Nós, da APOESC (Associação de Poetas e Escritores de Santa Cruz) comunicamos o falecimento do senhor Letácio Pereira, conhecido poeta da cidade.
Nasceu em Santa Cruz, à rua Dr. Elói de Souza, aos 25 de dezembro de 1935. teve como primeiros educadores: Dona Santinha Marques, Dona Elisete Pessoa, Nenen Galdino e Terezinha Cury. Ingressou no curso de admissão do Grupo Escolar Quintino Bocayuva em 1940, recebendo o seu diploma em 1945; cursou no Ginásio Comercial todo o 2º grau e em seguida foi trabalhar com seu pai, o então tabelião João Ataíde Pereira, sendo nomeado em 1957, ajudante de Cartório. Por vários motivos óbvios, permaneceu no atual cartório, vindo aposentar-se pelo mesmo ofício na década de 80.
Letácio foi membro da ASPE e participou de várias antologias, dentre elas Santa Prosa em Cruz e Verso, em 2004. Também teve poemas seus publicados em jornais da cidade.
Nas palavras do poeta e historiador Edgar Santos "A cultura literária perde um excelente e lírico poeta."
Apesar da pouca saúde, era uma pessoa carismática, dotada de inegável inteligência e de coração generoso.
Nosso sincero pesar à família do poeta.
O POETA E O MAR (Autor: Letácio Pereira)
Certo dia eu à beira do velho mar
Contei minhas dores a quem sofria
Entre grande barulho a rugir a vagar
Atentamente me olhava e me ouvia
Contei meus amores, que tinha a amar
E muito sério a continuar mui rugia
Contrariando o tempo e sem parar
Sem amor e sem ninguém ali gemia
Conversando ali aquele dos seus amores
Confessou-me que os não possuíam
Que apenas amava as belas flores...
Fui saindo de sua orla pensativo
Pois o poeta e o mar não tinham
Somente do grande Deus ser cativo!
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EVANGELHO DAS SELVAS
Carlos, após sua rápida refeição bem cedinho um pouco de leite, um napo de pão, era apenas isso; Cinco e meia da manhã e o poeta Carlos apanhava um caderninho e também um lápis, costumava levá-los consigo, e ainda um livro como hábito seu.
Caminhando pelas calçadas, rumava em direção ao poente, muito embora o sol estivesse no nascente; daí em diante aquele poeta, de costumes rudes, que poderíamos até chamá-lo poetaço, dobrava à primeira esquina, rumava e dobrava a esquina seguinte, redobrando simultaneamente mais uma. Aproximava-se do Arrabalde da cidade e daí o perímetro urbano (início do matagal) avizinhando-se do matagal, daí adentrava a selva, e abandonava à zona urbana.
Porém Carlos, nosso personagem, tornava-se “anfitrião” do “Campinas”, pássaro que o maravilhava o qual sempre àquela hora cantarolava em meio a grande árvore; Quando ele o escutava em repetidas melodias por três vezes seguidas, saciava o seu desejo matutino e, daí caminhando novamente à selva. Chegando mais ou menos três quilômetros mata adentro, parava – E logo puxando o seu lápis e seu caderninho e também seu livro inexplicável, encostava-se em uma das variadas árvores, - como fazia antes ao seu “Campinas”. E por várias horas estando a meditar, movia-se com gestos ensaiados – como a reclamar a falta de alguém.
Balbuciando, talvez alguns versos de sua autoria ou improvisos. Após esses monótonos gestos e palavras imperceptíveis, isso, ininterruptamente. Dir-se-ia que nosso personagem fazia juras e perjuras a alguém mui amada, que perdera no caminho da existência... Carlos, encostado na árvore de sua preferência, meditava mais uma vez um quarto de hora; Daí ansioso inicia o retorno a cidade; volta pensativo por não ter de muitas, mais uma vez, sequer, visualizada em sua personalidade, sua amada.
Nosso Carlos, retorna em passos cadentes pela mesma trilha, que sempre o leva todas as manhãs. Quando aproxima-se da cidade, o barulho toma todo seu interior – e o “Evangelho das Selvas” deixa de possuí-lo na mente e na alma. Carlos, chega novamente ao casarão e daí em diante o “Evangelho das Selvas”, o que o traz e o leva nas ruas da cidade.
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