domingo, 18 de novembro de 2012

Duas esquinas enlutadas - Marcos Cavalcanti


Sexta-feira. Paro o carro na Rua Eloy de Souza para cumprimentar os irmãos João e Mário Alberto. Os semblantes dos dois antecipam-me que algo triste havia acontecido. Foi quando João disse-me que estava ali para prestar sua última homenagem à sua amiga Nulce. Saí do encontro lamentando que a paisagem humana e social de Santa Cruz, em menos de uma semana, ficava mais empobrecida, pois perdia duas pessoas muito conhecidas em nossa cidade. Ambas exerciam atividades afins e dedicaram as suas vidas à nobre tarefa de servir, de atender diligentemente aos outros.
Agora, são duas esquinas enlutadas, entristecidas e desconsoladas. Cada um de seus recantos, as suas paredes, os balcões, as prateleiras e utensílios sentem intimamente a falta de seus donos, de suas mãos familiares, de seus cúmplices olhares, de suas vozes preenchendo o ambiente. São duas famílias consternadas em seus sentimentos, saudosas da companhia afetuosa de seus dois entes queridos. São também centenas de fregueses que ficaram órfãos das presenças marcantes de Marcos Tchan e de Nulce do Cafezinho do Galego.
De Marcos, meu xará, apreciador de minhas magras crônicas, ficará a lembrança da atenção quase reverencial que me tinha. Quantas vezes, ao chegar no Fórum para trabalhar, não me chamava para dar alguma notícia ou para perguntar a minha opinião sobre este ou aquele assunto, creditando-me um “conhecimento” que, efetivamente, eu não tinha. O sorriso no rosto e o tradicional aperto de mão eram seu cartão de visitas. Sua simpatia, simples e verdadeira lhe rendeu muitos fregueses e amigos que por muitos anos frequentaram o seu conhecidíssimo estabelecimento comercial para tomar uma branquinha, comprar guloseimas, uma água, refrigerante ou simplesmente para jogar conversa fora.
De Nulce, mulher de fibra, mãe e avó dedicada, lembrarei, sempre grato, das vezes em que frequentei o seu cafezinho para tomar uma aguinha de coco, acompanhado de um pastel, e ela, sempre atenciosa, mesmo que não tivesse o que eu solicitava, pedia-me um minutinho e daí a pouco aparecia com o meu pedido nas mãos.
Uma das esquinas continuará o seu mister, com seu ponto  fazendo o mais famoso café da cidade, ainda que sem o toque especialíssimo da nossa saudosa e estimada Nulce, a Rainha do Cafezinho do Galego. Quanto à outra esquina, talvez não veja outras gerações e venha a sofrer as mudanças arquitetônicas que vertiginosamente modificam a nossa paisagem, mas certamente restará intacto em nossa memória sentimental, como o ponto sempre TCHAM da razão de viver de Marcos, cuja Marca de Fantasia se confundia com seu próprio ser, tornando-o uma das figuras dignas de nota e de homenagem na paisagem mais humana de nossa querida cidade de Santa Cruz.

5 comentários:

  1. Mister M. Cavalcanti, os dois são merecedores de todas as honrarias, inclusive dessa maravilhosa crônica. Parabéns!

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  2. Marcos, meu amigo, que belo texto! Que linda homenagem!

    Das mãos de Nulce recebi os jornais que, em 1994, expunha meu nome como aprovado na UFRN, e, em 2000, como aprovado no concurso para professor da Rede Estadual. Ao vê-la, sempre me lembrava do Galego do Café, meu amigo de papos e de natação no sítio de meu pai (Açude Novo).

    Quanto a Tchan, nunca esquecerei do seu jeito simpático de atender o freguês e do doce de leite com goiabada, que eu, ao lado de uma “tropa” de amigos do bairro Paraíso, comia nos bons e velhos anos 80.

    Parabéns!

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  3. Obrigado Teixeira e Nailson pelas contribuições que se somam ao meu texto para homenagear os nossos conterrâneos. Grande Gilberto, sei que a intenção da foto foi boa, mas ela não combina com o sentimento do texto.

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    1. Marcos, fiquei emocinada com as suas palavras! Os dois, Nulce e Marcos, são merecedores dessa belíssima crônica.

      Cristiane Praxedes Nóbrega

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  4. E verdade Marquinho, eu tb fiquei muito triste qdo eu soube da morte dos dois, poxa fiquei sem acreditar, pois TCHAM foi quase meu vizinho durante 18 anos. Gostava muito dos meus netos e brincava demais com eles qdo eu ia la comprar as guloseimas. Ele olhava pra mim e dizia: Assunçao eu admiro o carinho que vc tem por essas crianças, qdo vc passa, eu fico olhando como vc trata eles , so falta pegar Ingridy que ja e uma moça e colocar nos braços, olha eu admiro demais esse carinho, vc esta de parabéns! Isso sao palavras dele, que nunca vou esquecer. E interessante que ele so falava rindo

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