segunda-feira, 17 de setembro de 2012

A POLÍTICA NO MUNDO DE HOJE E MEU PAPEL DE CRISTÃO - Alessandro Nóbrega



O momento político que estamos vivendo requer de nós muitas reflexões. Até porque volta e meia ao sentarmos com os amigos, estamos sempre falando desse assunto tão pertinente no momento. 

Entre uma dessas conversas, discutíamos sobre a participação das igrejas neste processo. 
Algumas coisas precisam ser ponderadas. Entre elas a de que a Igreja não deve levantar bandeira política. Criar situações que gerem um entendimento de que ela esteja apoiando candidato A ou candidato B e assim transformarmos a igreja em um espaço particular de articulação político partidária. E isso pode se dar de maneira sutil para que não desperte o olhar crítico do cristão menos observador. Mas, há sempre aqueles que podem ver algo que está além da superfície. E perceber a propaganda subliminar presentes muitas vezes, lamentavelmente, dentro da casa de Deus.

Coloco-me aqui como leigo, falando para leigos, pois é esta minha condição de cristão presente neste mundo.
A igreja deve ter um olhar voltado para a política sim, mas um olhar crítico e apartidário, impessoal em que ela possa dar seu direcionamento, tendo sempre a preocupação de esclarecer o cuidado que devemos ter com algo tão sublime que é a política. Coisa séria na vida do leigo. O documento Galdium et Spes nos orienta para esta igreja que está no mundo. Que devemos ter a preocupação de construirmos uma sociedade justa e que tenhamos o olhar e as ações voltadas para os menos favorecidos, o Cristo que sofre. 

“As alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos homens de hoje, sobretudo dos pobres e de todos aqueles que sofrem, são também as alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos discípulos de Cristo.” (Gaudium et Spes)

Devemos construir ações que promovam a dignidade humana e não uma política voltada para grupos, entidades ou até mesmo pessoas de forma individual. Nossas decisões políticas estão determinando o futuro daqueles que mais precisam de políticas públicas. É preciso nesta hora deixarmos de lado nosso ego, nosso desejo particular e nos sentirmos mais cristãos em que nossa ação política deve atender a comunidade.
A igreja, portanto, como nos lembra o mesmo documento hora citado (Gaudium et spes), tem diante dos olhos o mundo dos homens, a inteira família humana, com todas as vitórias e derrotas. Uma humanidade ainda mergulhada na violência, na fome, na miséria, na falta de teto, na ausência da assistência a saúde e de cuidados básicos, aspectos que podem ser amenizados com uma política voltada para o bem comum e para uma sociedade mais igual, afinal vivemos em um mundo “libertado pela cruz e ressurreição de Cristo, vencedor do poder do maligno; mundo, finalmente, destinado, segundo o desígnio de Deus, a ser transformado e alcançar a própria realização.” (Gaudium et Spes) E é nesta perspectiva que a igreja tem um papel preponderante de nos dar um direcionamento para construirmos uma humanidade fraterna, longe dos desejos da opulência econômica que tem transformado drasticamente as concepções e condições de vida da sociedade.

Desejo ter sempre um olhar cuidadoso para não cair na armadilha daqueles que querem um mundo poderoso e débil que não avança para diminuir o sofrimento dos menos favorecidos, que promove apenas a servidão, a regressão e o ódio. É preciso justos líderes que tenham de fato um olhar voltado para o caminho da promoção humana e do bem-comum e não de seus interesses particulares.

“É necessário, portanto, tornar acessíveis ao homem todas as coisas de que necessita para levar uma vida verdadeiramente humana: alimento, vestuário, casa, direito de escolher livremente o estado de vida e de constituir família, direito à educação, ao trabalho, à boa fama, ao respeito, à conveniente informação, direito de agir segundo as normas da própria consciência, direito à protecção da sua vida e à justa liberdade mesmo em matéria religiosa.” Gaudium et Spes)

Sejamos cristãos conscientes de nosso papel no mundo. De construirmos um lugar sempre mais próximo daquilo que Cristo nos ensinou, e longe disso estão meus interesses individuais, meus anseios de um poder passageiro. Podemos levantar nossas bandeiras, mas conscientes antes de tudo de nosso papel cristão neste mundo. E claro, levantá-las fora de nossas igrejas, pois ali só cabe a adoração ao Deus da vida.

6 comentários:

  1. Excelente! Reflexão espetacular do grande Alessandro! Mas esse último período resume tudo que eu penso sobre a igreja, e como ela deveria ser. "... pois ali só cabe a adoração ao Deus da vida." Infelizmente não é o que estou vendo na Igreja Matriz de Santra Rita de Cássia. Lamento muito, pois fui criado ali dentro.

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  2. Alessandro,

    Extraordinário texto, em que você reflete profundamente sobre a relação igreja/política e enfatiza a visão que cada um de nós, cristãos, devemos ter sobre nossa caminhada esperiritual e sobre nossos semelhantes.

    Parabéns!

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  3. Concordo! "Ninguém pode servir a dois senhores" Mat. 6:24. Religião é refrigério e a linha divisória com o mundanismo é bastante tênue. Outro dia fui em busca de um programa no rádio e só me mantive por lá até a hora em que o ministro de Deus começou a fazer propraganda de uma marca de água mineral.

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  4. Francisca Joseni dos Santos18 de setembro de 2012 às 17:03

    Concordo plenamente com você, a Igreja deve se isentar de assumir posições partidárias ou personalistas. O Padre, Pastor, Sacerdote exerce um poder muito grande sobre o seu rebanho, portanto, na hora em que ele assume seu partidarismo estará consequentemente, pela função que exerce, fazendo um papel de "cabo eleitoral" imbatível e não fará jus ao que a Igreja prega que é a igualdade entre os homens e a luta pelos que tem sede de justiça, de fome, de saúde, de segurança, de educação, ou seja que tem sede de CIDADANIA.

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  5. rapaz, o grande bróder Teixeirinha resumiu o que eu pensei: "extraordinário texto"! Creio que você deveria o enviar para todas as revistas e revistas de circulação, inclusive para a secretaria de comunicação da Igreja. meus parabas, compadre!

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  6. Caros amigos, esse texto não tem a intenção de atacar ou denegrir a imagem de ninguém. Se assim o fizesse ele seria contraditório. Seu objetivo é de reflexão diante do momento político e para que nós cristãos tenhamos o cuidado de não esquecermos o que nos oreinta nossa igreja. Igreja somos nós todos, leigos e leigas que estamos neste mundo. Muito obrigado por todos os comentários, foram lidos com muito carinho.

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