segunda-feira, 21 de agosto de 2017

A NADA FÁCIL ARTE DE EDUCAR - Gilberto Cardoso dos Santos


A NADA FÁCIL ARTE DE EDUCAR - Gilberto Cardoso dos Santos


Vi uma entrevista de um famoso pianista, cantor e compositor americano, concedida a Amaury Júnior. 

Foi perguntado ao sexagenário artista a quais pessoas ele agradecia por tão bem sucedida carreira. Sua resposta foi curta, sem titubeios: “Agradeço a minha mãe”.

Ante o aparente espanto do entrevistador, explicou: “Minha mãe me botava pra praticar, praticar, praticar... Eu odiava aquilo, detestava música! Mas ela insistia pra que praticasse ao piano. Se não fosse por ela eu não estaria aqui sendo entrevistado por você, não teríamos o que conversar. Talvez hoje eu trabalhasse numa loja de roupas, seria qualquer outra coisa... Portanto, tudo que sou devo a ela”.

Aquela entrevista, assistida por acaso, deixou-me pensativo sobre a difícil arte de educar. Qual o limite entre o não e o sim, pergunto-me. Até que ponto, devemos considerar os desejos, a felicidade imediata, disposições e indisposições de nossos filhos naquela idade em que o que mais importa é a diversão? Seria o correto, como fez aquela mãe, desagradar no presente para produzir um bem futuro? Teria hoje ele tão reverente sentimento de gratidão (observem que não citou ninguém, além dela!) caso ela o tivesse deixado à vontade e tivesse dito “Está bem, filho, se não quer fazer os exercícios, não tem problema”? 

Creio que através da disciplina – amarga naquele momento - aquela mãe o conduziu à autodisciplina. Consequentemente, esmerou-se na arte de tocar. Entre os momentos áureos de sua carreira, consta o dia em que tocou para o presidente Barack Obama.

Que orgulho daquela genitora ao longo da vida ao ver seu bebezão brilhando nos palcos, hiper feliz e bem sucedido! Será que valeu a pena para aquela mãe ser odiada durante o período em que insistia com o filho? Doía imaginar que em seu íntimo o filho a adjetivava de CHATA, mas aquela mãe diria que SIM, valeu a pena!


Será que valeu a pena sacrificar parte da infância para submeter-se aos desejos da mãe? O pianista responderia SIM, indubitavelmente. Para Rosely Sayão, famosa psicóloga, "Educar pressupõe sempre desagradar à criança".Todavia, não dá para ser taxativo, não há uma receita única. Qual nível de chatice se mostrará benéfico à criança? Em que medida e em que áreas deveríamos ser democráticos? Decerto é inspirador o testemunho do pianista  e com certeza útil a quem mima em excesso. Mas cada ser é único, cada caso é um caso. O que funciona com um pode não dar certo com outro. 

domingo, 20 de agosto de 2017

VERSEJANDO MANGA E CHUPANDO VERSOS




 Resposta ao grande vate Valdeilson:

Todos têm um lado angélico
E também um lado cão
Mistura de Yng e Yang
Eu creio que todos são
Os de toga e os de tanga
Todos têm seu lado manga
Na labial sucção.

(Gilberto Cardoso dos Santos)







quinta-feira, 17 de agosto de 2017

ZACK MAGIEZI E DRUMMOND: INTERTEXTUALIDADE




BORDANDO PALAVRAS COM HÉLIO CRISANTO, ÀS CUSTAS DE PIERRE BORDIEU - Gilberto Cardoso dos Santos


BORDANDO PALAVRAS COM PIERRE  E HÉLIO CRISANTO (Gilberto Cardoso dos Santos)

