Foi de Rita Medeiros o questionamento que vi no facebook e que motivou este
texto: IPI reduzido e o preço das bicicletas nas alturas: carro polui,
bicicleta não... Pode? Isto me lembrou do tempo quando a ela se somavam João Edilson,
Isa, Chico Palmeira, Laércio, Gilberto Cardoso, Fátima Pereira e Chagas, em
discussões interessantes, polêmicas e por isso ainda hoje presos à minha
formação acadêmica e até espiritual, acrescidos aqui do amigo e irmão em Cristo, in-memorian, Zé Tavares. O questionamento procede e
mexe com nossa hipocrisia no que se refere à preocupação com o planeta, com o
meio ambiente, porque fica evidente que não há convergência entre economia,
educação e nossos discursos ecológicos, já que nossa real preocupação nem chega a ser mesmo com um
planeta capaz de se recompor por si só e sim com a deflagrada ameaça à nossa vontade egoísta de
existir e de permanecer por aqui.
A preocupação não chega a ser ambiental e sim econômica. Vejo carros nas
ruas lotadas de cidades que só podem agora crescer para cima e na lentidão do
trânsito, em cada carro, quase sempre a pressa somente de um passageiro só. Nas
paradas dos transportes coletivos, gente disputando espaço na esperança de um
dia poder infernizar o trânsito ainda mais. Nas lojas, a sedução pelo crédito
de dívida longa para a realização de um sonho ou uma dor de cabeça e no governo
a estratégia de segurar a economia reduzindo juros para assim aquecer o mercado
pelo consumo. É certo que para a economia funciona, mas só em curto prazo, pois
são paliativos e com efeito colateral. Tudo isso tem a nossa corroboração,
depois de nossa legislação exigir cinco preciosos meses de cada trabalhador
somente para pagamento de impostos e sem o devido retorno que se espera.
E a exemplo de Rita eu também fiquei decepcionado ao consultar o preço
de uma bicicleta. Essa era ergométrica e , ao contrário da dela, sem paisagem
nem brisa e, claro, para nem ser um meio de transporte, mas bem consoante ao
nosso sacrifício por uma proposta de vida saudável. O preço também nas nuvens e
foi então que decidi botar o pé no chão em meu salão de dez metros de comprimento
para uma hora por dia de caminhada em círculo, seguindo em minha bicicleta
quebrada, que parada me acrescentam vinte minutos de improviso em pedaladas por
sessão e minhas duas garrafas de pet de meio litro, com cimento petrificado para
vinte minutos de exercício de musculação diária, alternando com algo em torno
de duzentas flexões entre cada modalidade.
Minhas primeiras lições e impressões desconfiadas dessa nossa economia
foram anos atrás, durante a compra de uma geladeira. A minha havia quebrado e,
sem querer ofender, percebi o vendedor desconsertado quando lancei o desafio de
um negócio à vista. Ele balbuciou que o proprietário da loja preferia vender a
prazo e saí dali com a péssima sensação de que havia ofendido alguém. O vídeo
cassete que adquiri ofereceu doze funções no valor da venda, das quais nunca
fiz uso de muitas delas, pois do que precisei enquanto não lhe faltou conserto,
foi somente que retrocedesse, adiantasse, reproduzisse e que me gravasse alguns
programas com datas e horas programadas. Achei engraçado quando fiquei sabendo
que carro e moto não mais somente no meu mundo tinham ano e modelo, mas também
guarda-roupa. Isso mesmo: guarda-roupa com ano e modelo, quando ainda nem se
discutia se era justo ter hífen. A descoberta foi por ocasião de uma busca que fiz
e achei tudo tão bem humorado que até perguntei ao vendedor se isso faria
alguma diferença para as minhas roupas. Anos depois adquiri uma mesa com seis
cadeiras e aprendi que esse tipo de produto tem prazo de validade, pois o
montador foi quem disse que seria em torno de dez anos e passados algo próximo
de oito, vi o cupim frequentando a minha casa. E dessa época ainda, na praia,
discutindo com o vendedor de cocos, ele me esquadrinhou da cabeça aos pés e
escolheu o meu preço: para os gringos é “três real”, “mais” para os pobres é
setenta centavos. E sem qualquer rogativa de minha parte à sua justiça, comprei
dois cocos e paguei exatos um real e quarenta centavos por isso.
Evidentemente não temos que ser nenhum expert no assunto, mas necessitamos
também dele em nossa lista favorita de marketing para nossa reflexão e em
cadeia nos protegermos dos ataques à luz do dia e também à noite, pois essa novela
nos chega até em mensagem subliminar, adentrando nossos lares, anestesiando
nossas mentes para as ofertas tentadoras de um mundo utópico, em horário de
nobreza, patrocinado por nossa ingenuidade, já que nossa fragilidade preenche e
endeusa toda nossa poltrona, extensiva ao nosso travesseiro, numa corrida de
pobres mortais por sonhos mecânicos que nunca chegam ou que nunca cansam.
Maciel.
Qual o preço de um texto desses? Impagável. Afinal, nele fui citado. rsrsrs
ResponderExcluirParabéns, Maciel.
Gilberto Cardoso dos Santos
Maciel,
ResponderExcluirTexto magnífico! Também não entendo a contradição gritante entre consumo supérfluo e preservação ambiental. O sonho de ter um carro (para citar apenas um dos itens mais desejados) “entulhará” nosso mundo de tal forma que teremos inveja das ruas vagas de algumas décadas atrás.
Parabéns!!!
eita texto grande danado. mas li. por isso,gosto de minha bicicletinha para pedalar. mas moro no interior cara. se eu morasse numa cidade grande,eu me esforçaria para comprar um carrinho,pois facilita tanto a nossa vida na capital. digo isso pq tenho parentes em natal e sei o qt é difícil resolver as coisas do dia a dia. parabéns maciel...vc escreve bem pra caramba!
ResponderExcluirExcelente texto! Parabéns,Maciel!
ResponderExcluirAinda quero ver esses textos reunidos em um livro, mas um belo texto Maciel.
ResponderExcluirÉ uma honra ver meus textos passar pelas mãos de pessoas como vocês: preciso muito deste espaço. Obrigado pelo incentivo!
ResponderExcluirAmigo Maciel vc escreve belamente. Mas diminua os textos.
ResponderExcluirPaulo Afonso
gosto bastante dos textos desse escritor
ResponderExcluirana luisa