida, a menina me disse na escola que dona Zefinha
morreu.
Chegou
a ser internada. Grandes foram os abalos físicos e psicológicos pelos quais
passou naquela noite que lhe parecera de bênçãos. Hoje, quem sabe, ao dar seus últimos suspiros, desejou ardentemente
partir deste mundo violento para outro lugar também chamado Paraíso onde viverá
em paz sem necessidade de policiais e de um posto policial por perto.
As
promessas bíblicas, convictamente repetidas por seu líder religioso de que “Mil
cairão à esquerda e dez mil à tua direita e tu não serás atingido”, não foram suficientes
para o estado de violência que se vive em Santa Cruz.
Não
sei exatamente onde ela morava, só sei que provavelmente não morava no Paraíso,
embora tivesse sua residência neste bairro onde lhe tiraram a bolsa, a Bíblia e
a vida.
Morreu
vítima da insegurança que nos tem amedrontado tão intensamente. Não se sabe
quem estava por trás da arma, mas fazemos uma ideia de quem e do que está por
trás desse estado caótico que nos assusta.
Lamentavelmente,
perdemos mais uma cidadã cumpridora de seus deveres, alguém que vivia sob o
temor de Deus e das autoridades; alguém que vivia em simplicidade e
anonimamente deu sua parcela de contribuição para a melhoria de nossa gente.
Morre vítima de uma abordagem estúpida, covarde, feita às 8:30 da noite em uma
movimentada rua do Paraíso por alguém que contava e ainda conta com a certeza
da impunidade.
Resta-nos
indignar-nos por mais esta perda, chorar com os que choram. Resta-nos tentar
contribuir, ainda que seja através de uma modesta crônica, para que mude esta
situação!
Belo texto, Gilberto! Mas feia é a nossa situação!
ResponderExcluirCoitada de Dona Josefa! Vinha da igreja satisfeita por ter ouvido a palavra de Deus. Coitados de nós!O que faremos nós, se não estamos imunes a situações como a que ela passou?
Só nos resta um consolo: que Dona Josefa descanse em paz.
JOÃO MARIA DE MEDEIROS
É realmente lamentável, e eu fico mais indignado ainda porque esses assuntos são os que menos são discutidos nos plenários, digo em todas as esferas políticas, federal, estadual e municipal.
ResponderExcluirEsse deveria ser o principal assunto do momento.
A preocupação deveria ser maior se realmente fosse o caso de interesse em encontrar solução.
Por esse motivo, culpo a todos sem distinção, Prefeito (a) e Vereadores, em se tratando de nossa cidade.
Não adianta dizer que a responsabilidade não compete ao município e sim ao estado, esse é um tipo de argumento que não interessa a ninguém.
Existem muitos meios de se lutar para defender e garantir a segurança, a paz e a tranquilidade, o que não há é boa vontade de nossos governantes.
Enquanto a insegurança e a criminalidade crescem aumentando o pânico e o pavor da população, eles estão muito ocupados em discussões politiqueiras, partidaristas, com visões focadas em futuras campanhas eleitorais.
Parabéns pelo texto, seria interessante que os nossos representantes fizessem uma leitura do mesmo e discutissem sobre o que esta acontecendo em nossa cidade e procurassem ações para amenizar essas situações. Atenção Vereadores olhem um tema para a proxima Assembleia na Camara (Fica a idéia).
ResponderExcluirParabéns Gilberto pelo excelente texto.É lamentável que isso tenha tornado-se rotineiro aqui em nossa cidade. O que nós, cidadãos de bem, iremos fazer meu amigo? Estamos de mãos atadas.
ResponderExcluirParabéns pelo texto, digno professor, poeta e Cristão.
ResponderExcluirA coisa anda feia, sinceramente ando assustado.
No passado, quando jovem, no começo dos anos 70,
faltava grana, andava a pé, mesmo assim, eu era um jovem feliz.
Atualmente com mais um dinheirinho, um carrinho, com toda sinceridade
não vale praticamente nada,
posso ser a próxima vítima.
JLUF