quarta-feira, 3 de setembro de 2025

A LUÍS FERNANDO VERÍSSIMO, MINHA GRATIDÃO (Gilberto Cardoso dos Santos)

 


 

A LUÍS FERNANDO VERÍSSIMO, MINHA GRATIDÃO

(Gilberto Cardoso dos Santos)

 

Vocês não fazem ideia do quanto Luís Fernando Veríssimo foi importante em minha formação e carreira.

Não corri muito, é verdade, não fui muito longe, mas se dei algum passo  gigante para mim, teve muito a ver com Luís Fernando Veríssimo.

Acertadíssima foi a decisão da Editora Ática quando, na década de 70, lançou a coleção “Crônicas para gostar de ler”, livros que invariavelmente traziam textos dele. Foi através dessa coleção que entrei em contato com sua escrita, e foi encanto à primeira vista.

Para gostar de ler, nada melhor que seus textos curtos, concisos e bem-humorados. Não à toa, ele se destacava entre os escritores que compunham as coletâneas.

Durante o curso de Letras e de Especialização, vez por outra um professor trazia algo dele para nossa análise e a aula se tornava excelente. Nas apresentações em grupo do Mestrado, lembro-me de uma colega que trabalhou a crônica “Aquilo”, e o texto virou mote para diversas piadas internas durante o restante do curso.

Mas foi através do filólogo Celso Pedro Luft, em seu livro “Língua e Liberdade” que descobri ser Luís Fernando Veríssimo bem mais que um semeador de riso. Trata-se de um ensaio em que Luft toma como base a crônica “O gigolô das palavras” e a disseca com o respeito de um pregador que faz exegese de um capítulo bíblico. Nesse texto, excepcionalmente, sem pretensão primária de fazer o leitor rir, Veríssimo fala de si mesmo e relata um episódio envolvendo alunos que foram entrevistá-lo a respeito da importância da aprendizagem de regras gramaticais. Nada é supérfluo neste relato e cada linha merece reflexão. O ensaio, do começo ao fim, parafraseia e tenta explicar e ratificar o que disse o cronista.

Não foi pequena a surpresa ver Luft, um autor de gramáticas, dando aval a um texto que, aparentemente, minimiza a importância do ensino tradicional. Mas ele não se limita a ridicularizar estratégias ineficazes. Aponta caminhos. Esta crônica, recomendada e analisada por Luft, deu-me um norte quanto às práticas de ensino.

Não apenas isso: diante de alunos com pouco ou nenhum interesse pela leitura, vez por outra recorria a Veríssimo. Sempre obtive êxito em captar a atenção ao trazer textos dele. A crônica “O lixo”, por exemplo. Fazia apostilas com ela e outras. Por se tratar de um texto dialogado, eu dava oportunidade para que alunos assumissem as vozes e apresentassem a conversa para o restante da turma. Os mais tímidos criavam coragem e também queriam participar. O texto era lido à exaustão e seria repetido em aulas subsequentes, se dependesse deles.

Ao optar por livros didáticos, deparar-me com textos dele era um importante fator, pois sabia do impacto que teriam eles na aprendizagem.

Em busca de fruição literária, sempre que recorri a esse autor, não me decepcionei. Li muita coisa dele, inclusive alguns romances. Em praticamente tudo que li, no mínimo dei boas risadas e me surpreendi com a criatividade.

Por todas estas razões, encerro reiterando o que laconicamente expressei no título: Obrigado, LFV! Você disse que morreria sem poder realizar seu sonho de não morrer nunca. No entanto, continuará a viver no coração de seus milhões de leitores, na memória daqueles em quem despertou o gosto pela leitura. Grato sou por sua contribuição para que me tornasse escritor. Minha gratidão por ter me permitido ver o mundo sob sua ótica e por retratar a vida com tanta leveza e profundidade. D.E.P!


Gilberto Cardoso dos Santos

Contatos do autor: Fone 84 999017248;  Gmail, Instagram e Facebook: gcarsantos


Livros de Gilberto Cardoso

15 comentários:

  1. Que texto maravilhoso, meu amigo! LFV era tudo isso que vc falou e muito mais! Ele, como vc, são necessários na introdução de novos leitores e escritores nesse mundo maravilhoso que é o gosto pela leitura! Parabéns! (Nailson Costa)

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  2. Dileto Nailson, lembro-me que naquela rica entrevista que você me concedeu, lhe perguntei sobre a importância do ensino das regras gramaticais no aprendizado da língua. Sua brilhante resposta estava em consonância com o que pensava LFV. (Gilberto Cardoso)

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  3. Caro amigo Gil, como vc, aprendi muito com LFV!