O que é poesia, professor? Poesia é devaneio, meu amigo, como disse Bachelard. Poesia é fugir da linguagem comum, atrapalhar a ordem natural do discurso, saltar pra fora da asa, como disse Manoel de Barros.
Hélio Crisanto, poeta santa-cruzense, de Campestre, disse-me que recebeu a incumbência de escrever um cordel sobre um tal de Pierre Bordeau e, naturalmente, estranhou a pronúncia do sobrenome, que em nossa língua soa como verbo “perfeitamente” conjugado, sem deixar margem para dúvidas:  - bordou ou não bordou? - E ficamos a conversar a respeito da proposta. No meio de nossas divagações, criei um mote (Pierre bordou a blusa que Cláudia Cunha comprou) E Hélio fez outro (Pierre bordou a saia da mãe de Napoleão), e assim foram produzidas algumas estrofes. Vejamos:

Gilberto Cardoso:

Pierre, quando menino,
adorava confusão
Bordava e pintava o sete
comia que só o cão
com gente da sua laia
Pierre bordou a saia
Da mãe de Napoleão.

Se ele bordou ou não
É melhor ficar calado
O eleitor de Bolsonaro
Vai ficar meio cismado
Com o que ele aprontava
Pois se Pierre bordava
Com certeza era prendado.

Pelo que observei
Pierre era educador
De formação esquerdista
Vermelha era sua cor
Educador destemido
Que ficou mais conhecido
Na função de bordador.

Na defesa dos aflitos
Pierre era muito afoito
Sua comida preferida
Era café com biscoito
Ele era um infitete
Depois que pintava o sete
Pierre bordava oito.

E Hélio continuou:

Napoleão Bonaparte
Quando era o rei da França
Fez uma grande festança
Juntando o povo da arte
Botou a mãe como parte
Dessa comemoração
E num ato de paixão
Levou a velha na praia
Pierre bordou a saia
Da mãe de Napoleão.

Gilberto Cardoso:

Pierre era meu colega
Nós caçava passarinho
Ele era bem baixinho
E ajudava uma cega.
Gostava de música brega
Roubava manga e mamão
Tornou-se um bom artesão
Seguidor de Malafaia
Pierre bordou a saia
Da mãe de Napoleão.

Prosseguiu Hélio:

Pierre quando menino
Tinha fama de teimoso
Por ser muito corajoso
O chamavam Virgulino
Torava corda de sino
Era ruim que só o cão
Entre tanta profissão
Já fez forro de “cangaia”
Pierre bordou a saia
Da mãe de Napoleão.

Gilberto Cardoso:

Pierre era professor
Por um décimo reprovava
E o povaréu reclamava
De seu imenso rigor
Então o governador
Tirou ele da função
E ele achou seu ganha-pão
Fazendo arte em cambraia
Pierre bordou a saia
Da mãe de Napoleão.


Poesia é isso, uma “útil inutilidade” que resulta num sorriso, ainda que breve, ou faz cair uma lágrima indevidamente represada. O cordel sobre Pierre (ainda) não saiu, mas bordamos essas bobagens a respeito dele.

PENSAMENTO - Luzia Anália


Pensamento

Meu pensamento não voa.
Ele percorre meu corpo,
Rende-se ao meu querer,
Molda-se em minhas células.
Seu designer é petulante e robusto,
seu cheiro é de flor.
Ele se faz poesia,
cantoria e medo.

Meu pensamento não sonha.
Ele escorrega em meus neurônios,
Prende-se ao meu fazer,
Liberta-se em meu coração.
Seu sabor é de esperança e silêncio,
seu cheiro é de amor.
Ele se faz nostalgia, alegria e torpedo.

Era tanto O amor que eu tinha.... - Francisco Vital


Era tanto O amor que eu tinha Era tanta
A alegria que eu tinha Ao ver você chegar
Assim um tanto sem jeito E aqui no meu peito
Eu me consumia E nos teus olhos eu morria Ao ver você se afastar. Você quieta, calada e eu querendo gritar E teu silêncio me seduzia, me envolvia Eu numa agonia tão sufocante Mas nem em face do me pranto ouvi você falar Como foi intenso o meu amor Inversamente proporcional
Ao meu físico raquítico, sifilítico E diretamente proporcional
Ao meu coração Que cheio de aflição
Só viu você passar.

