terça-feira, 21 de dezembro de 2021

FRACASSOS DO AGRICULTOR - Poeta Daxinha

 


FRACASSOS DO AGRICULTOR


I

Quero falar dos fracassos

Do homem trabalhador

São problemas diferentes

Dependendo do setor

De todos o mais complicado

É do trabalhador alugado

E do pequeno agricultor.

II

Homem que entra na mata

De sol a sol como louco

Corta pau, faz coivara,

Broca mato, arranca toco,

Pensando numa colheita

Perde o sono quando deita

E se dorme é muito pouco.

III

Chega o mês de cair chuvas

Ele acunha a enxada

Passa a noite na janela

Pra ouvir a trovoada

Sem chuvas pra nenhum canto

Faz promessa, rouba santo,

Pra cair uma chuvada.

IV

Finalmente chega a chuva

Ele corre e vai plantar

Canta, assovia contente,

Nem para pra descansar

A lavourinha nem cresce

O passarinho aparece

E já começa a arrancar.

V

Ele faz uns espantalhos

Grita o pássaro, se maldiz,

A lavourinha crescendo

Começa a limpar feliz

Um dia ele se espanta

Com a rosca cortando a planta

Bem no pezinho da raiz.

VI

Começa logo a replanta

Tira os cereais da lata

A chuva não vem no tempo

A lavoura se maltrata

Para de ouvir trovão

Faz uns dias de verão

E chega a peste da lagarta.

VII

É a lagarta comendo

E a seca judiando

Ele vai limpando o mato

E a lavoura esperando

Aí a formiga ingrata

Faz um caminho na mata

E passa a noite derrubando.

VIII

Carrega toda a lavoura

Pra dentro do formigueiro

Vem o porco do vizinho

Quando arromba o chiqueiro

Fuça com a tromba de aço

E o preá come um pedaço

De preferência no aceiro.

IX

Vem a vaca do vizinho

Pula a cerca do cercado

Vai direto pra lavoura

Faz um estrago danado

O boi manso arranca o toco

De tudo ele come um pouco

E amanhece enganchado.

X

O jumento do compadre

Dá um jeito e quebra a corda

Vai direto pro roçado

Come pra ver se engorda

Deixa um estrago tão feio

Ainda se espoja no meio

Caga, mija, pinta e borda.

XI

O algodão prometendo

Dar uns capuchos graúdos

Chega um besourinho preto

Com um bico fino e agudo

Come tudo num segundo

Não há remédio no mundo

Pra combater o bicudo.

XII

O pobre do agricultor

Em situação precária

Enfrentando os inimigos

Que perseguem sua área

Vai, aos trancos e barrancos,

Pagar juros altos aos bancos

Com correção monetária.

XIII

Começa a colher a safra

Mais outra decepção

O rato comendo a fava

O gorgulho no feijão

O milho todo furado

E o bicudo no roçado

Derrubando o algodão.

XIV

São esses os grandes fracassos

Que passa o agricultor

Mas, entre todas as pragas

Que sugam o trabalhador,

Tem um pior do que tudo,

Que a formiga, que o bicudo,

Que é o atravessador.


Autor: JOSELITO FONSECA DE MACEDO, vulgo, DAXINHA.


11/05/1987

JOSELITO FONSECA DE MACEDO, mais conhecido como poeta Daxinha, nasceu em Cuité/PB, em 14/08/1938. Filho de José Adelino de Macedo e Maria Marieta da Fonseca, nasceu na zona rural de Cuité, mais precisamente no Sítio Boa Vista do Cais, popularmente conhecido como Sítio Pelado. Aos 20 anos, viajou para os estados de Minas Gerais e Goiás, onde trabalhou como agricultor e vaqueiro. Mas foi no estado de São Paulo que se fixou, trabalhando como metalúrgico nas principais usinas siderúrgicas da região do ABC paulista. Retorna à Paraíba em 1985, retomando suas funções de agricultor. Sempre gostou de poesia, sobretudo, do gênero cordel no qual, ainda menino, já escrevia seus primeiros versos. O retorno a Cuité aproximou-o ainda mais de suas raízes, fazendo-o mergulhar com mais fervor no mundo da poesia. Sempre convidado a se apresentar em eventos culturais da cidade, seus versos focavam, principalmente, no cotidiano das pessoas simples – como ele mesmo o era. Tem como obras publicadas um CD de poesias intitulado: “Poeta Daxinha – Um Amante da Poesia”, o cordel “O batente de pau do casarão” e uma participação póstuma no livro “APOESC em Prosa e Verso”, do também poeta Gilberto Cardoso dos Santos. Casado, pai, avô e bisavô, o poeta Daxinha faleceu em 04/05/2016, em Campina Grande/PB, vítima de insuficiência cardiorrespiratória. (Jaci Azevedo, filha)

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