Nossa existência é marcada por experiências agradáveis que gostaríamos que fossem eternas.Mas nos vêm as amargas que influenciam e alteram nossos medos. Os inocentes não acumularam medos, por isso se deixam ficar nos braços dos outros. Evitamos braços e abraços desconhecidos depois da experiência das dores.
Somos lapidados pelos sentimentos de perdas e ganhos. O ganho nos dá a sensação de poder, a perda nos ensina a saber escolher. Somos guiados pelo poder de ter para dominar. Nunca almejamos algo para dividir.
A relação afetiva também segue o mesmo padrão. Sempre queremos algo com exclusividade. Com apego e egoísmo. É característica do animal. Demarcação de territórios. Nem aceitamos de bom grado quando o objeto de conquista já mantém uma convivência de união. Foge da nossa capacidade de aceitar tal fato.
Sofremos a angústia de querer mais e sempre ter menos. Nunca sofremos quando queremos pouco e nos é dado muito. O pior é não ter consciência desse jogo dos sentimentos. Eles alimentam as ideias e seguimos achando que foram produzidas por nós. Nem nos damos contas que há algo mais forte direcionando nossos quereres.
O próprio animal que está escondido nas etiquetas civilizatórias que, assimilados durante a convivência social, nos dita as regras.
Vamos caminhando na estrada da vida acreditando em nossas decisões. Mesmo sendo longe da lógica, decidimos pelo mais agradável. Pelo bem-estar imediato. A batata é substituída pelo milk shake. A esposa, pela amiga íntima. O diferente e perigoso traz um brinde de adrenalina. Droga natural que move as ações humanas. Que faz homens e mulheres se arriscarem para vivenciar suas fantasias. Sem isso permaneceríamos, ainda hoje, olhando as sombras refletidas na parede da caverna de Platão.
Heraldo Lins
Natal/RN, 14.05.2019
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