Início
de ano letivo, deparei-me com a pergunta: professor, deixo quantas linhas?
Há
em educação fórmulas e formas exatas que também delimitam e retiram desde cedo
suspiros de liberdade de quem vem à escola e deveria encontrar nela uma
formação cidadã. O processo acontece numa contabilidade precisa de dias, horas,
horários, passando pela organização engenhosa de nossas carteiras e chegando ao
professor em seu posto de figura central como se detivesse o conhecimento em
sua plenitude. Somente agora depois de dezesseis anos de LDB (Lei de Diretrizes
e Bases da Educação Nacional) buscamos cumprir o horário integral do aluno na
escola, que acontece num faz de conta, já que não temos estrutura para fazê-lo
decentemente, pois investir em educação não é o nosso forte e como se não
bastasse, tenta-se resolver problemas cruciais mexendo no currículo, a exemplo
da Comissão do Senado que aprovou recentemente a inclusão da disciplina
cidadania moral e ética no ensino fundamental, como se essa discussão não fosse
já contemplada na disciplina de ensino religioso, pelas demais disciplinas
através dos temas transversais, ou talvez porque se confirme a tese de que a
escola não é essencialmente um espaço democrático e essa disciplina venha numa
tentativa heroica para fazer esse resgate.
Em
educação prevalece o intencional e o espaço que a escola determina na vida é
muito bem simbolizado pelo espaço das quatro paredes num convite desde cedo à
limitação ou à passividade. E essa “opressão educacional” nos leva a outros
tipos de opressão, seja ela política, religiosa... econômica (O cartão de
crédito, por exemplo, me credencia como cidadão, mas uma boa educação me fará
enxergar que ele não me concede autonomia financeira.).
Neste
contexto não se pensa e não se prepara para o contraditório, nem para saber ser
contraditório. Se a nossa leitura é deficitária, se não concatenamos um ponto
de vista e se argumentamos de maneira confusa, isso reflete em nossas relações,
em nossa vida. Na contramão do mundo não se instiga a leitura, a pesquisa, o
conhecimento, não se domina os diversos gêneros do discurso e não se faz uso da
oralidade de maneira adequada. Não me admiro quando ouço que aluno bom é aluno
que mal fala: ele é bonzinho! Mas num mundo sem fronteiras o que realmente
incomoda nem chega a ser a ausência e sim o silêncio, embora muitos dos que
falam são ignorados ou convidados a calar-se, já que o aparelho fonador existe
a partir do aparelho respiratório e por isso quem fala também machuca, já que
respira.
Em
contrapartida há o discurso de que o professor pode fazer a diferença, mas a
nossa própria formação é deficitária e muitos nem nos vemos como profissionais
e sim como agentes sociais exercendo um ofício ou sacerdócio, daí a lembrança
de que temos que desenvolver sentimentos amorosos, de respeito com nossos
alunos, acho que como certa compensação pelo fracasso de um modelo para um
aluno no século XXI, de um professor com formação pedagógica do século XX e uma
educação que segue o formato do século XVIII, mas só a educação parou no tempo,
que se diga. Esta discussão é interessante no processo de formação pedagógica
do professor, não como projeto a ser desenvolvido em sala de aula, tanto quanto
me parece inconcebível a um pediatra ou psicólogo, por exemplo, com placas em
seus ambulatórios e os dizeres de que ali crianças são tratadas com dignidade,
afinal, onde não for, que se denuncie.
E
assim, neste sistema condensado em paredes, de dias, horários, disciplinas e
minutos específicos, encontramos aqueles que delimitam também números de
linhas, determinando , subestimando e encurralando ainda mais, em pleno e
admirável mundo novo. Lembro a professora que pedia para os alunos desenharem
uma rosa e tinha sempre que ser vermelha. Uma de suas alunas foi transferida
para outra escola e quando provocada a desenhar... adivinhe o que ela desenhou.
É por aí mesmo, Maciel. rsrsrs
ResponderExcluirUm burro?
ResponderExcluirMaciel,
ResponderExcluirSeu texto traz à tona reflexões já feitas anteriormente por grandes gênios da educação brasileira e mundial. No entanto, você, com sua genialidade, dar cores novas, vê outros aspectos, outras nuances dessa situação. Além do que, você vivencia, na prática, o que fala; diferentemente de muitos autores renomados, que escrevem em seus gabinetes, distantes da sala de aula.