UM LUGAR QUE NÃO EXI$TE - Mais que uma resenha, uma recomendação
Assim também vós, depois de haverdes feito quanto vos foi ordenado, dizei: Somos servos inúteis, porque fizemos apenas o que devíamos fazer.” (Lc 17:10).
"Um lugar que não exi$te" - frase irônica apropriada, aplicada a uma realidade tão nossa - foi o título escolhido para o filme de Hailton Mangabeira, cordelista, contista (detentor de múltiplos talentos, em suma); para uma película que retrata de forma pitoresca (e ao mesmo tempo tão realista!) o que ocorre nos pleitos eleitorais do Brasil, mas principalmente do Nordeste. Não trata propriamente de política, mas da politicalha nacional, sem eximir o povo de sua parcela de culpa.
Recomendo-o, não propriamente por boas atuações ou por se tratar duma história bem costurada e com bom clímax; atores amadores e populares contracenam sem muita preocupação de que tudo não passa duma grande brincadeira, representativa de uma realidade tão danosa à sociedade. Recomendo-a, não por se tratar propriamente duma ótima comédia, mas pela clara intenção do autor em nos trazer uma lição de cidadania. Os que ainda forem assisti-la, relevem quaisquer aspectos negativos. Degustem-no como quem come peixe, sem esmorecer diante das espinhas. A boa vontade do Hailton e do Lula fazem-se bem evidentes. Foi algo feito com muito amor; e o amor, diz a Bíblia, cobre uma multidão de pecados.
Hailton é, antes de qualquer coisa, um educador nato e em todas suas produções culturais, percebendo-o ou não, nos dá aulas. Ao mostrar com bom humor a realidade, aponta-nos o que poderíamos vir a ser, caso mudássemos de mentalidade. Nas entrelinhas, o autor apela à sensatez humana, dá um voto de confiança à capacidade cognitiva das potenciais plateias. Diz-nos: "Ei, erga a cabeça. Pare de olhar para o seu próprio umbigo. Veja o que sua indiferença, inocência e/ou egoísmo têm feito."
À semelhança de um bom anfitrião, Hailton e sua equipe deram o melhor de si para nos trazer tão importante recado. Nesta produção, obviamente distante de qualquer coisa que pudéssemos chamar de hollywoodiana, Lula Borges (que também é educador) fez bem mais com menos e teve êxito em atingir os alvos pretendidos, com muita graça e, talvez, quase de graça. Não se trata de arte pela arte, mas duma produção artística engajada. Um longa engajado, mas sem teor panfletário.
Já que feito por dois educadores, vejamos tal trabalho como um projeto interdisciplinar que visa ir além da comunidade escolar. Algo grandioso e nobre em suas pretensões.
Já que feito por dois educadores, vejamos tal trabalho como um projeto interdisciplinar que visa ir além da comunidade escolar. Algo grandioso e nobre em suas pretensões.
Tenho certeza que, à semelhança do que ocorreu com o eu poético de Drummond, havia uma pedra no meio do caminho desse poeta e do produtor - uma não, diversas - mas eles passarinharam sobre os obstáculos humanos e desumanos dos descrentes, indiferentes e opositores.
A trilha sonora é impecável.
Trata-se de uma mensagem contundente, digna de toda nossa atenção!
Valeu pelos esforços e por se tratar de uma obra concebida para circular nos trilhos da ética.
À semelhança dos serviçais bíblicos citados no início deste texto, Hailton e Lula Borges se voluntariaram para nos servir. Após o serviço, tímida e humildemente aguardam nosso feedback. Mudamente nos dizem: "fizemos apenas o que devíamos fazer".
Quanto a mim, expectador satisfeito, o mínimo que posso fazer é lhes dizer com sinceridade: Vocês fizeram, sim, o melhor que podiam. Se faltou algo, deveria ser imputado à negligência dos que poderiam ajudá-los mas não o fizeram. De modo algum vocês foram inúteis em seus esforços. Neste filme vocês optaram por promover nossa cultura (nos outros também) e por nos alfabetizar politicamente. Parabéns por tentarem nos conscientizar de maneira lúdica e por disponibilizarem gratuitamente o penoso fruto de vosso trabalho no Youtube.
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