terça-feira, 19 de dezembro de 2017

DOIS POEMAS DE KEL (Cledemilson de Carvalho)

I
No berço braquial e mamas,
Esguia e pálida criança,
Dormia aguardando o sono eterno.

Já nascera com olhos corrompidos,
Sua boca em leporinos lábios,
Seus pequeninos pés torcidos,
Não supria a ausência dos braços.

Com ânsia de vômito comia,
Não demonstrava o comportamento inato,
Do sugar dos mamilos maternos.

Desde sua data natalícia,
Não despertava nas visitas,
Gentil esperança de vida amarga.

Em terra tão árida sofrida,
Qual criança assim nascida,
Pode vencer a força de um deserto?
Cledemilson de Carvalho



II
Também carrego minhas mágoas,
Lágrimas ressecadas de carmim,
Feridas abertas, desejos reprimidos,
Não vejo, almejo sonhos encardidos.

Também carrego pesadelos,
Um sono temperado de fraqueza e azia.
Um telhado furado, uma rede rasgada.
Noite de chuva, enchente, trovoada.

Também carrego minhas lágrimas,
Escondidas por trás de um sorriso,
Do silêncio, da obediente esperança,
No cavalheiresco mimo da última dança.

Também carrego meus fantasmas,
De erros, de rancor, de medo e terror.
Vívidas vivências insignificantes,
Vagando entre pensamentos vagos, errantes.

Não que seja, ou mesmo insensível fosse,
Pelo julgar dos olhos amaldiçoados;
Entregue ao tribunal dos carniceiros,
E condenado por infantes justiceiros.

Por fim, a pena nos ombros fracos cairia,
Materializada na dor muscular intermitente,
No grito surdo estremeceria,
A carne magra de um doente.

                        Cledemilson de Carvalho


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