Era 13 de dezembro de 1968, dia de Santa Luzia. Algo
em torno de 11 horas da manhã quando eu e Padre Raimundo – nunca me acostumei a
chama-lo de Monsenhor -, voltávamos do Instituto Cônego Monte em direção a Casa
Paroquial pela Rua Cosme Ferreira Marques. Falávamos de coisas do dia-a-dia do
Instituto e da Paróquia. De repente, no rádio da casa de um tio do professor
Ribeiro, dono de um posto de gasolina antes na Praça Ezequiel, soou a voz de
Gumercindo Amorim anunciando uma edição extraordinária.
Gumercindo, que eu conhecia bem por ter sido meu
professor de matemática moderna no Ginásio Agrícola de Currais Novos, era um
inovador com seus gizes coloridos nos ensinando o que, na época, se chamava
matemática moderna. Mas vamos ao que interessa. Gumercindo anunciava que o
governo do general Costa e Silva baixava a Ato Institucional nº 5 (AI-5) que,
entre outras medidas, tolhia ainda mais os direitos de cidadãos e políticos
conforme a redação do ministro da Justiça Luiz Antonio da Gama e Silva.
Ficamos estarrecidos mesmo sabendo que havia um
clima tenso naquele ano do “É proibido proibir” depois que o deputado federal
Márcio Moreira Alves, do MDB, na Câmara, nos dias 2 e 3 de setembro, lançou um
apelo para que o povo não participasse dos desfiles militares do 7 de Setembro
e para que as moças, "ardentes de liberdade", se recusassem a sair
com oficiais. Na mesma ocasião outro deputado do MDB, Hermano Alves, escreveu
uma série de artigos no Correio da Manhã considerados provocações.
Lembro da frase de padre Raimundo tão logo terminada
a leitura da notícia; “agora fechou-se o belém”. Ele gostava de dizer isto
quando tudo parecia ser uma discrepância sem limite. E valia a preocupação
dele. A igreja, que já vinha implementando a Teoria da Libertação, e quem conheceu
Padre Raimundo naqueles tempos sabe bem do que estou falando, começava a
combater o regime de exceção e buscar a liberdade dos oprimidos.
Dois dias antes, portanto 11 de dezembro, um
norte-rio-grandense nos dava o alerta do quão grave estava a crise no Congresso
Nacional. Naquele dia em uma das situações mais crítica para o Congresso
Nacional, a Câmara dos Deputados discutia o pedido de licença, formulado pelos
generais na ditadura de então, para processar o deputado Márcio Moreira Alves,
por conta de um discurso considerado ofensivo às forças armadas.
A votação foi precedida de um discurso do deputado
norte-riograndense, Djalma Marinho, jurista de renome e presidente, há anos, da
Comissão de Constituição e Justiça. Egresso da UDN, partido que respaldou o
Golpe Militar de 1º. de abril de 1964, integrava a ARENA, o partido dos
generais.
Em seu discurso, Djalma ressaltou os seus vínculos
com o regime dominante, falou dos riscos que recaiam sobre ele, pessoalmente,
bem como sobre o Congresso Nacional. Destacou, no entanto, que a sua formação
jurídica e democrática o impedia de aceitar o pedido dos militares ao concluir com
a frase do teatrólogo espanhol, Calderon de La Barca “Ao rei tudo, menos a
honra”. O Congresso negou a licença pedida pelos generais. O gesto foi o
pretexto para a adoção do Ato Institucional No. 5, de famigerada lembrança na
história do Brasil. O Congresso foi fechado. Resultado: Djalma, que não tinha
recursos, precisou procurar trabalho como advogado, profissão que não exercia
há décadas. Sobreviveu com sua família. Não maculou a sua história e continuou
um homem honrado.
Você, que é santa-cruzense, pode até estar se
perguntando o tudo isto tem a ver conosco? Pode parecer que nada, mas era mote
de nossas discussões na Casa das Irmãs de Notre Dame de Paris, na Casa
Paroquial ou no Instituto Cônego Monte.
O poeta tem o fio da idéia, mente pensante
ResponderExcluirmãos que escrevem no enredo que traça
condutas e reações, dramas e comédias
vidas e amores, dores e fulgores
O poeta tem inspiração, olhar furtivo
palavras sussurradas, um amor, um desamor
um é frio, outro é calor
às vezes rica rima, outras sem metrificar
Tem sempre o toque mágico
É poema... É poeta
a rosa chora, o vento geme
a chuva escorre na janela
A flor que brota, a palavra brota
o sorriso brota,
na mão do poeta tudo brota!
Risos e alegrias, e viva a criação
Ele faz luz, apaga as trevas
Planta o infinito
canta o amor
vibra as cordas da viola
canta o amor e canta a trova
e a dor que não consola
sempre tem os seus amores
chora a agonia a separação
o inevitável o condenável
chora o amor que foi perdido
o afeto inalcançável
sofre pelo ter e o não ter
sofre o esquecer e o perder
e certamente com tudo e por tudo isto
aprendeu a viver, amar e sofrer
Porque cria e desafia
até a dor de todo dia
sem forma ou fórmula
sem momento, é apenas um instrumento
"do amor...., sublime amor"