quarta-feira, 16 de agosto de 2017

Apenas mais uma de dor - Cecília Nascimento


Apenas mais uma de dor

Chego em casa exaurida, a sensação que me toma não sei se é de fome ou de aflição; talvez um misto de ambas. Sigo uma das minhas filosofias de vida que diz que “quando comemos, cinquenta por cento dos nossos problemas se resolvem”, quem me conhece já ouviu tal máxima. No entanto, ao afastar o prato e jogar este corpo quase vivo na cama, quase perdido pela bagunça do quarto, da casa, da vida, percebi que não era apenas a barriga que estava cheia (plano alimentar, por que não consigo te seguir?!), mas trazia também o coração e a mente abarrotados de angústias e tão cheios que não deu outra, ou transbordaria no papel ou as lágrimas dariam conta do recado. O recado veio de ambas as formas, pois há sensações que de tão abrangentes pedem reações mais exageradas.
Hoje não quero nada; apenas aquilo que não posso. Hoje não quero nada; nada do que me está à disposição. Hoje não quero nada; nada do que já sinto há anos. Já disse que não quero nada; apenas restar-me aqui nesse quarto meio escuro, nessa cama meio vazia... o que me faz lembrar de uma vida meio satisfatória, exercendo funções meio agradáveis numa rotina meio adequada, com pessoas meio presentes...
E de aos poucos me contentar com pouco, com o copo de água limpa no fim do expediente, com o boa noite frio dos vizinhos cujos nomes eu nem sei, com os olhares desconhecidos que me catalogam a cada rua que passo, eu venho me sentindo tão pouca... tão pouca coisa, tão pouca mulher, tão pouca mãe, tão pouca profissional, tão pouco ser vivo, tão pouco feliz...
A Meireles “aprendeu com a primavera a deixar-se cortar e a voltar sempre inteira”, mas esta Nascimento que vos escreve, apesar de ter renascimento no nome, precisa aprender a florescer em meio à seca da vida severina que nos habitua a nos contentarmos com tão pouco e mesmo que aparente por fora ser cacto e não agrade tanto aos rígidos preceitos de nossa tão exemplar sociedade, traga dentro de si a água que lhe é peculiar, capaz de lhe manter de pé por longas estiagens. Talvez esse cacto aqui dê flor, talvez seja alimento ou mate a sede a algum peregrino que a vida lhe apresente ou já apresentou... Só espero que a exemplo das cecílias, não se permita cortar a tal ponto que a primavera não mais volte a brilhar em seus ramos, em seus olhos, em seu peito...
A tarde avança... ainda estou de barriga cheia, mas a alma já se mostra bem mais leve... Que esse papel leve de mim aquilo que já não me cabia. Estão servidos?

Cecília Nascimento
16/08/17 – 14h33min.
De barriga cheia e coração mais cheio ainda...


terça-feira, 15 de agosto de 2017

Jesus chamou Deus de pai Com linguagem figurada. - Marciano Medeiros


Jesus chamou Deus de pai
Com linguagem figurada.

Marciano Medeiros

Deus não é um ser humano
Perdido na vastidão,
É fonte da criação
Poder máximo e soberano,
Também nunca foi tirano
Essa imagem foi gerada
Por pessoas na jornada,
Bem distantes de El Shaddai:
Jesus chamou Deus de pai
Com linguagem figurada.

Vejo Deus no firmamento
Que seu reflexo clareia;
E num deserto de areia
Embalado pelo vento,
Seu Poder no sofrimento
Faz a dor ser consolada
Conforta na madrugada,
Quem crer nele jamais cai:
Jesus chamou Deus de pai
Com linguagem figurada.

No tempo do barbarismo
O chamaram de guerreiro,
Genocida e carniceiro,
Adepto do terrorismo.
Sempre o nosso infantilismo
Bradando de forma errada,
Essa imagem divulgada
Da teologia sai:
Jesus chamou Deus de pai
Com linguagem figurada.


