É visível o
quanto a ciência estatística tem se avolumado em importância. Não apenas às
necessidades do Estado, como nos primórdios de sua aplicação, o universo dos
negócios privados e inúmeras outras ciências cada vez mais se utilizam dela
como fonte importante de subsídios. Impossível imaginar sobre o que afinal não
se pesquisa hoje em dia, isto posto no sentido de se coletar, analisar e
interpretar dados.
No geral,
espera-se que os resultados coletados juntos à população estatística demonstrem
de forma mais fiel possível uma determinada situação física ou social. Entretanto,
o uso que se faz desses números é que se torna o xis do problema ou da
aceitação da situação estatisticamente apresentada. Ou seja, na maioria das vezes
os números são usados pelos agentes políticos e pelos governos para justificar suas
ações, manipular a opinião pública, para desencadear guerras e até para
promover massacres genocidas. Nessas hipóteses reais, desmistifica-se a
expressão de que “os números não mentem”.
Em nosso país,
cabe ao IBGE, fundação pública federal, à “produção, análise, pesquisa e
disseminação de informações de natureza estatística” (demográfica,
sócio-econômica e geocientífica). A SIS
- Síntese
de Indicadores Sociais (Uma análise das condições de vida da população brasileira)
se traduz numa de
suas publicações
mais importantes, sendo a última edição relativa ao ano de 2012.
Desde 2011 nos tornamos a sexta maior economia do
mundo, ficando atrás apenas dos Estados
Unidos, China, Japão,
Alemanha e França. Por outro lado, a nossa sociedade continua
convivendo com todas as desigualdades sociais possíveis (de renda, de oportunidades,
de acesso aos serviços públicos de educação, saúde, segurança, habitação,
saneamento, justiça, etc.,).
Segundo o IBGE, “houve crescimento econômico e
redução das desigualdades, com políticas de transferência de renda e
valorização real do salário mínimo”, e “os resultados para o Coeficiente de
Gini¹ mostram diminuição consistente
da desigualdade nos últimos anos, passando de 0,559, em 2004, para 0,508 em
2011”. No ano de 1990 este Coeficiente foi de 0,602.
Sabemos que todos esses resultados “qualitativos”
serão amplamente comemorados e explorados eleitoralmente dentro em breve. O
discurso do oba-oba vai imperar, interpretações tendenciosas dos números virão
e parte considerável da imprensa se engajará nessa onda do “milagre social”
brasileiro.
Não desejo apresentar uma visão negativista dessa
nova realidade econômica e social, nem muito menos ignorar as evoluções
positivas dos dados estatísticos. Todavia, percebamos o quão estupendo,
excludente e profundo é o fosso social brasileiro ao nos compararmos com outros
países. Vejamos o quanto na realidade precisamos de políticas públicas
estruturantes no plano nacional e local. Ações de governos serão indispensáveis
no sentido de se garantir o acesso à educação de qualidade a partir das
crianças e visando que os mais necessitados não continuem “sobrevivendo” como
dependentes de bolsas e demais programas sociais emergenciais. A guisa de
exemplo, na tabela abaixo estão às cincos maiores economias mundiais, a Noruega
como 1º lugar no IDH²/2011 e países
da América do Sul em melhor classificação que o Brasil. A pura leitura dos
dados nos leva a refletir preocupadamente sobre a nossa realidade social. Muitos
são os componentes sociais analisados no IDH, mas deixo como destaques apenas
saúde e educação por serem elementos basilares do desenvolvimento de qualquer
nação.
Em, 3 de agosto de 2013.
Notas
¹ - O Coeficiente de Gini é uma medida de desigualdade
desenvolvida pelo estatístico italiano Corrado Gini. Uma sociedade com total igualdade teria coeficiente de Gini igual a 0
(zero), enquanto o coeficiente igual a 1 (um) representaria a total
desigualdade (quanto menor é o número, menos desigual é um país). Para
ilustração, o Relatório de Desenvolvimento Humano 2011, divulgado pelo Programa
de Desenvolvimento das Nações Unidas-PNUD (United Nations Development Programme
-UNDP) traz, como últimos coeficientes disponíveis, 0,586 para Angola e 0,250 para a Suécia (HUMAN..., 2011). Fonte:
SIS/IBGE/2011 (p. 162). Ou seja, o Brasil está mais para baixo do que para cima
neste índice de desigualdade.
² - O IDH (Índice de Desenvolvimento Humano)
mede as realizações em três dimensões básicas do desenvolvimento humano: uma
vida longa e saudável, o conhecimento e um padrão de vida digno.
Disponível em: http://hdr.undp.org/en/reports/global/hdr2011/download/pt/.
³ - Esperança de
vida à nascença: Número de anos que
uma criança recém-nascida poderia esperar viver se os padrões prevalecentes das
taxas de mortalidade por idades a data do nascimento permanecessem iguais ao
longo da sua vida.
4 - Esperança de vida ajustada à saúde: Número médio de anos que uma pessoa pode esperar
viver, gozando de “plena saúde”, tendo em consideração os anos vividos em
estado de menos saúde devido a doenças e lesões.
5 - Anos de
escolaridade esperados: Numero de anos
de escolaridade que uma criança em idade de entrada na escola pode esperar
receber, se os padrões prevalecentes das taxas de matricula por idades persistirem
ao longo da sua vida.
6 – O Brasil,
no Relatório de Desenvolvimento Humano, dentre todos os países pesquisados, encontra-se
situado na faixa dos países com Desenvolvimento Humano Elevado (esta faixa
apresenta o intervalo de classificações entre 48 e 94). A faixa dos países com
Desenvolvimento Humano Muito Elevado termina na posição 47. A faixa dos países
com Desenvolvimento Humano Médio começa na classificação 95 e termina na
classificação 141. A faixa dos países com Desenvolvimento Humano Baixo se encerra
com a classificação 187.
7 - A China,
com o seu mega “império comunista-capitalista”, apesar de ser a quinta economia
mundial, está abaixo do Brasil na classificação do IDH.
Para reflexão
Na
divulgação do IDHM/2010 dos municípios brasileiros, feita pelo PNUD no recente
29 de julho, o município de Santa Cruz (RN) tem o IDHM 0,635 e se encontra na
classificação de número 3393 (num total de 5565 municípios). Os seus
coeficientes foram: longevidade igual a 0,761 (Alto Desenvolvimento Humano), renda
igual a 0,597 e educação igual a 0,564 (ambas na faixa de Baixo Desenvolvimento
Humano). No geral, o município está classificado como Médio Desenvolvimento
Humano e a renda per capita mensal divulgada foi a de R$ 327,61.
Para que um país melhore o seu IDH, é preciso fechar a torneira da corrupção. Não adianta aumento de recurso, sem costurar o fundo do saco. Saco furado, não enche, nem fica em pé.
ResponderExcluirPolitica pública existe, vamos praticar a democracia, na esperança que no milênio do descobrimento, chegaremos ao patamar da Noruega.
Jadson Umbelino