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    1. Valeu, Naílson, mas saiba que estou de olho no adjunto adverbial. rsrsrs - Gilberto Cardoso

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  4. Parabéns pela grande homenagem ao verdadeiro escritor Luiz Fernando Verissimo, que cai também um sobrenome que cai bem. É mais do que verdadeiro.
    Joao João Maria de Medeiro

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    1. Verdade, João. Bem pertinente sua observação a respeito do sobrenome dele.

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  5. Parabéns Gilberto! Homenagem merecida daquele que vai deixar saudades pelos seus escritos na nossa literatura brasileira.

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  6. Sempre admirei Luiz Fernando Veríssimo. Seu humor — irônico, leve, certeiro que liberta e
    salva. Entre tantos livros, guardo um carinho especial por "O Analista de Bagé" que readquiri naquele dia que nos encontramos em um sebo da cidade.
    Uma vez, encontrei-o num aeroporto, ao lado de Zuenir Ventura. Pedi autógrafo, tirei fotografia e fiquei reparando em seu jeito. Havia nele uma calma tímida e silenciosa. Limitava-se a acenar com a cabeça, sem dizer nada. Parecia ser daqueles que soltam a piada e permanecem sérios, deixando a graça ecoar sozinha.
    Anos depois, revi-o na Ribeira, em Natal/ RN, durante um evento literário. Nessa ocasião, Zeca Baleiro fazia um show e Veríssimo assistia tranquilo, sereno, apenas balançando os pés no compasso da música, como quem sabe degustar a vida em silêncio.
    Por influência sua, #Gilberto, comprei "Língua e Liberdade", de Celso Pedro Luft. E esse livro ampliou ainda mais meu fascínio pela palavra. Quando partiu, o mundo ficou menor. Mas sua obra — vasta, lúcida e necessária — continua entre nós, arrancando sorrisos e nos lembrando que a vida também pode ser escrita com humor.




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    1. Excelente relato, amiga Luzia. Vc é uma bem-aventurada, pois teve estas oportunidades. Aplausos. - Gilberto Cardoso

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  7. Parabéns! Grande homenagem ao nosso escritor brasileiro. - Demócrito Júnior

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  8. O CORPO VAI, MAS A MENTE FICA


    1.
    Luís Fernando Veríssimo
    Para mim, foi importante
    Antes, passos miudos
    Transformados em gigante
    Enquanto eu me formava
    Minha mente, ele guiava
    Desde o tempo de estudante

    2.
    Vejam que ideia brilhante
    Lançaram a coleção
    Crônicas para gostar de ler
    Li toda, sem exaustão
    Ática foi a editora
    Até minha professora
    Leu com muita atenção

    3.
    Batia meu coração
    Quando eu via seu texto lá
    Encanto à primeira vista
    Sem nunca pestanejar
    Sua escrita com humor
    Despertou-me grande amor
    Pra querer sempre estudar

    4.
    Eu lia para gostar
    Daqueles textos concisos
    Principais na coletânea
    Produzindo nossos risos
    Frases bem construídas
    Curtas, mas inseridas
    Com verbos muito precisos

    5.
    Os livros que foram lidos
    No curso de letras, fiz
    Especialização e mestrado
    O que me deixou mais feliz
    Foi crônica de nome “aquilo”
    Virou mote com estilo
    Pra piadas de aprendiz




    6.
    Atuou como juiz
    No “Língua e liberdade”
    Celso Luft em seu livro
    Nos mostrou com claridade
    Que Veríssimo foi além
    Semeando riso também
    Em gramática, autoridade.

    7.
    Eu dava oportunidade
    Ao aluno sem coragem
    Para que ele assumisse
    A voz de um personagem
    Trabalhando a crônica “O lixo”
    Repetida com capricho
    Aperfeiçoando a linguagem

    8.
    Impacto na aprendizagem
    Com Veríssimo acontecia
    O melhor pela didática
    O educando queria
    Com fruição literária
    Aula extraordinária
    E todo mundo aprendia

    9.
    Seus romances eu também lia
    Nunca me decepcionei
    Que grande criatividade
    Eu sempre assim me expressei
    Você nunca vai morrer
    Continuará a viver
    Ainda bem que te encontrei

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    1. Excelente, Heraldo, seu resumo ou versão em versos de minha experiência! Palmas. - Gilberto Cardoso

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