Deus é a força suprema,
O topo da criação,
Formou nosso coração
Que é bomba da vida extrema.
Traz solução de problema
Muito calmo e sem zoada,
Fez a terra povoada
O nosso eterno Adonai:
Jesus chamou Deus de pai
Com linguagem figurada.

HOMÓGRAFAS HETEROFÔNICAS - Gilberto Cardoso dos Santos


segunda-feira, 14 de agosto de 2017

Deram a chave do mundo aos malucos E o mundo, sem culpa, enlouqueceu - Hélio Crisanto


Na Coréia Kim Jong declara a guerra
Apontando seus misseis para o mundo
E os States rebate num segundo
O tratado de paz ali se encerra.
Falta pouco pra gente ver a guerra
Entre um louco e um doido fariseu
Que amedronta o planeta e resolveu
Fazer medo com seus fuzis caducos;
Deram a chave do mundo aos malucos
E o mundo, sem culpa, enlouqueceu.
(Hélio Crisanto)

sábado, 12 de agosto de 2017

VIAGEM - Francisco Vital


Um dia eu era saudade No outro eu era poesia Mas já fui tragédia Comédia e solidão. Fui ao Japão de caminhão, detesto avião. Fui com o mar a favor, Fui buscar o meu amor Pelos caminhos do vento Que o tempo levou. Mas o vento não esperou, Parece não ter coração, Dei adeus ao Japão, Até outro vento meu amor.

Francisco Vital

domingo, 6 de agosto de 2017

A ALA VIP DO FESTIVAL - Gilberto Cardoso dos Santos



A ALA VIP DO FESTIVAL (Gilberto Cardoso dos Santos)

Construíram um curral vip
Lá em Serra de São Bento
Um bom trabalho de equipe
Que visa o afastamento
Da alta sociedade
Decerto uma novidade
Que trouxe constrangimento.

Visando, sim, o sossego
De quem possui cartão VISA
Ou MASTER, sem muito apego
Que de destaque precisa
A astúcia empresarial
No espaço municipal
Ao status improvisa.

No festival de Inverno
Da bela cidadezinha
Gente de gravata e terno
Que anda dentro da linha
Poderia, sossegada,
Beber bebida importada
Longe de quem nada tinha.

Claro que deve ser chato
Ver um e outro chegando
Pessoas sem fino trato
De você se aproximando
Pra pedir ou pra roubar
Por isso é bom se isolar
Mesmo que caro pagando.

Há quem critique quem fez
Mas há quem ache normal
Neste mundo só têm vez
Os donos do capital.
Ache bom ou ache ruim
Em todo canto é assim
Há divisão social.

Afinal, a insegurança
Leva ao isolamento
Quem muito tem na poupança
Quer melhor atendimento
Um tratamento mais terno
No Festival de Inverno
Lá de Serra de São Bento.

Nada contra ou a favor
Mas muito pelo contrário
Determina-se o valor
Pelo fator monetário
Acontece em todo canto
Não deve causar espanto
A quem só ganha um salário.

Eu se for de fora fico
Porém vou juntar dinheiro
Quero dar uma de rico
Neste lugar prazenteiro
Retirarei da maleta
Uma expressiva gorjeta
Pro garçom hospitaleiro.

(Carta para minha futura filha) - Zack Magiezi


Olívia

Existe maldade nesse mundo
Mas há beleza
E para descobrir essa beleza
Você não precisa ir longe
Apenas pare e contemple
Ofereça flores ao mundo
Dance, abrace e sorria
Também é necessário chorar
Jamais use máscaras
Seja sincera
Com os seus sentimentos
E ganhará a amizade deles
E o respeito da vida
Trace a sua rota
Leia poemas
Coisas materiais
São apenas coisas
Olhe nos olhos
Converse com a natureza
Aprenda com ela
Distribua os tesouros da vida
E será rica
E terá paz

De alguém que te espera
E te ama muito
Seu pai.


https://www.youtube.com/watch?v=yZN5llvFCmk

domingo, 30 de julho de 2017

OH, QUE BOBAGEM, AS ÁRVORES NÃO FALAM... - Naílson Costa


OH, QUE BOBAGEM, AS ÁRVORES NÃO FALAM, SIMPLESMENTE EXALAM O PERFUME DAS ROSAS QUE ROUBAM DE SI!

