Senhora Joelma,
nunca fiz segredo
entre meus amigos e familiares que detesto o trabalho que você e seu marido
fazem na banda Calypso, e que espero nunca receber de presente nada relacionado
a ele. No meu conceito, vocês simplesmente simbolizam uma tendência cada vez
mais maior de promover a mediocridade no meio artístico e “deseducar”
culturalmente o público, através das músicas com letras pobres e arranjos
sofríveis que vocês tocam, mas que como são amplamente divulgadas nas rádios e
televisão, sempre encontram um público cativo. Nessas rádios, como sabemos,
raramente é tocado algum material de maior qualidade, por ser considerado
“pouco comercial”, mas têm suas ondas abertas a qualquer coisa com potencial
para fazer sucesso, pouco se importando se é algo bom ou não, e vocês
contribuem para isso, “monopolizando” o mercado e dificultando que artistas
talentosos tenham mais espaço. E também acho que não custaria nada você
diminuir a intensidade com que canta, pois o bom cantor não precisa berrar para
ser ouvido e ao forçar a voz você pode comprometê-la no futuro. Sempre temos
alguma coisa a aprender com bons profissionais, mas não encontro nada em que
você possa ser considerado uma referência.
Sei que
muitos que lerem isto vão dizer que sou preconceituoso e deveria valorizar sua
história, já que vocês eram pobres e conseguiram subir na vida graças ao
trabalho duro que fizeram, mas discordo: pouca instrução nunca foi
justificativa para falta de talento, e o Brasil está repleto de exemplos disso,
como Machado de Assis, que é considerado por muitos o maior escritor brasileiro
mas era filho de um pintor de paredes e uma lavadeira, ou Cartola, que não
tinha o primeiro grau completo e chegou a trabalhar como lavador de carros, mas
era capaz de, mesmo com pouca instrução formal, escrever canções de grande
beleza e profundidade, como “Tive sim” e “O mundo é um moinho”, que talvez você
devesse escutar se algum dia quiser saber o que é um artista de verdade. Não penso
que o sucesso seja um atestado seguro da competência de alguém, até porque ele
é algo que vai e vem: Augusto dos Anjos só fez sucesso depois de morto, e
muitos artistas dos anos 80 viviam no “Cassino do Chacrinha” mas hoje quase
ninguém lembra deles. Onde estão Chico Lopes, Cravo e Canela, Katinguelê e
outros que estouraram tanto que perderam combustível e não conseguiram segurar
o sucesso?
Mas não é
esse o assunto principal desta carta: é a sua hipocrisia.
Digo que você
é hipócrita porque você fala dos gays como se fosse extremamente superior a
eles, e não adianta dizer que suas declarações foram deturpadas porque
resgataram outras que você deu anteriormente que vão no mesmo sentido, como se
fosse “algo” equiparado a uma “droga”, que pode ser curado. Mas você é mesmo
tão superior? Afinal, estamos falando de alguém que usa e abusa, nas suas
performances, de coreografias apelativas e roupas estilo “cheguei”, e
tenta passar uma ideia de sensualidade
quando canta, principalmente com aquele gesto de balançar o cabelo, que caso
você não saiba serve é para passar uma ideia de frivolidade. Se você usa o
corpo para se promover, a ponto de passar uma imagem de que “se acha” a “rainha
do pedaço”, qual sua moral para censurar alguém, como se só por causa de sua opção
sexual ela fosse promíscua ou não tivesse nada de relevante para acrescentar ao
mundo? Digo isso porque talvez você não saiba, mas existem artistas gays de uma
obra considerável, e bem mais talentosos que você poderia sonhar: Renato Russo
e Emílio Santiago com certeza lhe ensinariam muito sobre elegância e
profundidade, e mesmo que fossem um tanto desregrados Cazuza e Cássia Eller
tinham mais verdade e entrega que você. E isso porque só estou falando do
Brasil: lá fora os exemplos são muito mais numerosos, como por exemplo Freddie
Mercury, que tinha uma voz e uma presença de palco inigualáveis.
Portanto,
cada vez que pensar em dizer alguma coisa, tente ganhar algum conteúdo, deixe
de agir como “grande personalidade cultural” e seja mais humilde.
Renan II de Pinheiro e Pereira.
Ela é gasguita com direito a filme, cantando música que não compôs e quando tenta falar por si só, revela o quanto melhor seria se ficasse calada. É isso aí, Renan!
ResponderExcluir