Aquele árvore frondosa, defronte ao Bar do Baixinho, com o seu jeito elegante e discreto de ser e de ficar ali, na sombra agradável de seu silêncio, tem as rosas mais cheirosas de todas. Ela tentava, sem sucesso, confabular no ouvido de minha atenção sempre que por lá eu aparecia. Nunca lhe dei atenção! Ela nada dizia à mesa redonda de meus amigos na hora de nossos brindes barulhentos. Ela ouvia as confidências ditas, as sentenças condenatórias prolatadas nas páginas infiéis das nossas risadas de bar. Ouvia com discrição as estórias verossímeis, extraídas do universo pobre daquela província. E ela nunca silenciou, para mim, na estrada de minhas lembranças o seu segredo não dito. Aquela árvore do Baixinho queria me dizer algo. Sempre quis. Foi ela que me levou hoje, de volta, à telúrica cidade de meus primeiros passos. E fui a Santa Cruz matar a saudade daqueles tempos de outrora, para ressuscitar as minhas boas lembranças e confabular com aquela árvore, que quisera, há muito, dizer-me algo, mas que eu nunca lhe fui atencioso! E fui, e cheguei e olhei àquela árvore linda, que me recebeu como nunca antes recebido, com as suas seivas, os seus galhos, suas folhas e suas rosas a caírem educadamente por sobre a minha presença. Poxa, quanta honra! Sentei-me à mesa posta debaixo de sua sombra única, pedi a Eduardo Couro de sapo a minha cerveja preferida, abri, apurei os ouvidos, escutei seu cumprimento delicioso, bebi todos os prazeres daquela espera e contemplei a grandeza da estátua de Santa Rita, bem à minha frente. Cadê os amigos Ivonaldo, Zé da Luz, Otacílio, Leonardo, Meireles, Baixinho, Zé Lins, Lambão, Willard, Fernando Rola, Bezerril, Pedro Bala, Valmir, Nícolas, Eurípedes, João Alberto, Gildo... onde foram todos com os seus espantos, suas mímicas, confidências, exageros, suas músicas, suas paixões, suas fomes, suas sedes, seus castelos, ... cadê aquelas mentiras deliciosamente frescas? Cadê as calúnias amistosas de morte, nossas risadas e nossas estórias? Não vieram para regar as raízes daquela árvore feliz. E fiquei a sós, eu, a árvore frondosa , a mesa redonda e a ávida cerveja, sozinhos, a costurar os tecidos da alma inesquecível daquele tempo, quando, de repente, um clarão, com formato de auréola gigante, surge assustador no céu do meio-dia de toda a cidade! E outro e outro clarões! Ventania estúpida a virar a mesa e a irrigar os pés de minha árvore quieta, que agita suas folhas, galhos e rosas pra mim na sufocante tentativa de algo me dizer, mas, mais uma vez, não lhe dou atenção. Barulho ensurdecedor, a minha cerveja chora, a terra se abre e o povo da feira corre sem direção para escapar da gravidade mortal daquele novo momento; a ceiva escorre das feridas expostas na testa de Santa Rita, que implode de seu Alto e sucumbe no desfiladeiro profundo do fogo e da sede da agonia de nossa Santa Cruz. Eu, bem no centro dessa nova estória e à espera de meus amigos de ontem, que nunca virão, olho, atônito, para essa nova velha Rosa de Hiroshima que surge e desenha, por sobre a minha consciência, as trombetas de Kin Jong-Um, os sorrisos esquizofrênicos de Trump, as nuvens atômicas de Vladimir Putin e a bandeira bestial do Brasil, a tremular com a frase “Libertas que sera Temer”. Acordo e vejo, da janela feliz de meu alívio, o dia nascer lindo e promissor, neste domingo, 30 de julho de 2017. Abro o computador e leio as manchetes dos principais jornais internacionais: “Coréia do Norte testa novo míssil intercontinental e EUA, Coréia do Sul e Japão posicionam seus bombardeiros B-1B.” As árvores brotam do chão, crescem e lutam pra ser o verde mais lindo da aquarela de Deus. Quando derramam as suas ceivas, as suas folhas e as suas rosas, sem motivo aparente, por sobre a chegada inesperada de alguém, penso que queira, apenas lembrar da “rosa, da rosa, da rosa de Hiroshima, a rosa hereditária, a rosa radioativa, estúpida e inválida, a rosa com cirrose, a anti-rosa atômica, sem cor, sem perfume, sem rosa, sem nada.” Mas não tenho certeza se é isso que ela quer falar, e este texto é uma grande bobagem, até porque as árvores não falam, simplesmente exalam o perfume das rosam que roubam de ti! (Nailson Costa)




SEXTILHAS DE LOURO BRANCO SOBRE SAPO


Acho bonito o inverno
Quando o rio está de nado
Que o sapo faz oi aqui
Outro oi do outro lado
Parece dois cantadores
Cantando mourão voltado


Acho bonita a enchente
Descendo no ribeirão
E o cururu em cima
Dum garrancho de pinhão
Parecendo um chofer bebo

Dirigindo um caminhão.



sábado, 29 de julho de 2017

ROBINSON FARIA, MAS NÃO FEZ - vários autores



Saúde sucateada
Bastante gente morrendo
Segurança abandonada
Policiais se fudendo
Educação sem valia
Porque Robinson Faria
Mas acabou não fazendo.

Estradas esburacadas
E ninguém faz um remendo
As altas taxas cobradas
Pra quê serve?não entendo!
Deve ser uma micharia
Porque Robinson Faria
Mas acabou não fazendo.

X

 O cidadão vive preso
A violência crescendo
Assassinatos diários
É o que estamos vendo
RN em agonia
Porque Robson Faria
Mas acabou não fazendo


X

Em estrada esburacada
Não faz sequer um remendo
Um ladrão em cada esquina

E nós de medo tremendo
Nesse estado de apatia
Porque Robson faria
Mas acabou não fazendo





quinta-feira, 27 de julho de 2017

LUZIA LUZINDO EM VERSOS


LUZIA LUZINDO EM VERSOS

Luzia Anália é uma educadora caicoense de inegáveis charme e inteligência. Tive o privilégio de conhecê-la e tornar-me seu colega no final de 2015, quando demos início ao mestrado em Literatura e Ensino. Ela sempre deixou claro, nas vezes em que a vimos falando,  ser uma pessoa de grande sensibilidade. Eu insistia para que ela me mostrasse algum texto literário que, com certeza, já teria escrito, mas ela, por timidez, sempre recusou fazer isso. Ontem, porém, ela surpreendeu-me enviando alguns versos para análise. Fiquei muito feliz  e comprovei o que já esperava: qualidade no que ela faz.

ABISMO (De Luzia Anália)

Quem sentir a febre
De um amor sem fim
Venha rápido, 
Corra para mim.

Quem souber andar
Ao sabor do vento,
Conte essas estrelas
Do meu pensamento.

Quem quiser um beijo
Ou um mar de flor,
Corra para o abismo
Deste meu amor.

Mas, não sintam!
Mas, não saibam!
Mas, não queiram!
Fujam!


SOBREVIVO! (De Luzia Anália)

Entre medos e segredos,
Sobrevivo!
Entre sonhos e cuidados,
Esfarrapo-me!
Como num balé de fumaça, 
Despedaço-me!

O fogo queimou o que havia pra queimar
E agora a saudade, em brasas, tripudia do meu pranto, em gargalhadas brutais.

Não sobrevivo mais.
Agora, nem sonhos, nem segredos.


No poema Órion, de Drummond, há um verso que diz: "Luzia na janela do sobradão."
O duplo sentido, quando associado ao título, faz-se evidente. Fico feliz por comprovar que minha amiga, que tanto brilhava na qualidade de aluna e colega, também luze em versos. A Luzia de Drummond limitava-se, talvez, à janela do sobradão, mas está há de sobrar em brilho nas aberturas dos ambientes virtuais. Quem sabe, não venha a espargir raios nas páginas de nossa segunda antologia APOESC em Prosa e Verso!? Assim espero, assim desejo. 

Mostrou-me apenas dois de seus poemas, mas tenho a impressão que há uma botija de versos prestes a ser desenterrada, e eu quero meter a mão nesse tesouro.

-Gilberto Cardoso dos Santos










domingo, 23 de julho de 2017

ALBATROZ - Débora Raquiel



Albatroz eu te invejo libertino,
nesse voo de amor que desenlaças,
meu amor é escravo, não tem asas,
peregrina entre o algoz e a senzala.
Entre beijos...correntes e açoites,
No abraço um chicote a estalar,
Albatroz, me empresta tuas asas,
feito ave vadia vou dançar...
desenhar nesse céu, meu infinito,
enfeitar de poesia meu destino,
Alforria esse amor que é clandestino,
que carrega um abismo em cada mão.
Faz teu pouso, me ampara, alivia...
essa dor que macera o coração.
Ave alada, aniquila o meu degredo,
Se pequei por amar quem não devia,
Eu amei uma lua em segredo,
Sem remorso, sem culpa, foi paixão...
Revogando esse caos, ave ligeira,
Proclamai em voz alta meu perdão,
arrebenta as correntes dessas portas,
Acalmai esse mar que mora em mim,
Meu império será a liberdade,
meu decreto é amar sem ter mais fim.




Débora Raquiel Lopes



sexta-feira, 21 de julho de 2017

Amando... - Sabrina Dorico


Amando...

Observando você, descobri.
Mil motivos pra te desejar
Um deles é o seu respirar
Que azeita minha alma
A minha vida
E o meu caminhar
Aliás, ao longo do tempo.
Eu só quero te amar
Amo mais e mais
Não consigo parar
Então, escuto!
Ouço dizer:
Todas essas perguntas
Levam-me até você
Assim... Como se definisse
O meu ser
Tranquilamente, na paz do seu querer...

Sabrina Dorico

Currais Novos 20/07/2017

sábado, 1 de julho de 2017

PRECE AO DEUS DOS BRASILEIROS - Gilberto Cardoso dos Santos


PRECE AO DEUS DOS BRASILEIROS
(Gilberto Cardoso dos Santos (gcarsantos@gmail.com)


Senhor Deus dos enganados! 
Desperta-nos, Jesus Cristo!
É sonho ou realidade
Tanto horror que temos visto?!
Juízes, feito monarcas
Sugam as riquezas parcas
Da explorada nação
Repulsivas são as ondas
Que nos chegam hediondas
Do mar da corrupção.

Senhor Deus dos desgraçados! 
Dizem que és brasileiro
Temos bancada evangélica
Teu nome está no dinheiro
Com a mão na Bíblia Sagrada
Juram que não farão nada
Contra a Constituição
Mas é tudo hipocrisia
Teu nome lhes propicia
Domínio e ostentação.

Senhor Deus dos castigados
Pelo próprio egoísmo!
Na política demonstramos
Nosso analfabetismo
Tu, que te indignaste
E do templo expulsaste
Mercenários, vendilhões
Varre nossa consciência
Dá-nos luz e mais prudência
Em tempo de eleições!

Senhor dos desenganados
Milhões de vezes traídos!
Com paciência de Jó
Temos sido oprimidos
Em um beco sem saída
A nação desfalecida
Não enfrenta o opressor.
Põe de pé os derrubados
Que acham que estão deitados
Em berço de esplendor!